O Garganta de Fogo

blog do escritor yuri vieira e convidados...

Censura ou Direito Privado?

Vale reproduzir o artigo do Paulo Coelho, esta semana na Folha, a respeito do acordo entre o Rei, a Editora Planeta e o jornalista Paulo César Araújo, do qual resultou a retirada de circulação do livro “Roberto Carlos em Detalhes”.

Não li o livro, fã do Rei que sou, andei folheando o exemplar de uma amiga, e não vi nada de mais que pudesse suscitar mais esta esquisitice de Roberto Carlos. Ao contrário, o trabalho parece resultado de uma investigação aprofundada e cuidadosa, muito longe de um livro sobre as intimidades ou exclusivamente sobre a vida privada do músico. Ao contrário, contém fatos e análises que realmente iluminam de forma interessante muitas de suas composições e a história da MPB. É claro que também fala de coisas privadas, mas isso não é o seu foco.

Como Paulo Coelho, continuarei a comprar e a ouvir seus discos, mas acho despropositada a ação judicial movida. Não questiono a vontade do Rei de preservar sua imagem ou não se expor, mas o método e seu resultado. Que os processasse por calúnia ou danos morais, mas aparentemente a ação não teve nada a ver com isso.

E vocês, o que acham? Que o Paulo Coelho está errado pois se trata de um acordo privado e que, neste sentido, se todas as partes estão felizes, ninguém tem que falar nada? Ou que se trata de uma atitude perigosa por carregar algo de censura e ataque à liberdade de expressão?

Saída de emergência

Caramba, tive de subir quase todos os arquivos de áudio do nosso podcast para o Archive.org ou, do contrário, ficaríamos com o site bloqueado. Depois que saiu a matéria sobre podcasts literários no Portal Literal, a taxa de consumo de banda do Karaloka subiu às alturas. Nesse aspecto, apenas os primeiros dois dias de Maio já bateram todo o mês de Abril!! Dá pra imaginar? Se não dá, veja: uma página deste blog tem, em média, entre 60Kb e 100Kb de dados; o podcast possui arquivos que variam de 5Mb a 40Mb. Os dois Loudmess, do Paulo Paiva, tem 37Mb cada um. Ou seja, uma única pessoa que por ventura ouça um deles equivale a 616 pessoas lendo uma página de 60Kb. Sacou? Podcast é bacana, mas não vale a pena hospedar os arquivos mp3 no nosso site não. E olha que nosso limite de transferência de dados é de 40Gb. Na velocidade que a coisa ia não chegaríamos nem ao final desta semana…

Bom, aproveitei o ensejo e dei uma atualizada no podcast, que estava sem a entrevista que fiz com o André Abujamra e o mais recente bate-papo com o Olavo de Carvalho.
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Podcast no You Tube

Eu sei que o som pode não ficar dos melhores, mas a melhor maneira de divulgar seu podcast é, segundo minha própria experiência, colocando-o no You Tube. Não há como fugir deste fato: as pessoas valorizam, em primeiro lugar, aquilo que tocam com os olhos. Por isso, o You Tube é, digamos, o mainstream da web2.0. Os podcasts que venho colocando no You Tube, em companhia de apenas dois vídeos, já foram ouvidos, do final do ano passado até hoje, 63.375 vezes. Se eu dependesse apenas do Odeo, por exemplo, que é um dos melhores sites para podcast que conheço, o meu Segundo Bate-papo com Olavo de Carvalho teria sido ouvido apenas 111 vezes. Mas, no You Tube, o mesmo bate-papo já foi ouvido 16.272 vezes. Deu pra notar a diferença? É uma forma de o som pegar carona na fixação que todos têm pela imagem. Os sites de podcasts não são tão acessados. E as pessoas não se incomodam se visualmente o podcast travestido de vídeo apresenta apenas fotos e ilustrações. Se o assunto for interessante, irão ouvi-lo. E sempre se pode, ao invés de se colocar imagens ilustrativas, usar a parte visual para divulgar o link do podcast original. E se alguém reclamar que não pode baixar o arquivo, disponha os arquivos de áudio através do Archive.org, conforme venho fazendo.

Sí­lvia Pfeiffer, da Aeromí­dia

Fiquei umas duas ou três semanas envolvido com a pré-produção do meu curta-metragem, o que me afastou das notícias quentes de última hora, e acabei postergando a alimentação do meu perene estado de espanto. O Brasil não é – como diz o José Simão – o país da piada pronta, mas o país do senso moral inexistente. O que me assusta não são essas novas revelações, mas a total atonia da sociedade perante tudo o que vem rolando… morro abaixo. Talvez seja esta a técnica de esquiva utilizada por esse governo corruPTo: “aumente os impostos, deixe todos muito ocupados a nos bancar, trabalhando de sol a sol, e eles sequer terão tempo para se inteirar do que vem ocorrendo”.

