blog do escritor yuri vieira e convidados...

Autor: yuri vieira Page 19 of 107

Sí­lvia Pfeiffer, da Aeromí­dia

Fiquei umas duas ou três semanas envolvido com a pré-produção do meu curta-metragem, o que me afastou das notícias quentes de última hora, e acabei postergando a alimentação do meu perene estado de espanto. O Brasil não é – como diz o José Simão – o país da piada pronta, mas o país do senso moral inexistente. O que me assusta não são essas novas revelações, mas a total atonia da sociedade perante tudo o que vem rolando… morro abaixo. Talvez seja esta a técnica de esquiva utilizada por esse governo corruPTo: “aumente os impostos, deixe todos muito ocupados a nos bancar, trabalhando de sol a sol, e eles sequer terão tempo para se inteirar do que vem ocorrendo”.

As denúncias da empresária Sílvia Pfeiffer envolvem amigos do Lula (Valter Sâmara), a secretária do Lula (Mônica), os petistas de sempre (José Dirceu, Marcos Valério, Duda Mendonça, etc.), toda a diretoria da INFRAERO (Eleuza Therezinha Lopes, Eurico José Bernardo Loyo, Fernando Brendaglia, etc.), o ex-presidente da INFRAERO (Carlos Wilson), o Ministro da Agricultura (Reinhold Stephanes), o ex-prefeito de Curitiba (Cássio Taniguchi), empreiteiros, arquitetos, publicitários, deputados, etc., etc. Todos metidos num daqueles esquemas de corrupção, Caixa 2, desvio de divisas e obscenidades do gênero, que, segundo ela, ainda estão em funcionamento. Ô país podre, é de dar nojo. Fica cada vez mais fácil discernir que tipo de literatura esse paiseco precisa.

A matéria é da revista Isto É #1956 e a entrevista pode ser lida aqui. Se preferir, baixe o arquivo em doc.

Nada ainda

Pois é, Jan Val Ellam, findou o mês de Abril e o Kara nada, nem um email a desmarcar a chegada anunciada. (Apenas torpedos espirituais.) De fato, ninguém sabe o ano, o mês, o dia, a hora, o…

“No Brasil, cinema não é indústria, é arte”

Resposta ao comentário do escritor Wilson Mello, que me indagou se vale a pena entrar no mercado cinematográfico enquanto roteirista:

Wilson, meu caro, não sei não. Se o frenesi de narrar está em seu sangue, vá em frente, escreva roteiros. Mas, conforme venho dizendo, se a situação do Brasil continuar a mesma por muito tempo, desista de ganhar dinheiro com isso. Eu mesmo sou um maluco que nunca – NUNCA – conseguiu juntar dinheiro. E que acha que vai morrer à maneira do pedinte Henry Miller, isto é, vizinho de alguém como Ronald Reagan. Doido, claro.

Há uma chamada ridícula no Canal Brasil e nos Telecines (NET) que afirma, cheia de orgulho e pompa, esta pérola: “Cinema no Brasil não é indústria, é Arte”. Ahahaha. Porque não há dinheiro aqui – está todo nas mãos do Estado – e tudo tem de ser feito basicamente com força de vontade, os caras acham isso lindo, é arte. Só que os profissionais de cinema, se quiserem aprimorar sua técnica e manter sua família, precisam ganhar seu sustento regularmente – e recorrem à indústria da publicidade. Prefeririam ir todas as semanas a um estúdio de cinema gravar ficção – seria melhor para a auto-estima de cada qual – mas, para pagar a escola dos filhos, as contas, a comida, ficam com a única indústria capaz de mantê-los. É simples assim. Os caras acham que a mediocridade da grande maioria dos filmes americanos se deve ao fato de eles, americanos, serem capazes de produzir filmes em escala industrial. Mentira. A maior parte do que se produz é medíocre porque o gênio é exceção e não regra. A maior parte dos cineastas do mundo – do MUNDO – são medíocres porque esta palavra significa apenas “mediano”, “comum”, “ordinário”. Se todos fossem gênios, essa palavra (gênio) nem existiria, seria anulada pela falta de contraste conceitual. A melhor prova para o que estou dizendo é que, no Brasil, onde o cinema é “arte” (ahahaha, lá fora ele não é), ou seja, é produzido aos trancos e barrancos, a qualidade média dos filmes é medíocre, o que é até redundante de se dizer, já que os termos “média” e “medíocre” tem a mesma raíz. Neguinho não se toca de que o vocábulo “indústria”, antes de se referir à produção em grande escala através de “linhas de montagem”, a essa coisa não-artesanal, significava “atividade”, “invenção”, “perícia”, “engenho”, “aptidão”. A indústria é necessária não para os nossos diretores egoístas, mas para sua equipe técnica, que precisa se aprimorar e sobreviver. (O Cassius Pucci, que foi diretor de fotografia do meu curta-metragem, me disse: “é por causa desse estresse de gravar tudo num dia só que acabo fazendo um único curta por ano”. Se houvesse indústria, haveria horários, um trabalho como qualquer outro.) O diretor pode sobreviver sem a indústria, mas não vai pra frente sem a equipe, que é o corpo que gera seu filho, sendo ele meramente a cabeça. Há poucos filmes excelentes, no Brasil, porque boas cabeças se vêem sem chance de entrar na $onda$ do cinema. Imagine uma praia cheia de surfistas e com pouquíssimas ondas. Em geral, não será o melhor surfista aquele que pegará a melhor onda, mas o que souber dar mais cotoveladas. É assim o cinema-arte brasileiro. E essas cotoveladas muitas vezes são sutis, tipo “quem indica”, “filho de quem?”, “ideologia tal”, “escrúpulos zero para captar dinheiro” e assim por diante.

