blog do escritor yuri vieira e convidados...

Autor: pedro novaes Page 8 of 33

Alteridade

Uma rapidinha com Guimarães Rosa para aplacar o calor infernal de fim de dia no Planalto Central e o calor geral desta vida abafada:

“Conto ao senhor é o que eu sei e o senhor não sabe; mas principal quero contar é o que eu não sei se sei, e que pode ser que o senhor saiba.”

(Do Grande Sertão Veredas).

Brizola e a TV Globo

Inesquecível e antológico, o direito de resposta obtido na Justiça por Leonel Brizola contra a Rede Globo. Hilário o Cid Moreira, com sua voz de agente de funerária, lendo o texto desancando a Globo e Roberto Marinho.

Via LLL e Pensar Enlouquece.

El Loro Cubano

Essa veio de lá:

En Cuba, un niño regresa de la escuela a su casa, cansado y hambriento y le pregunta a su mamá:

– Mamá, ¿que hay de comer?

– Nada, mi hijo.

El niño mira hacia el loro que tienen y pregunta:

– Mamá, ¿por qué no loro con arroz?

– No hay arroz.

– ¿Y loro al horno?

– No hay gas.

– ¿Y loro en la parrilla eléctrica?

– No hay electricidad.

– ¿Y loro frito?

– No hay aceite.

El loro contentísimo gritaba:

“¡¡¡VIVA FIDEL!!! ¡¡¡VIVA FIDEL!!!”

O Sexo Anal e a Alma Feminina

Sexo Anal

Dá preguiça demais ler na tela do computador, especialmente ficção e jornal, que são leituras que induzem e pressupõem certos estados de espírito. Jornal, em dia de semana, eu leio aos pedaços, entre um comando e outro no computador da ilha de edição, entre uma tarefa e outra. Em fim de semana, leio esparramado no sofá, escutando música e tomando café ou abrindo os trabalhos com a primeira cerveja do sábado. Livro é livro. Tem que ser de papel e pronto, pesar nas mãos, dar culpa de sublinhar, etc e tal.

Isto posto, digo que abro poucas exceções para textos de ficção na tela do computador. Mas devo confessar que, nas poucas vezes em que o fiz, não me arrependi. E, por coincidência, tratam-se de três romances que guardam incríveis e louváveis semelhanças entre si.

A primeira exceção, já há alguns anos, foi para o “Mulher de um Homem Só”, do Alex Castro, que àquela época ainda se chamava Alexandre Cruz Almeida. Como ele anda tramando sua publicação em papel, tirou o livro temporariamente do ar. É romance curto que não se consegue largar depois de poucas páginas centrado em torno da pergunta de se é possível uma verdadeira amizade entre homem e mulher. Uma genial incursão pela mente de uma mulher decidida a manter seu macho. Delicioso e muito engraçado.

A segunda exceção, bem mais recente, foi para o “Romance Barato”, de ninguém menos que nosso camarada de blog, Ronaldo Brito Roque. Outra genial incursão pelas mentes femininas, pelas emoções, ingenuidade e frieza de garotas que optam pela “vida fácil”. Também me prejudicou os afazeres, pois, uma vez iniciado, não pude mais largá-lo. Literatura do país de Nelson Rodrigues. O rapaz tem sensibilidade e verve. Está tentando publicá-lo e, espera-se, em breve, todos terão o privilégio de se divertir e emocionar com sua literatura.

A terceira exceção, recém concluída, foi para o “Sexo Anal – Uma Novela Marrom” do Luiz Biajoni. Puta que o pariu! Que livro! Como já foi dito, quase um filme. Uma novela visual. Que inveja desse cara. Vá escrever assim no inferno. O Biajoni tem uma capacidade absolutamente anormal para, em escassíssimas linhas meramente descritivas, derramar imagens muito poderosas. O cara não elabora, não psicologiza. Explicita as emoções dos personagens com muita parcimônia, pois não precisa. Está tudo ali nas entrelinhas naquela magia que pouco escribas dominam com tanta habilidade.

