Autor: daniel christino Page 3 of 12
É possível estabelecer alguma diferença entre fato e valor? Eu, particularmente, não acredito que pesquisas como esta, apesar de baseadas em rigorosa metodologia, pretendam afirmar que os crentes são mais idiotas do que os não crentes. Há, entretanto, correlação, ou seja, de alguma forma a variável “descrença religiosa” altera-se quando a variável “Q.I. alto” é modificada. A discussão toda concentra-se nas variáveis intervenientes.
Eu, por exemplo, acredito muito na observação do professor de Psicologia da London School of Economics, Andy Wells. Inteligência implica uma gama maior de conhecimento, o que significa uma variedade maior de informação sobre várias coisas – inclusive visões de mundo – diversificando as opções antes restritas a crer ou não crer.
O mais interessante nem é isso. Ao relacionar estas variáveis o estudo mostra que não há, nem pode haver, relação causal entre elas. Quem crê em Deus não é mais inteligente ou esclarecido do que quem não crê em Deus. Nossa capacidade de compreender o mundo, nossa faculdade de intelligere como queriam os medievais, não está submetida à aceitação intelectual da idéia de Deus. O pensamento é capaz de conhecer a realidade e o homem capaz de compreender a si próprio mesmo que não acredite num Ser supremo.
Por outro lado, parece que para cada Santo Agostinho há uns 400 idiotas. Deve ser por isso que os pentecostais vivem amplificando seus cultos. Sua inteligência parece associar o volume da voz à capacidade divina de prestar atenção às suas súplicas. Deus deveria providenciar o milagre da elevação do Q.I.
Passeando pelo blog do Pedro Dória encontrei um link para o site da Hybrid Medical Animation. Simplesmente genial o trabalho dos caras. O coração de vidro é especialmente impressionante.
Logo abaixo, uma discussão sobre o xenofobismo europeu liga judeus e muçulmanos de maneira inesperada, mas instigante. Vale a pena.
Dentre todos os objetos disponíveis ao escrutínio da razão nenhum é mais interessante do que o próprio homem. Há muito o intelecto humano se diverte com esse movimento de virar-se sobre si mesmo. Somos, neste aspecto, bastante diferentes dos animais. Segundo Rilke, ao contrário de nós, os animais conseguem “vislumbrar o aberto”. Não estão obrigados a olhar sempre sobre o próprio ombro. Não são capazes de perceber sua sombra como um índice de si mesmos.
Dentre os possíveis discursos que escolhemos para falar de nós mesmos dois se destacam. O primeiro encontra-se no domínio das religiões e podemos defini-la, grosso modo, como categoria moral. O Bem e o Mal. Via de regra tal discurso aponta para uma dimensão transcendental da qual é possível colocar a natureza humana sob perspectiva. Seu pressuposto é o de que precisamos ir além do homem para poder pensá-lo. O contrário seria equivalente a “saltar a própria sombra”. O segundo pertence ao âmbito da ciência, e afirma ser possível compreender o homem a partir da própria condição humana, isto é, como ele se dá enquanto fenômeno material e finito, sem o auxílio de uma perspectiva transcendental de tipo religioso. Segundo esta vertente supor que esteja aberto ao homem uma perspectiva não humana é simplesmente absurdo. Ao homem só é possível o que está dentro dos limites de sua humanidade. Ambos são, como dizia Cassirer, “construções simbólicas”, derivadas da capacidade de enunciação da nossa linguagem e, neste aspecto, limitados por ela.
A ferramenta teórico-epistemológica que o discurso científico desenvolveu para pensar o problema do homem e sua sombra foi a dúvida. Obviamente não meramente a dúvida hiberbólica cartesiana, embora esta esteja, de fato, no centro da questão, mas a dúvida metodológica, integrada às próprias condições de exercício do discurso científico. Isto se dá porque ciência é método e não a confiança cega no método. Este é um erro que se comete amiúde, pensar a ciência como se fosse uma crença na verdade ou na capacidade do homem de encontrar uma verdade universal racionalmente justificável. Este valor ideológico do Iluminismo não sobreviveu ao próprio desenvolvimento científico, em última análise. A razão tornou-se muito mais humilde em sua busca pela verdade e abraçou, em seu método, a incompletude e o raciocínio aproximativo. Quem melhor exemplificou este frescor intelectual e esta dinâmica epistemológica foi Richard Feynman. Numa conferência em 1966 ele elabora esta posição metodológica numa fórmula genial: “Science is the belief in the ignorance of the experts”.
