blog do escritor yuri vieira e convidados...

Categoria: Viagens Page 26 of 38

Caverna

Nunca me esqueço de certa passagem da Autobiografia de um Iogue Contemporâneo, de Paramahansa Yogananda. Ele conta que, aos 14 anos, fugiu de casa com o intuito de ir até o norte da Índia encontrar certo guru famoso e, sob orientação deste, pretendia internar-se numa caverna do Himalaia para meditar sobre o amor de Deus. Driblou a polícia, viu seu colega de fuga desertar do empreendimento e, após dias de caminhadas e buscas, achou o tal guru. Este, após ouvir as ansiosas súplicas do garoto, apenas perguntou: “Você tem um quarto só seu na casa dos seus pais?” Tenho, respondeu Yogananda. “Então, volte para lá, sente-se e medite. Seu quarto é a sua caverna.” Parece que ele tinha razão…

Jorge Porcel

Jorge Porcel
Em Alto Paraíso, encontrei duas argentinas a quem perguntei como andava o Gordo Porcel. Elas se espantaram muito: como é que eu conhecia o Gordo Porcel?! Logo eu, um brasileiro!… Bom, mas eu o conheço sim e gostava muito de vê-lo na TV. Jorge Porcel era – segundo elas me disseram, agora vive em Miami – o Jô Soares da Argentina. Tinha também um programa muito parecido com o Viva o Gordo, com quadros cômicos, bailarinas semi-nuas e coisas do gênero. O esquete que eu mais curtia era o da Tota, uma personagem que ele mesmo fazia, travestido como uma enorme matrona descendente de italianos de uma periferia qualquer de Buenos Aires. Tota recebia uma amiga, a Porota – um ator magro (Jorge Luz) também travestido – e ficavam ambas fofocando sobre os acontecimentos políticos. Engraçadíssimas! Duas comadres bocomoco, cheias de bobes, solteironas ou viúvas, lamentando-se. Aliás, os melhores programas humorísticos que vi na TV equatoriana eram argentinos. Mas só falei disso tudo porque, neste momento, está passando na Globo o filme “Pagamento final” com Al Pacino e… Jorge Porcel(Saso)! Bravo, Gordo!

Patente

Falcon
Fico bastante chateado quando me lembro que, hoje, eu deveria ser um milionário. Explico: em fins dos anos setenta, eu costumava atirar meu Falcon pela janela do quarto – morávamos num sobrado em São Paulo – com as pernas presas a um elástico comprido, o mesmo que meu pai usava para impulsionar seu aeroplano (um aeromodelo sem motor). Se eu soubesse que, mais tarde, o tal bungee jump viraria um esporte radical, teria patenteado minha invenção e, agora, bem, agora estaria montado na nota. Como toda invenção, essa também nasceu de uma preguiça: eu não agüentava mais descer as escadas para buscar meu Falcon cada vez que o fazia saltar de pára-quedas. E, quando um dia o pára-quedas não abriu, vi que o vai-e-vem do elástico era muito mais divertido. Será que, caso eu encontre uma foto da época, ainda poderei registrar a tal patente? Poderei? 🙁

Província

Continuo procurando loucamente uma cópia da carta “From New York to Paulo Francis”, escrita pelo Glauber Rocha, aliás engraçadíssima, na qual ele explica porque Nova York é, como toda grande cidade, um mero agrupamento de cidades do interior, de tribos e pequenas províncias. Depois ele fala de grandes criadores que nunca botaram o pé fora de seus países e da roda-viva dispersante que tais viagens podem efetivamente ser. Se alguém tiver uma cópia dessa carta, por favor, me envie porque há anos não consigo encontrar a que eu tinha. Sempre achei o Glauber melhor escritor que cineasta.

Interiorrrrr

Estou pensando em me mudar para o interior. Depois de São Paulo, Brasília e Goiânia – sem falar das minhas curtas viagens ao exterior – pude perceber que o planeta INTEIRO é uma grande província, não importando que seja Hong Kong, Rio ou New York. Se não sou conhecedor direto, por exemplo, de países de “primeiro mundo”, ao menos conheço muitos de seus representantes. E a conclusão é: terráqueo é sinônimo de caipira. Parisiense? Caipira. Nova-iorquino? Redneck. É foda ser de outro planeta – para não dizer do mundo da lua – e, ao mesmo tempo, apaixonado pela Terra. Acredite: estamos no Capão Redondo do Cosmos, na Quixeramobim do Universo, todos nós, brancos, amarelos, roxos ou negros.
Quanto à mudança, estou pensando em Alto Paraíso de Goiás – ao norte de Brasília, na Chapada dos Veadeiros – ou em algum lugar no litoral. Sugestões? Tudo o que quero é paz para escrever, amor para viver, e dor natural para suportar. Chega de abismos abstratos. Claro, se surgir uma diplomata para me levar mundo afora, aceito. Não seria ruim bancar o Clariço Lispector de má qualidade…