“Sexo Anal” é sexo anal, sexo oral, hetero e homossexual, fios-terra, hemorróidas, vibradores, repórteres policiais que gostam de travestis, justiça com as próprias mãos, maçons porcos rindo com escárnio, policiais corruptos, imprensa marrom, cocô e sangue. Contínuos de escritório, punhetas, podolatria. Porra, cerveja choca e fumaça de cigarro. E tudo isso com uma leveza incrível. Humor fino e pura ironia. Qualquer acidez fica por conta do leitor.

Como disse Idelber na orelha do ebook (e ebook tem orelha??), Sexo Anal é “pós ou transpornográfico”, pois “ao escancarar já no título paradoxalmente esvazia qualquer bobinha pretensão de excitação e voyeurismo punheteiro com o texto.” É fato. Você vai até ficar de pau duro ou molhada, mas não dá pra largar o livro e ir pro banheiro. Logo você estará rindo desmesuradamente para, em seguida, se incomodar com a crueza de cagadas e sangue na privada, estupros e assassinatos, e pouco depois puto com coroas gosmentos e qualquer sombra de excitação já terá passado.

A sinopse, nas palavras do próprio autor:

Em “Sexo Anal – Uma novela marrom” uma jornalista descobre as delícias do sexo anal ao mesmo tempo em que é escalada para cobrir – junto a um jornalista policial experiente – um crime bárbaro de estupro e morte. Em paralelo, seu namoro vai mal por conta do assédio de um médico bem-sucedido. Seu namorado conhece uma garota virgem de 23 anos que sofreu um abuso sexual na pré-adolescência e se interessa por ela. Uma homossexual, amiga de faculdade da jornalista – e apaixonada por ela -, faz de tudo para afastar os dois.

Não perca tempo! Antes que ele se envaideça com a enxurrada de elogios e declarações de amor e resolva cobrar, vá lá e baixe seu exemplar.

Finalmente, não posso deixar de enfatizar a semelhança de estilo, temática e de atmosfera entre os três romances citados. Sobretudo me parece curiosa a similaridade na enorme sensibilidade destes três autores homens para sondar a alma feminina. São três obras que têm mulheres como personagens centrais. E tenho certeza que as meninas teriam que ser muito hipócritas, invejosas ou se sentirem amedrontadas demais para negar que os três descrevem com argúcia e sutileza o que se passa no coração e na cabeça delas. Muito bacana.

Pecados Íntimos Derrapa e quase Capota

Pecados

“Naquele momento, Larry se deu conta de que o passado não pode ser modificado, mas o futuro, esse sim, poderia ser diferente. E a construção desse futuro distinto deveria começar naquele instante. Ele podia salvar uma vida.”

Com essa frase, ou algo muito semelhente, dita em off pelo narrador, o roteirista e diretor Todd Field quase destrói o excelente filme “Pecados Íntimos”, título este em português que aliás não faz jus ao muito melhor “Little Children” (“Criancinhas”) original em inglês. O filme é candidato aos prêmios de melhor ator coadjuvante (Jackie Earle Haley excelente no papel do pedófilo Ronnie), melhor atriz, com Kate Winslett, também em ótima atuação, e melhor roteiro adaptado, na cerimônia do Oscar hoje à noite. Aparentemente tem alguma chance no primeiro, embora Eddie Murphy seja franco favorito, chances remotíssimas no segundo, onde Hellen Mirren é quase barbada, e escassas no terceiro, onde a concorrência de “Os Infiltrados” é forte.

O uso do off, ou “voice over”, para empregar com precisão a terminologia cinematográfica, é evidentemente objeto de muita crítica. Via de regra, torna-se uma muleta para coisas que o cineasta não consegue passar através de imagens ou com naturalidade nos diálogos dos personagens. Além de denotar certa incapacidade do diretor e do roteirista, o voice over em geral implica na explicitação de pontos de vista, emoções, fatos ou “mensagens” que deveriam ser transmitidos de forma sutil ou ser subentendidos pelo espectador, sob pena do filme tornar-se didático e/ou de se tratar com estupidez e superficialidade as emoções e o raciocínio do próprio espectador.