Obviamente cada ramo científico determina suas condições de verdade, mas elas não são mais universais e absolutas e têm validade provisória. O que, entretanto, dispara o processo de superação ou substituição destas condições de verdade é a dúvida, ou melhor, as consequências rigorosas do fato de que se pode duvidar, desde que metodologicamente embasado, das próprias condições de verdade de um determinado campo ou subcampo científico. O importante é perceber que a historicidade do conhecimento científico não significa uma relativização de seus princípios fundamentais, mas um aprofundamento. Eis aí a ciência diante de sua sombra.
Quando eu era menino o final de junho geralmente significava duas coisas muito boas: festa junina e férias. As férias, por sua vez, desdobravam-se em vários subtemas (futebol, viagens, brincadeiras de rua, etc.). Dentre estes, o mais desejado e esperado era soltar raia (ou pipa, dependendo do modelo aerodinâmico em questão).
A expressão em si já é deliciosa. “Soltar raia”. Soltar. Deixar ir, liberar. Não eram tanto os constructos de papel e taboca, mas nós mesmos que nos liberávamos na brincadeira. Sujos, soltos e barulhentos corríamos pelas ruas do setor Fama.
A logística da brincadeira era a seguinte: acordávamos lá pelas nove horas da manhã e começávamos a juntar as peças. Papel impermeável, linha, taboca (apanhada às margens do Anicuns ou do Capim Puba), cola, vidro (lâmpadas fluorescentes ou, quando não dava, garrafas de vidro transparente) e plástico para as rabiolas. Depois do almoço nos dividíamos. Um grupo construía a raia ou pipa e outro preparava o cerol.
Fazer o cerol era mais uma questão de força e persistência do que talento. Com uma barra de ferro amassávamos incansavelmente o vidro numa lata de óleo de soja até que não sobrasse nada além de um pó fino – tão parecido com açúcar refinado que o irmão mais novo de um dos moleques adoçou um copo de leite com ele, felizmente tomou apenas um gole antes de perceber que o pó não era nada doce. O cerol era então misturado com cola tenaz e um pouco de água. Aí vinha a parte onde era necessária alguma habilidade. A mistura era feita na palma da mão e aplicada na linha (10) esticada entre dois postes. Era importante dar entre dois ou três “toques” para que a camada de cerol não ficasse muito grossa, dificultando o manejo da raia durante uma “guerra”. O número de toques variava de acordo com a composição do cerol. Eu era bom nisso, apesar de ser uma negação em engenharia de pipas. Meu amigo Gláucio era um construtor muito mais habilidoso.
Se você tem mais de 35 anos provavelmente assistiu, lá pelo meio da década de 80, ao Sítio do Pica-Pau Amarelo, série de TV inspirada na obra de Monteiro Lobato. Se você, além disso, era um garoto meio nerd apaixonado por tecnologia, ciência e filosofia, seu personagem preferido deve ter sido, certamente, o Visconde de Sabugosa (além, é claro, do Pedrinho, dotado de uma inteligência pragmática realmente genial).
Mas o Visconde era uma enciclopédia de erudição. Inspirado na elite científica britânica (Royal Academy) formava o par oposto com a boneca Emília, fruto da intuição pura. Eu adorava o Visconde pelo seu porte nobre, um tanto didático e professoral (para um moleque de 5ª série, perfeito) e pelo modo como acessava os problemas de modo analítico e racional. Visconde de Sabugosa foi o primeiro intelectual que conheci.
Crianças geralmente confundem ator e personagem e comigo não foi diferente. Quando, mais tarde, decidiram mudar o ator perdi o entusiasmo com a série. Estava crescendo, também. Minha memória afetiva, entretanto, plasmou a figura do personagem em André Valli. Para mim não há outro Visconde, apenas aquele feito pelo André. O original.