As denúncias da empresária Sílvia Pfeiffer envolvem amigos do Lula (Valter Sâmara), a secretária do Lula (Mônica), os petistas de sempre (José Dirceu, Marcos Valério, Duda Mendonça, etc.), toda a diretoria da INFRAERO (Eleuza Therezinha Lopes, Eurico José Bernardo Loyo, Fernando Brendaglia, etc.), o ex-presidente da INFRAERO (Carlos Wilson), o Ministro da Agricultura (Reinhold Stephanes), o ex-prefeito de Curitiba (Cássio Taniguchi), empreiteiros, arquitetos, publicitários, deputados, etc., etc. Todos metidos num daqueles esquemas de corrupção, Caixa 2, desvio de divisas e obscenidades do gênero, que, segundo ela, ainda estão em funcionamento. Ô país podre, é de dar nojo. Fica cada vez mais fácil discernir que tipo de literatura esse paiseco precisa.

A matéria é da revista Isto É #1956 e a entrevista pode ser lida aqui. Se preferir, baixe o arquivo em doc.

Nada ainda

Pois é, Jan Val Ellam, findou o mês de Abril e o Kara nada, nem um email a desmarcar a chegada anunciada. (Apenas torpedos espirituais.) De fato, ninguém sabe o ano, o mês, o dia, a hora, o…

“No Brasil, cinema não é indústria, é arte”

Resposta ao comentário do escritor Wilson Mello, que me indagou se vale a pena entrar no mercado cinematográfico enquanto roteirista:

Wilson, meu caro, não sei não. Se o frenesi de narrar está em seu sangue, vá em frente, escreva roteiros. Mas, conforme venho dizendo, se a situação do Brasil continuar a mesma por muito tempo, desista de ganhar dinheiro com isso. Eu mesmo sou um maluco que nunca – NUNCA – conseguiu juntar dinheiro. E que acha que vai morrer à maneira do pedinte Henry Miller, isto é, vizinho de alguém como Ronald Reagan. Doido, claro.

Há uma chamada ridícula no Canal Brasil e nos Telecines (NET) que afirma, cheia de orgulho e pompa, esta pérola: “Cinema no Brasil não é indústria, é Arte”. Ahahaha. Porque não há dinheiro aqui – está todo nas mãos do Estado – e tudo tem de ser feito basicamente com força de vontade, os caras acham isso lindo, é arte. Só que os profissionais de cinema, se quiserem aprimorar sua técnica e manter sua família, precisam ganhar seu sustento regularmente – e recorrem à indústria da publicidade. Prefeririam ir todas as semanas a um estúdio de cinema gravar ficção – seria melhor para a auto-estima de cada qual – mas, para pagar a escola dos filhos, as contas, a comida, ficam com a única indústria capaz de mantê-los. É simples assim. Os caras acham que a mediocridade da grande maioria dos filmes americanos se deve ao fato de eles, americanos, serem capazes de produzir filmes em escala industrial. Mentira. A maior parte do que se produz é medíocre porque o gênio é exceção e não regra. A maior parte dos cineastas do mundo – do MUNDO – são medíocres porque esta palavra significa apenas “mediano”, “comum”, “ordinário”. Se todos fossem gênios, essa palavra (gênio) nem existiria, seria anulada pela falta de contraste conceitual. A melhor prova para o que estou dizendo é que, no Brasil, onde o cinema é “arte” (ahahaha, lá fora ele não é), ou seja, é produzido aos trancos e barrancos, a qualidade média dos filmes é medíocre, o que é até redundante de se dizer, já que os termos “média” e “medíocre” tem a mesma raíz. Neguinho não se toca de que o vocábulo “indústria”, antes de se referir à produção em grande escala através de “linhas de montagem”, a essa coisa não-artesanal, significava “atividade”, “invenção”, “perícia”, “engenho”, “aptidão”. A indústria é necessária não para os nossos diretores egoístas, mas para sua equipe técnica, que precisa se aprimorar e sobreviver. (O Cassius Pucci, que foi diretor de fotografia do meu curta-metragem, me disse: “é por causa desse estresse de gravar tudo num dia só que acabo fazendo um único curta por ano”. Se houvesse indústria, haveria horários, um trabalho como qualquer outro.) O diretor pode sobreviver sem a indústria, mas não vai pra frente sem a equipe, que é o corpo que gera seu filho, sendo ele meramente a cabeça. Há poucos filmes excelentes, no Brasil, porque boas cabeças se vêem sem chance de entrar na $onda$ do cinema. Imagine uma praia cheia de surfistas e com pouquíssimas ondas. Em geral, não será o melhor surfista aquele que pegará a melhor onda, mas o que souber dar mais cotoveladas. É assim o cinema-arte brasileiro. E essas cotoveladas muitas vezes são sutis, tipo “quem indica”, “filho de quem?”, “ideologia tal”, “escrúpulos zero para captar dinheiro” e assim por diante.