O roteiro de “Pecados Íntimos” é pontuado em muitos momentos por observações de um narrador em terceira pessoa, a princípio até interessantes – porque complementam ao invés de substituir, como em “Dogville” e “Manderlay” do dinamarquês Lars Von Trier. Mas o escorregão no final é violento.

O filme conta a história de Sarah (Kate Winslett), Brad (Patrick Wilson) e Ronnie (Jackie Earle Haley). Os dois primeiros, oprimidos pelos casamentos e pela paternidade, têm os filhos como desculpa para se conhecerem e eventualmente se tornarem amantes. Ronnie é um condenado por molestar sexualmente crianças que, solto em liberdade condicional, passa a residir com a mãe na mesma comunidade dos subúrbios de Boston. A vida dos três se entrelaça de maneira inesperada, ressaltando a imaturidade emocional como motivador das ações não apenas deles, mas de quase todos os personagens envolvidos. Criancinhas.

O roteiro é excelente e, o tempo todo, não sente pena dos personagens, resultando em um filme forte e incômodo. Todd Field só se perde no final, quando deixa vazar seu pendor para o melodrama americano. Depois de conduzir o filme de forma impecável e cheia de surpresas até minutos antes do fim, ele não se contém e produz uma pequena epifania individual para Larry, o personagem de Noah Emmerich, que culmina com a frase citada no início do post, através da qual evidentemente ficam todos os personagens redimidos de seus pecados.

O final como um todo é discutível. Moralista? Talvez. Seguramente um pouco melodramático demais.

De toda maneira, não chega a comprometer o todo. Vale à pena assitir.

Sexo também é cultura

Do Clipping de Cinema:

Sexo também é cultura. Assim pensa o juiz holandês que decidiu que os peep shows – exibições nas quais modelos ficam nuas ou praticam sexo explícito em cabines para voyeurs – são uma forma de espetáculo teatral, motivo pelo qual os donos desses clubes são credenciados a abatimentos de impostos com base nas leis locais de incentivo à cultura. “Aceitar pessoas para assistir a peep shows é equivalente a permitir a entrada de uma pessoa num espetáculo teatral”, considerou um juiz da Corte de Apelações de Amsterdã, em decisão tomada no mês passado e tornada pública nesta terça-feira. “O erotismo dos personagens na performance não diminui sua importância”, prosseguiu. O jornal The Telegraaf informou que o dono de um clube onde ocorrem apresentações do gênero receberá uma restituição de impostos da ordem de milhares de euros por causa da decisão.

O Psicanalista e a Imputabilidade

Contardo Calligaris, na Folha de hoje, sobre a redução da maioridade penal:

CONTARDO CALLIGARIS

Maioridade penal e hipocrisia

Nossa alma “generosa” dorme melhor com a idéia de que a prisão é reeducativa

UM ADOLESCENTE de 16 anos fazia parte da quadrilha que arrastou o corpo de João Hélio, 6 anos, pelas ruas do Rio.
A cada vez que um menor comete um crime repugnante (homicídio, estupro, latrocínio), volta o debate sobre a maioridade penal.
Em geral, o essencial é dito e repetido. E não acontece nada. Aos poucos, o horror do crime é esquecido. Não é por preguiça, é por hipocrisia. Preferimos deixar para lá, até a próxima, covardemente, porque custamos a contrariar alguns lugares-comuns de nossa maneira de pensar. 1) A prisão é uma instituição hipócrita desde sua invenção moderna.
Ela protege o cidadão, evitando que os lobos circulem pelas ruas, e pune o criminoso, constrangendo seu corpo. Mas nossa alma “generosa” dorme melhor com a idéia de que a prisão é um empreendimento reeducativo, no qual a sociedade emenda suas ovelhas desgarradas.
A versão nacional dessa hipocrisia diz que a reeducação falha porque nosso sistema carcerário é brutal e inadequado. Essa caracterização é exata, mas qualquer pesquisa, pelo mundo afora, reconhece que mesmo o melhor sistema carcerário só consegue “recuperar” (eventualmente) os criminosos responsáveis por crimes não-hediondos. Quanto aos outros, a prisão serve para punir o réu e proteger a sociedade.