Diz a matéria do G1 que ele foi diagnosticado com câncer há apenas um mês. Como teria reagido Visconde? Teria procurado informações na enciclopédia, analisado a situação e partido em mais uma aventura, agora em busca de uma salvação? Como reagiu o ator? Não sei. Deve ter sido difícil. Quem dera pudéssemos apanhar uma outra espiga de milho e devolver-lhe, num passe de mágica deliciosamente anticientífico, a vida. Descance em paz, Visconde/André. As sementes que Lobato lhe colocou na boca – e para as quais você foi forma e adubo – ainda estão a germinar por aqui. Num vasto milharal…
Acabei de assistir ao filme do Sean Penn sobre o livro do Jon Krakauer, Into the Wild. O belo filme parte de uma premissa, para mim, equivocada. A idéia de natureza e, por tabela, de ser humano. A citação de Byron, ao início, é exemplar: There is a pleasure in the pathless woods; / There is a rapture on the lonely shore; / There is society, where none intrudes, / By the deep sea, and music in its roar; / I love not man the less, but Nature more…
Byron é um romântico e sua visão da natureza é igualmente romântica. Que um jovem de 21 anos se sentisse atraído por esta concepção é natural. É exatamente o modo como o personagem se define, um “viajante estético”. Puro Sturm und Drang. Entretanto, assim como o romantismo, Alexander Supertramp é cego para as revoluções inconscientes de sua afetividade, o verdadeiro subtexto de seu amor pela natureza.
É um filme de formação, sem dúvida. Assim como o Wilheim Meister de Goethe, Supertramp encontra os mais diferentes tipo humanos, desde hippies em crise existencial até o velho viúvo que lhe abre a chave de interpretação para o próprio passado. Mas um século que já conheceu a psicanálise e a psiciologia cognitiva não pode, simplesmente, deixar-se levar pela idéia de uma natureza como caminho para o Deus interior. Infelizmente Alex se embrenha cada vez mais no mato para encontrar, ao final, exatamente aquilo do qual estava fugindo: a humanidade. Pobre menino, andando em círculos atrás de si mesmo, perseguindo uma idéia de natureza há séculos perdida.
Todos que encontra parecem assombrados com sua espontaneidade e sagacidade. Estão, na verdade, apaixonados pela juventude que o tempo lhes roubou. Estão apaixonados pela natalidade, pelo novo começo que ele representa. Alex representa as possibilidades que todos eles não aproveitaram. Mas não vai aí dose alguma de ressentimento, só carinho. Todos o observam com olhos humanos que ele claramente ignora, em sua ainda infantil negação da civilização.
Ao assistir o filme, ao contrário de outros amigos, não me deu vontade de voltar às montanhas ou às trilhas. Na verdade senti um orgulho danado de já ter ido e voltado.
O Supremo Tribunal Federal liberou, recusando a ação direta de inconstitucionalidade contra Lei de Biossegurança, o uso de células-tronco para pesquisa científica. Segundo a Lei, os embriões utilizados deverão ser inviáveis, estar congelados a mais de três anos e o processo deverá ter a anuência do casal responsável pelo embrião. A Lei também veta a comercialização de material biológico para a realização de pesquisas. O placar foi de seis votos contra cinco. Discutiu-se também a criação de uma instância que fiscalize as pesquisas, mas o Governo Federal informou prontamente aos ministros que da conta do recado. Entretanto, a institucionalização de um tipo de controle deverá ser transformada em lei.
É uma vitória da racionalidade.
Não é, entretanto, uma derrota da Igraja Católica ou da vida, mas de um gurpo cujos argumentos se sustentam numa lógica, no mínimo, “fuzzy”.
Esta notícia vem direto do blog do Pedro Doria. Ao que parece, alguns cientistas gays conseguiram isolar o gene da cristandade (positivamente associado ao sentimento religioso universal). As repercussões podem ser devastadores para os cristãos de todo o mundo. Confiram.
Quer ser o centro das atenções ao decifrar um complicado teorema matemático entre um gole e outro de cerveja? Entender completamente as letras do Djavan? Não foi, entretanto, favorecido com uma estrutura genética apropriada para a inteligência? Não tema. Se os antidepressivos são uma farsa, as drogas cognitivas chegaram para ajudar a realizar o sonho de todo grande jogador de futebol. Chega de se alienar com mulheres, fama e dinheiro. De agora em diante, apenas matemática, computadores e Star Wars. Viva a vida intensamente.
Mas antes, um aviso: “Cérebro + drogas = ovos fritos! Nem sempre. Algumas pílulas podem incrementar sua performance cognitiva. Mas nós aqui do Garganta não somos médicos. Qualquer um que tome uma batelada de remédios baseado em nossos palpites só pode estar chapado”.
Aqui o link para a deliciosamente bem-humorada matéria da Wired.