Eu juro que não faço de propósito. É que eu sou assim mesmo, um cara meio esquisito. Digo isso porque, sempre que volto a conversar com o Cassius Pucci Cordeiro, diretor de fotografia do meu curta-metragem (Espelho), ele se recorda dessa história. A questão é que eu queria uma iluminação XYZ para nosso filme, cujo desenrolar tem como único cenário uma sala de cinema. Não poderia ser uma sala muito escura – um cinema sempre tem luz suficiente para sensibilizar nossos olhos e a câmera nunca é tão sensível quanto -, mas tampouco poderia ser iluminada a ponto de sumir com a luz do projetor. Seria necessário ver as pessoas com nitidez sem perder o efeito de contraluz da projeção. Então, claro, começamos a pesquisar filmes que mostrassem salas de cinema. E apenas dois dias antes da filmagem, finalmente pude dizer ao Cassius: “Meu, encontrei a iluminação exata, do jeito que eu quero!”
“No Cinema Paradiso?“, perguntou ele.
“Não, no Bob Esponja – o filme.”
“Ce tá curtindo com a minha cara…”
“É sério, Cassius. No final do desenho animado, há uma mistura de cenas reais e animação. Quando o Bob Esponja e o Patrick morrem secos, o plano recua para dentro duma sala de cinema na qual há um bando de piratas assistindo ao filme. Essa cena é feita com atores. Eu achei aquela iluminação ideal: há uma luz frontal fixa, ligeiramente amarelada, e um brilho azulado em torno das pessoas, criado pelo projetor, que obviamente é fake. Perfeito!”
Ele ficou me encarando com uma expressão irônica: “Eu pensei que você ficava em casa assistindo ao Antonioni ou, sei lá, ao Kurosawa e você vem me falar de Bob Esponja?”
É que eu sou uma cara assim, sabe, meio esquisito. (É o que eu deveria ter dito.) Mas, como diretor, preferi colocar a produção atrás do tal DVD esponjoso. Acho que o resultado será positivo.