blog do escritor yuri vieira e convidados...

Autor: pedro novaes Page 16 of 33

Cinema na Tailandia

Foi uma dupla experiencia de alta qualidade. Primeiro, ir ao cinema em Bangkok, segundo, ir ao cinema ver um filmaco de Martin Scorsese sem me dar conta do que iria ver.

Cinema aqui e assim: um multiplex como os outros, so que, se se desejar, com superpoltronas reclinaveis e/ou mesas para fazer refeicoes e ser servido numa sala VIP. Todo o mundo tem os celulares mais modernos, mas, surpresa, eles nao tocam, nem ninguem conversa a meu lado. Importante afirmar que isso e uma experiencia inedita para mim. Sempre me sento ao lado de alguem que conversa e/ou atende celular.

Fugindo da Responsabilidade

13:10h em Bangkok, 3:10h em Brasilia. Voces estao ai dormindo seu merecido sono dos justos e eu ja vou aqui 10 horas adiantado. Daqui a pouco, despertarao e irao cumprir com seu dever civico do voto, em mais uma maravilhosa festa da democracia brasileira.

Eu me sinto confortavel por nao ter que ir votar. Covardemente, poderei alegar que nao tive responsabilidade alguma nos desdobramentos que qualquer um destes dois brilhantes lideres puser em marcha.

Teorias sobre Cosmopoles

Grandes metropoles dao uma certa preguica, quando se e estrangeiro. Sao quase todas cada vez mais iguais, cheias de bilboards da Nokia, da Loreal e do HSBC, vias expressas, juventude com visual descolado, turistas atrapalhados e um Hard Rock Cafe, que e o suprassumo da pasteurizacao da cultura global, em que a gente acha bom poder sair de casa sem sair. Ca entre nos, why the fuck? alguem vai a um Hard Rock Cafe, toma uma cerveja a precos extorsivos pelos parametros locais e compra um camiseta ridicula, cujo motivo e uma competicao infantil por quem tem aquela com a localizacao mais exotica. Bangkok deve estar no topo desta lista, eu imagino. Uma camiseta do HRC Bangkok vale 10 vezes o preco de uma do HRC Cape Town, que vale 20 vezes o preco de uma HRC Miami, que e a coisa mais mane que alguem pode ter. Acho que funciona mais ou menos assim.

Em Busca de um Rei

Me conta aqui na Tailandia uma colega guatemalteca que nas eleicoes presidenciais de 2000 em seu pais, houve 90% de votos em branco. Assim, ficamos sabendo de onde Saramago tirou a inspiracao para seu genial “Ensaio sobre a Lucidez”. Na Guatemala, infelizmente, como no Brasil, o voto em branco nao e considerado valido, de modo que ganhou o candidato mais votado, ainda que a maioria dos eleitores nao quisesse a nenhum deles. Segundo ela, o resultado foi um dos governos mais corruptos de que ja se teve noticia na America Central.

No livro de Saramago, a grande maioria da populacao da capital do pais vota em branco nas eleicoes. Pego de surpresa, o governo convoca novas eleicoes e coloca o servico de inteligencia em busca dos cerebros desta conspiracao. Nao ha entretanto comandantes neste movimento espontaneo da populacao que, nas novas eleicoes, volta as urnas e, ainda em maior numero, torna a votar em branco.

Alfinetadas Budistas II

“Merit making calculated to impress is not real merit.”

“O merito que se logra buscando impressionar, nao e merito de verdade.”

(Maxima budista em templo de Chiang Mai, Tailandia)

On Chavez, from Thailand

Esta fara os amigos que se descabelam contra Hugo Chavez delirarem. Neste seminario em que estou aqui na Tailandia, ha um camarada venezuelano, muito boa praca por sinal. Evidentemente, depois de algum protocolo, lancei-lhe a inevitavel pergunta: “Y que me dices de Chavez?”. Ao que ele respondeu: “Y que me dices de Lula?”.

Ele nao e chavista, mas ressaltou que, um pouco como no nosso caso, a oposicao venezuelana e tambem uma lastima, o que o levou a fechar sua explicacao com a afirmacao (que ja ouvi parecida em algum lugar) de que a melhor saida para a Venezuela “es el Aeropuerto de Caracas”.

