blog do escritor yuri vieira e convidados...

Mês: maio 2008

Sobre luz e trevas

O Supremo Tribunal Federal liberou, recusando a ação direta de inconstitucionalidade contra Lei de Biossegurança, o uso de células-tronco para pesquisa científica. Segundo a Lei, os embriões utilizados deverão ser inviáveis, estar congelados a mais de três anos e o processo deverá ter a anuência do casal responsável pelo embrião. A Lei também veta a comercialização de material biológico para a realização de pesquisas. O placar foi de seis votos contra cinco. Discutiu-se também a criação de uma instância que fiscalize as pesquisas, mas o Governo Federal informou prontamente aos ministros que da conta do recado. Entretanto, a institucionalização de um tipo de controle deverá ser transformada em lei.

É uma vitória da racionalidade.

Não é, entretanto, uma derrota da Igraja Católica ou da vida, mas de um gurpo cujos argumentos se sustentam numa lógica, no mínimo, “fuzzy”.

Abortando a pesquisa…

Embora a maioria dos ministros do Supremo neguem que o debate travado pela liberação das pesquisas de células-tronco embrionárias seja sobre aborto – e insistem que essa discussão é pautada pela Igreja – um deles, Celso de Mello, aprofunda racionalmente a questão e levanta a dúvida:

Vocês sabem, resisti muito a ligar uma coisa a outra. Para mim, no próprio voto de Britto havia uma manifestação antiaborto, quando ele lembrou que o embrião, no útero, sem intervenção, resulta num novo ser. Estava enganado. O aborto, para alguns, está em votação!

A questão agora é sobre as restrições propostas pelos ministros. Segundo os cientistas que desejam a liberação das pesquisas, tais restrições as inviabilizam. E por quê? Porque propõem-se liberar as pesquisas, desde que os embriões não sejam destruídos.

Assim, admitindo que há dúvida quanto ao início de uma vida, que não faça nada, então. Porque na dúvida entre a possibilidade de matar ou não alguém, o que você faria?

Enfim, é um avanço no debate de idéias no Brasil, discutir o assunto claramente. Discute-se, em questão, o aborto, não o estudo de células-tronco. E isso não tem nada a ver com religião, mas de princípios do Direito Constitucional.

O Governo Britânico e os OVNIs

Não, não é um link para o site da revista Planeta ou quejandos. É o site do National Archives, o órgão oficial britânico responsável por guardar e preservar todos os documentos do governo. Eles agora abriram os arquivos oficiais sobre o avistamento de OVNIs nesses últimos anos.

Pronto. Isto é pelo meu pai, que adora o assunto, e pela Hilda Hilst, que também adorava.

O Roqueiro Burocrata

Baseado em argumento de Maurício Gouvêa

O Roqueiro Burocrata não começou como burocrata. Ele era muito jovem — treze anos — quando ganhou sua primeira guitarra. Mas já era audacioso. Não comprava revistas com as cifras das canções. Achava que era questão de honra tirá-las de ouvido. Depois já não comprava discos. Queria memorizar os acordes na primeira audição. Nem sempre conseguia, mas fazia progressos vertiginosos, isso era fato.

Quando começou a tocar nas festas de amigos, não aceitava dinheiro. Queria apenas o beijo da garota mais bonita, aquela que sabia interpretar seus olhares e esperar até o fim da festa para ficar com o geniozinho da guitarra. Ele ganhava os beijos, ela ganhava a inveja das amigas. Mas nessa época ele ainda não cantava. Seu coração se apertava quando ele tentava cantar o amor. Sentia que algo dentro dele ainda não era grande o bastante para querer transbordar. Foi só depois do primeiro grande fora — só depois que a mulher mais linda do mundo preferiu um advogado de terno e gravata e contracheque — que ele aceitou que o amor afinal não era assim tão nobre para exigir mais que sua humilde voz. E o curioso é que, depois disso, sua voz melhorou e se elevou à altura do amor. É o mistério da beleza: ela só se entrega a quem se descobre infinitamente menor que ela.

E foi assim que o Roqueiro Burocrata — naquela época ele ainda não era burocrata — se tornou o melhor roqueiro do mundo. Quando ele cantava, era o mundo que cantava a si mesmo pela sua voz. Quando ele tocava, era o que sobrava do mundo que encontrava lugar na sua guitarra. E nada passava indiferente à voz e às mãos do Roqueiro Burocrata, e ele era o melhor, embora só quatro pessoas soubessem disso: seu amigo Lucas, o Carlos, o Marcos Flávio, que era dono do estúdio onde eles gravavam, e a filhinha do Marcos Flávio, que ficava com o papai enquanto ele mixava as gravações. E mais umas cinco ou seis pessoas sabiam do fato quase secreto: eram as pessoas que compraram seu primeiro disco e jamais viram sua cara, nem tinham a menor vontade de conhecê-lo, mas simplesmente sabiam, como sabemos o que é um sorriso e o que é a chuva, que ele era o melhor do mundo no que fazia.