O Sr. Jorge Recóndito

O Sr. Jorge Recóndito é o cara mais chato, depressivo, negativo, sardônico e mal-humorado que eu conheço. Nos dias em que ele vem me visitar – puts! – ele me deixa arrasado. Hoje apareceu por aqui chutando os gatos da casa. Não consegue aceitar bichinhos que não sabem senão comer, ronronar e se meter por entre as pernas dos que caminham cheios de raiva contra as circunstâncias. Sim, o Sr. Recóndito já tentou o suicídio duas vezes. Com uma arma e com o zen-budismo. Este último quase logrou matá-lo, mas não foi possível: o Sr. Jorge Recóndito, embora culto, é casca grossa. Como poderia lhe agradar a idéia de atirar seu ego no vazio se tudo o que mais quer é que lhe prestem culto?

Droga pesada

O café tornou-se, para mim, uma droga das mais pesadas. Não posso tomar uma xícara sequer, diante da Internet, que já começo a enviar emails idiotas para Deus e o mundo. Bem-feito pro Yuri, quem mandou ele exagerar nas experiências psicodélicas? Subir uma escada em casa, depois de haver escalado dez picos no Nepal, dá uma canseira dos diabos…

Para sempre?

O único lado positivo de uma doença incurável é que ela nos faz colocar em xeque a hipótese de que durará para sempre. Afinal de contas, pensa o enfermo, o que quer dizer esse para sempre? Até o fim da vida? E até onde vai a vida? Até o término do corpo?… Não, conclui, minha doença é incurável, mas não durará para sempre…

Cuma?

Deixa ver se eu entendi: os índios de Roraima querem reservas na forma de pequenas “ilhas”, objetivando não expulsar fazendeiros, cidades e escolas próximas. Um de seus representantes afirma que eles, os índios, “não querem voltar à idade da pedra”, querem manter o contato com a civilização, prosperar. Mas o governo federal enviará o exército para garantir que a reserva será uma enorme área apenas com índios, sem essa história de ilhazinhas… Humm… O governador do estado é contra essa atitude do governo federal, o prefeito do município local também e, segundo consta, idem os fazendeiros e demais habitantes não-indígenas. Ou seja, apenas o governo federal tem voz nessa história toda, e a imporá pela força, isto é, o povo X ESTADO. Significará isto que o totalitarismo, após invadir certas almas, começa a agir pelas bordas?

Pynchon e Morrison

Um dos boatos mais doidos que já ouvi — na verdade, meu boato predileto — é esse que afirma serem Jim Morrison e o escritor Thomas Pynchon a mesma pessoa. Veja o que diz a esse respeito o verbete do livro de Edson Aran, “Conspirações – Tudo o que Não Querem que Você Saiba“:

“O líder dos Doors, Jim Morrison, morreu em 3 de julho de 1971, em Paris. Mas:

1. Três dias antes da ´morte´, Morrison visitou o próprio túmulo, que ele havia comprado alguns meses antes, no cemitério Père Lachaise.
2. Ninguém viu o corpo. Quando Bill Siddons, empresário do grupo, chegou ao apartamento de Morrison, o caixão já estava lacrado.
3. Pamela Courson, viúva do roqueiro, mostrou uma certidão de óbito assinada por um médico desconhecido. Ela disse que estava muito transtornada para perguntar o nome do médico que, apesar da notoriedade do defunto, preferiu ficar no anonimato. Até hoje.
4. A causa da morte foi ataque cardíaco, mas a polícia não fez autópsia no corpo, prática incomum na França.
5. Quando o baterista do grupo, John Densmore, visitou o túmulo do colega, não conteve a surpresa: ´Mas é pequeno demais!´.
6. Testemunhas afirmam que viram Jim Morrison andando tranquilamente por Paris. Dois anos depois da sua morte. E um certo James Douglas Morrison abriu uma conta no Bank of America, de São Francisco, de onde transferiu grandes somas para a Dinamarca.

Mas por que Jim Morrison teria forjado a própria morte? Simples. O Rei Lagarto se sentia velho demais para o rock´n´roll, mas novo demais para morrer. Embora fosse um popstar milionário que comia toda a mulherada, ele, no fundo, queria ser um escritor pobre que não come ninguém. Preferiu se fingir de morto e tentar a carreira literária numa outra encarnação. Conspirólogos mais doidões dizem que Morrison é o escritor Thomas Pynchon, autor de Vineland, O Arco-íris da gravidade e O Leilão do Lote 49. Pynchon não se deixa fotografar nem dá entrevistas. É a prova que faltava.”

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