As verdades de Bernardo Carvalho

Nove Noites

Há gente que não gosta de Bernardo Carvalho. Acham-no pedante, artificial e forçadamente intelectual em seus romances e contos.
Eu acho “Nove Noites” um romance espetacular. “Mongólia” também é muito bom, embora não se compare ao anterior. E seus contos são, em geral, excelentes.
“Nove Noites”, que acabo de reler como referência para um roteiro que estou escrevendo, é a história da história de Buell Quain e, principalmente, da obsessão do próprio Carvalho em entender o mistério em torno desta figura perdida na história da antropologia e do indigenismo brasileiros.
Quain foi um antropólogo americano, discípulo de Ruth Benedict e Franz Boas, que se suicidou entre os índios Krahô, no Maranhão, em 1939. Sua morte nunca foi plenamente explicada.
Instigado pela menção recorrente deste nome em sua vida, Bernardo Carvalho tenta encontrar o fio da meada da verdade sobre Quain em meio às poucas pistas restantes sobre sua vida e suas duas viagens ao Brasil: uma primeira expedição à região do Xingu, para pesquisa junto aos índios Trumai, e sua ida ao Maranhão, que culminaria no desfecho trágico de sua existência.
E como desencavar a verdade “numa terra em que a verdade e a mentira não têm mais os sentidos que o trouxeram até aqui”, adverte logo à abertura do livro Manoel Perna, o outro narrador do livro, além do próprio Carvalho, um suposto amigo de Quain em Carolina, no Maranhão?
E continua: “Pergunte aos índios. Qualquer coisa. O que primeiro lhe passar pela cabeça. E amanhã, ao acordar, faça de novo a mesma pergunta. E depois de amanhã, mais uma vez. Sempre a mesma pergunta. E a cada dia receberá uma resposta diferente. A verdade está perdida entre todas as contradições e os disparates. Quando vier à procura do que o passado enterrou, é preciso saber que estará às portas de uma terra em que a memória não pode ser exumada, pois o segredo, sendo o único bem que se leva para o túmulo, é também a única herança que se deixa aos que ficam, como você e eu, à espera de um sentido, nem que seja pela suposição do mistério, para acabar morrendo de curiosidade.”
O resultado é um romance das possíveis verdades sobre a morte de Quain, não excluindo a hipótese mais banal de um suicídio sem histórias mirabolantes por trás – um surto de uma personalidade frágil exposta pela experiência radical de isolamento em meio a uma sociedade absolutamente estranha.
O melhor de tudo é que a estrutura do romance reforça a idéia das “verdades possíveis” ou de verdades parciais que se entrecruzam, situando-se na fronteira entre a ficção e um esforço de jornalismo investigativo. No texto, sobrepõem-se às palavras de Bernardo Carvalho, além das parcas fotos disponíveis de Buell Quain, supostas cartas deste Manoel Perna, um engenheiro de Carolina, último amigo de Quain e derradeiro não-índio a vê-lo vivo.
São pouco os escritores que conseguem abraçar com resultados elogiáveis este tipo de estrutura meio pós-moderna. Na maior parte dos casos, gera-se muito barulho por nada e os livros se esvaziam à medida em que se aproximam do final pela própria falta de sentido. Tramas rocambolescas que prendem o leitor de início, mas que não tardam a denunciar a própria fraude que são.
Não é o caso de Bernardo de Carvalho.

Leitor Nelvoso

“Guspir” soa estranho. De resto, a despeito dos erros de português, “matutos alienados” achei elogioso. Dá nome de banda.

voces e esse site sao pateticos. Voce ssao americanos para estarem defendendo quem gospe em suas caras e na cara dos filhos de voces??
sei.. voces só sao caboclos querendo ser americanos. Publiquem ago decente nessa pocilga de voces.. Terroristas!… voces sao piores..
matutos alienados. voces nao entendem nada sobre terrorismo..

Esquerdismo na América

O Alex Castro depois que foi para os EUA está cada vez mais esquerdista.

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