Se quer ganhar dinheiro com roteiros, Wilson, procure uma indústria. A única que temos é a publicitária. Se quer fazer “arte”, vá colocando-os num site, registrando-os na Biblioteca Nacional e anunciando a empreitada aos nossos cineastas, que são muitos e que, por mais que neguem, não sabem escrever bons roteiros e precisam de alguém que o saiba. Ah, outra coisa: não escreva sobre política no seu site, não faça como eu. Do contrário atrairá sobre si mais antipatias que simpatias e os tais cineastas nem se darão ao trabalho de perceber que vc poderia fazê-los ganhar prêmios. É isso.
Boa sorte, abraço
Yuri

Tiro ao alvo (versão chinesa)

Encontrei este vídeo no Saindo da Matrix. Um cinegrafista romeno, juntamente com outros montanhistas europeus, depara-se na área próxima ao Everest com um espetáculo que, pelo comportamento fleumático das vítimas, há de ser rotineiro: soldados chineses de fronteira abatem peregrinos tibetanos. (“Muro?”, devem pensar os comunistas chineses. “Muro para quê? Chumbo é mais barato…”)

Nosso podcast no Portal Literal

A jornalista Priscilla Brossi Gutierre, do Portal Literal (Terra), publicou a matéria Literatura para os ouvidos, que cita nosso podcast.

A luz do Bob Esponja

Eu juro que não faço de propósito. É que eu sou assim mesmo, um cara meio esquisito. Digo isso porque, sempre que volto a conversar com o Cassius Pucci Cordeiro, diretor de fotografia do meu curta-metragem (Espelho), ele se recorda dessa história. A questão é que eu queria uma iluminação XYZ para nosso filme, cujo desenrolar tem como único cenário uma sala de cinema. Não poderia ser uma sala muito escura – um cinema sempre tem luz suficiente para sensibilizar nossos olhos e a câmera nunca é tão sensível quanto -, mas tampouco poderia ser iluminada a ponto de sumir com a luz do projetor. Seria necessário ver as pessoas com nitidez sem perder o efeito de contraluz da projeção. Então, claro, começamos a pesquisar filmes que mostrassem salas de cinema. E apenas dois dias antes da filmagem, finalmente pude dizer ao Cassius: “Meu, encontrei a iluminação exata, do jeito que eu quero!”

“No Cinema Paradiso?“, perguntou ele.

“Não, no Bob Esponja – o filme.”

“Ce tá curtindo com a minha cara…”

“É sério, Cassius. No final do desenho animado, há uma mistura de cenas reais e animação. Quando o Bob Esponja e o Patrick morrem secos, o plano recua para dentro duma sala de cinema na qual há um bando de piratas assistindo ao filme. Essa cena é feita com atores. Eu achei aquela iluminação ideal: há uma luz frontal fixa, ligeiramente amarelada, e um brilho azulado em torno das pessoas, criado pelo projetor, que obviamente é fake. Perfeito!”

Ele ficou me encarando com uma expressão irônica: “Eu pensei que você ficava em casa assistindo ao Antonioni ou, sei lá, ao Kurosawa e você vem me falar de Bob Esponja?”

É que eu sou uma cara assim, sabe, meio esquisito. (É o que eu deveria ter dito.) Mas, como diretor, preferi colocar a produção atrás do tal DVD esponjoso. Acho que o resultado será positivo.

Igreja também é Cultura

Como disse o Yuri, era só que faltava.

Não bastasse a produção cultural nacional ser viciada em incentivos fiscais, assim como o esporte, com todos os problemas e dificuldades que isso acarreta, agora os evangélicos resolveram também crescer o olho pra cima dos recursos da viúva.

O ímpio senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), aquele da Universal do Reino de Deus, apresentou projeto de lei no Senado, que inclui as igrejas entre os beneficiários da Lei Rouanet. A justificativa é a de que “nada expressa melhor a formação de nossa cultura que o caldeamento das diversas religiões, seitas, cultos e sincretismos que moldaram o processo civilizatório nacional” — explica o senador, que é sobrinho de Edir Macedo.

O projeto está em discussão na Comissão de Educação do Senado. Se aprovado, segue para o plenário e posteriormente para a Câmara dos Deputados.

Aqui o link para a notícia do Globo.

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