Contou que teve um problema serio com uma ex-namorada, que era chavista e que, por acaso, acabou se tornando a fotografa oficial da presidencia. Ela lhe manda frequentemente fotos do grande timoneiro bolivariano beijando criancinhas ou segurando livros de Noam Chomsky, pois se sente no dever de converte-lo a religiao chavista.

Lei Marcial

A Tailândia é realmente um país engraçado. Difícil para nós ocidentais, com nossa visão cartesiana, onde tudo é preto ou branco, compreendermos o que se passa.

Como se sabe, em 13 de setembro, o país sofreu seu décimo golpe militar exitoso desde 1930 (em 20 tentativas), mas apenas o segundo contra um governo democraticamente eleito. Foi deposto o Primeiro Ministro Takhsin Sinawatra, uma espécie de Silvio Berlusconi do Sudeste asiático, um populista magnata das comunicações, chefe de um governo reconhecidamente ultra-corrupto, eleito no vazio pós-crise econômica de 1997.

Por isso, vive-se aqui há um mês sob Lei Marcial, isto é, todas as garantias constitucionais estão suspensas e a polícia e os militares podem fazer o que bem entenderem. Só que tudo está absolutamente normal. Não se vê polícia nas ruas e o maior jornal de língua inglesa daqui, o “The Nation”, amanheceu hoje descendo a lenha em vários equívocos dos militares, inclusive no fato da Lei Marcial ainda não ter sido suspensa. Tudo como se nada tivesse acontecido. Pelo que se depreende, na verdade, todo o mundo já estava de saco cheio mesmo do cara e apoiou o golpe.

Dê uma olhada aqui, para ver as fotos que estou postando desta viagem no Multiply. Espero manter o álbum atualizado.

Alfinetadas Budistas I

“The skilled man does not show off, but the man without knowledge usually shows off.”

“O homem habilidoso não aparece, mas o homem sem conhecimento geralmente aparece.”

(Máxima Budista de templo em Chiang Mai, Tailândia)

Longe e Perto

51 horas depois, cheguei a Chiang Mai, cidade no norte da Tailândia (os colegas farão a fineza de acentuar meus textos depois). Saí de casa na segunda-feira última às 8:00h. Aportei aqui às 20:40h de ontem, quarta-feira, 10:40h aí no Brasil.

A viagem foi muito mais cansativa e longa que as muitas horas de van e monomotor no Xingu, mas, por incrível que pareça, viajei 30 mil km, estou do outro lado do globo, mas muito mais perto de casa que no interior do Mato Grosso.

Ei, Rosa! Estou até perto de você, não? Você até passou por aqui em seu caminho também de excessivas horas quando partiu para a Terra Média, não foi? Pena que não vai ser dessa vez que vou aí conhecer Frodo…

Estou mais perto de casa aqui que no interior do Mato Grosso. Estou até vendo se habilito meu celular. Em 32 dias no Xingu, me senti realmente distante. Aqui, nem tanto.

Em resumo, a Tailândia é o máximo. Tipo Ouro Preto, só que, ao invés de igrejas, santos tristes e mães dolorosas, templos, stupas e budas plácidos e sorridentes em cada esquina.

Mais, em breve.

Duas pragas nacionais

As duas coisas mais nojentas deste país:

1) A arrogância e tesão totalitário da esquerda: eles querem mesmo é governar sozinhos e calar toda e qualquer oposição;
2) A retórica liberal de grande parte do empresariado que mama nas tetas do Estado com um lado da boca e arrota um discurso de desestatização e livre mercado, com o outro. Eles gostam mesmo é de capitalismo sem risco. Pergunta: por que os impostos que eu pago têm que pagar o prejuízo do agricultor nacional que se endinheirou com o preço das commodities nas alturas há três anos e agora vai chorar em Brasília fazendo “tratoraços” e levando a conta do prejuízo pra viúva pagar? (Em tempo, os 30 bilhões dados a esta turma de liberalismo de boteco não são coisa apenas de governo Lula, são a história do Brasil que se repete em todos os governos: eles tomam prejuízo, choram e o governo endurece, mas na primeira matéria importante a ser votada no Congresso, a bancada ruralista endurece e barganha um novo megaperdão de dívidas às nossas custas).
Sem tornar estas duas pragas coisas do passado, este país não sai do lugar.

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