Mas algo obscuro se passou na alma do Roqueiro Burocrata — talvez a falta de dinheiro, talvez outro tipo de desesperança — e ele começou a pensar que o sucesso não era uma questão de ser o melhor. O sucesso tinha algo a ver com contratos, horários, camarins com banheiras e ar condicionado, gravadoras que investiam 30 por cento em publicidade, direitos autorais e turnês. E a música não era mais o único lugar onde ele reencontrava sua fé. A música era um dever de casa que ele fazia em troca do seu quinhão de mundo.

E todos passaram a ouvir o Roqueiro Burocrata. Todos, menos aqueles cinco que haviam comprado seu primeiro disco e sabiam que ele era o melhor do mundo. Agora ele era conhecido do mundo, mas era apenas mais um. E o curioso é que ele mesmo não notara a diferença, porque quando subia no palco, e cumpria seu dever profissional, as pessoas que estavam no show também queriam apenas cumprir algum protocolo. Estavam ali para agradar ao namorado, para esquecer os pais, para encontrar os amigos, para aproveitar a promoção de assinante de jornal, para usar os ingressos que haviam ganhando na campanha da empresa, enfim, tinham ido ali por qualquer motivo, menos pela música. E o Roqueiro Burocrata também não tinha ido lá para fazer música. E de fato sua música não encontrava os ouvidos de ninguém, e quando tudo acabava, ele ligava para a mulher e dizia: “Terminamos mais um amor; em breve poderei voltar para casa.”

E foi assim que o Roqueiro Burocrata deixou de ser músico e se tornou apenas um roqueiro burocrata. Mas até hoje ninguém notou a diferença. Nem mesmo ele.

Metrô — 19

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Estação Clínicas, São Paulo

Metrô — 18

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Estação Sé, São Paulo

Joss Stone – “Son of a Preacher Man”

Oh, my God!!!

Carta a uma jovem suicida

O texto que virá mais abaixo é minha resposta ao seguinte comentário:

A new comment on the post #3306 “Amigos suicidas” is waiting for your approval:

Author : Jane (IP: 189.94.67.32 , 189.94.67.32)
E-mail : minina_jane@[XXXXXXX]
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Comment:
Há alguns dias, me acometi de uma tristeza imensa…
Domingo dia 27 de abril eu resolvi, me vi com minha família completa e quis levar aquela imagem feliz, tomei uns anti-depressivos muito fortes, ouvindo uns flash backs, com copos e mais copos de um bom vinho, me senti leve e fui adormecendo e achei que seria o fim, em minhas mãos só escrevi tudo em letras maíusculas, pedindo PERDÃO a meus pais, na tarde do dia seguinte, me vi em um hospiral com minha mãe com o mesmo sorriso que creio eu que tenha sido o mesmo ao qual ela me viu pela primeira vez, hoje me sinto melhor, estou na minha casa meu pai reagiu de uma forma calma, só que não sei se ainda tenho certeza que vou continuar com minha vida !!!

Carta a uma jovem suicida

Cara Jane, eu tenho andado com uma preguiça de rachar o chão tanto no que se refere a escrever neste blog quanto a responder a comentários em geral e a provocações bobas de listas de discussão. Mas este seu comentário no blog — assimilado junto com o café forte que acabo de fazer — me causou um sentimento de urgência pungente. Talvez eu até precise dar uma pausa para ir ao banheiro, entende?, mas… enfim. Você está realmente pensando em se matar? Quer mesmo tentar de novo? Bom, tenho então algumas coisas a lhe dizer:

Albert Hofmann e Alex Grey

Dia 29 de Abril, eu estava conversando aqui em casa com o Sérvio Túlio Caetano — que é um excelente desenhista, pintor, ilustrador, etc. — quando decidi lhe mostrar o site do Alex Grey, na minha opinião, um dos grandes artistas plásticos do nosso tempo. Eis uma de suas telas:

Alex Grey - Kissing

Ao entrar em seu site, descobri que Albert Hofmann — o químico que sintetizou o LSD e “curtiu” seus efeitos pela primeira vez — havia falecido naquele mesmo dia. Veja aqui uma foto dos dois ao lado da tela abaixo, pintada pelo mesmo artista.

Alex Grey -Albert Hofmann

Sobre Hofmann e o LSD, se vire. (Não posso falar dessas coisas, cazzo, me dá flashback…)

Albert! Vaya con Dios, hermano!

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