blog do escritor yuri vieira e convidados...

Autor: elv peka fluss

Ameaça às articulistas — 4

Opa, não posso ficar fora desta campanha. Por favor, meninas, participem! Minha contribuição, inspirada no post número 2 (quem assistiu ao filme entenderá):

Eu, o careta, e o Superbowl

Confesso que não entendo os estadunidenses (tá no Aurélio! tá bom, vou chamá-los de norte-americanos).

Estava assistindo a alguns clipes de rap na TV. Eles pegaram a minha atenção porque tinham legendas. Ou seja, pude entender o que os caras falavam, coisa impossível por conta do meu inglês e de um monte de gírias. Sabe o que diziam?

Um falava algo do tipo: “Vem cá, garota, te ponho de quatro, você vai gostar” — e o cara ia mostrando com as mãos e os quadris o que faria. Em outro, uma garota ficava dizendo: “Você não gostaria que sua namorada fosse tão gostosa quanto eu?”

Aí eu fiquei pensando. Poxa, não teve pouco tempo atrás aquele rebu por conta de um mamilo?

E João entrou no armário…

João fechou os olhos e decidiu. Levantou-se da cama com cuidado e caminhou até o armário. Abriu a porta, examinou um pouco o interior no escuro e entrou. Era quase de manhã. Antonieta chegou a acordar com um ruído. Viu o marido andando e voltou a dormir.

“Ai, meu Deus!!!!”, disse Antonieta ao abrir a porta do armário. “Quer me matar de susto!!! Pensei que fosse um rato.”

“Tá maluca, mulher. E eu lá tenho cara de rato?”

“Sei lá. Só vi algo se mexendo entre as roupas… Mas Jo-ão (ela sempre pronunciava o nome do marido assim, pausadamente), o que você tá fazendo aí??”

“Resolvi entrar. Não sei, me enchi do que tem aí fora.”

“E vai ficar aí dentro pra sempre?”

A foto roubada

Já faz uns 20 anos. Eu ainda morava no Rio. Mas fui a São Paulo e acabei conhecendo uma garota paulistana linda. Tempos depois eu a encontrei de novo, no Rio. Não me lembro o que ela fazia lá. Papo vem, papo vai, ela me disse que nunca tinha ido ao Corcovado. Pois então eu a levaria…

Aproveitei para levar minha câmera. Queria tirar umas fotos lá do alto, se o tempo estivesse bom. E estava. Maravilhoso. Mas não é que a garota grilou? Isso, uma simples Olympus. E foi grilar só lá em cima, quando a tirei da mochila. Eu sei, eu também não entendi. Por que uma câmera poderia estragar um passeio como aquele?

Emburrou. Ficou até mais bonita. E mais maluca. Me fez prometer que eu não a fotografaria. Promessa feita…

O sonho

Dirijo o carro. Não sei qual cidade é. Não sou daqui. Os nativos falam uma língua que não conheço, mas eu a entendo perfeitamente. O trânsito está complicado. Decido deixar o carro.

Caminho por uma rua estreita e inclinada. Tem calçamento de pedras. Desço-a. A via está tomada por pedestres e tem muitas lojas pequenas. Parecem lojas para turistas.

Sinto uma sensação estranha. Vislumbro a rua estreita à minha frente. Sinto vontade de correr. Devo percorrê-la. Preciso chegar até o seu fim. Parto. Corro. Corro bem rápido. Devo chegar ao fim da rua.

O tempo está nublado. Há muitas nuvens escurecidas. Corro. Começo a ver o mar, as nuvens sobre o mar. Ainda é dia, há sol também, mas a noite já começa a surgir. Ainda corro. Estou chegando perto do mar, estou chegando. Vejo um pequeno píer. Não há embarcações. Do lado direito, uma montanha.

Uma carta de amor por Rubem

Num certo momento da conversa, Rubem Braga olhou para mim e disse: “Você sabe escrever uma carta de amor?” Hesitei um pouco. Eu nem sou escritor! Pensei em silêncio e respondi: “Olha, já escrevi algumas, mas não sei bem se realmente sei escrever uma boa carta de amor…”

Eu o tinha encontrado por acaso em Ipanema. Foi em 1987. Talvez 1988.

De certa forma foi engraçado. Ele já era uma pessoa de idade. A conversa foi breve. Começou quando eu me apresentei, dizendo que gostava muito de suas crônicas, etc. Mas, como disse, meio assim de repente, ele olhou para a minha acompanhante e veio com essa pergunta da carta de amor para mim. Foi algo inesperado.

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