Se quer ganhar dinheiro com roteiros, Wilson, procure uma indústria. A única que temos é a publicitária. Se quer fazer “arte”, vá colocando-os num site, registrando-os na Biblioteca Nacional e anunciando a empreitada aos nossos cineastas, que são muitos e que, por mais que neguem, não sabem escrever bons roteiros e precisam de alguém que o saiba. Ah, outra coisa: não escreva sobre política no seu site, não faça como eu. Do contrário atrairá sobre si mais antipatias que simpatias e os tais cineastas nem se darão ao trabalho de perceber que vc poderia fazê-los ganhar prêmios. É isso.
Boa sorte, abraço
Yuri

Tiro ao alvo (versão chinesa)

Encontrei este vídeo no Saindo da Matrix. Um cinegrafista romeno, juntamente com outros montanhistas europeus, depara-se na área próxima ao Everest com um espetáculo que, pelo comportamento fleumático das vítimas, há de ser rotineiro: soldados chineses de fronteira abatem peregrinos tibetanos. (“Muro?”, devem pensar os comunistas chineses. “Muro para quê? Chumbo é mais barato…”)

Nosso podcast no Portal Literal

A jornalista Priscilla Brossi Gutierre, do Portal Literal (Terra), publicou a matéria Literatura para os ouvidos, que cita nosso podcast.

A luz do Bob Esponja

Eu juro que não faço de propósito. É que eu sou assim mesmo, um cara meio esquisito. Digo isso porque, sempre que volto a conversar com o Cassius Pucci Cordeiro, diretor de fotografia do meu curta-metragem (Espelho), ele se recorda dessa história. A questão é que eu queria uma iluminação XYZ para nosso filme, cujo desenrolar tem como único cenário uma sala de cinema. Não poderia ser uma sala muito escura – um cinema sempre tem luz suficiente para sensibilizar nossos olhos e a câmera nunca é tão sensível quanto -, mas tampouco poderia ser iluminada a ponto de sumir com a luz do projetor. Seria necessário ver as pessoas com nitidez sem perder o efeito de contraluz da projeção. Então, claro, começamos a pesquisar filmes que mostrassem salas de cinema. E apenas dois dias antes da filmagem, finalmente pude dizer ao Cassius: “Meu, encontrei a iluminação exata, do jeito que eu quero!”

“No Cinema Paradiso?“, perguntou ele.

“Não, no Bob Esponja – o filme.”

“Ce tá curtindo com a minha cara…”

“É sério, Cassius. No final do desenho animado, há uma mistura de cenas reais e animação. Quando o Bob Esponja e o Patrick morrem secos, o plano recua para dentro duma sala de cinema na qual há um bando de piratas assistindo ao filme. Essa cena é feita com atores. Eu achei aquela iluminação ideal: há uma luz frontal fixa, ligeiramente amarelada, e um brilho azulado em torno das pessoas, criado pelo projetor, que obviamente é fake. Perfeito!”

Ele ficou me encarando com uma expressão irônica: “Eu pensei que você ficava em casa assistindo ao Antonioni ou, sei lá, ao Kurosawa e você vem me falar de Bob Esponja?”

É que eu sou uma cara assim, sabe, meio esquisito. (É o que eu deveria ter dito.) Mas, como diretor, preferi colocar a produção atrás do tal DVD esponjoso. Acho que o resultado será positivo.

E o Controle venceu a Kaos

Ter dirigido o curta-metragem Espelho, com a Cássia, foi simplesmente uma das coisas mais loucas que fiz na vida. Entrou para os Top 5 do meu rol de insanidades, justamente após a escalada ao vulcão Tungurahua e antes de… bem, leia meu conto Genus irritabile vatum… Sério, não estou brincando: uma pessoa que decide estrear no cinema com um orçamento curtíssimo e colocando, além da equipe, cerca de 150 figurantes famintos e cansados dentro duma sala de cinema por quase 21 horas seguidas não pode bater bem. Quando mais alguém disser “o Yuri é doido”, direi “de fato, ele é”. Eu andava pelo set e pensava, “as pessoas devem estar dizendo para si mesmas: ‘eu não gostaria de estar na pele desse cara'”. Mas tudo correu bem, graças ao apoio dessa equipe maravilhosa cujos nomes citarei mais tarde. Conforme anunciei, o Controle protegeu o set contra as forças trevosas da Kaos. Tudo poderia ter dado errado, mas mil e um pequenos milagres nos salvaram. E da maioria deles só tomei conhecimento após as gravações. Eu acreditava estar na posição mais difícil, mas na verdade estava no olho do furacão, um oasis de calma em meio a uma verdadeira batalha contra as circunstâncias. Cada situação, cada encrenca de que nem me dei conta, concentrado que estava em instruir os atores e compor os planos. Sim, às vezes chegavam notícias escabrosas: “alguém desmaiou!”, “uma diabética está com hipoglicemia!”, “uma grávida está passando mal!”, “não encontraram as balas de festim!”, “sem óleo o projetor vai queimar!”, “mais da metade dos figurantes querem ir embora!”, “a comida ainda não chegou!”, etc., etc. Embora nem tudo tenha saído conforme planejado, e a pressão das circunstâncias tenha impedido, em algumas cenas, a busca do “plano perfeito”, minha co-diretora foi destemida, minhas produtoras foram verdadeiras paladinas, os atores foram incríveis e os técnicos, excelentes. Que Deus abençoe a todos.

Seguem algumas fotos (feitas pela Karina, minha irmã, que se incumbiu da claquete), que incluem nossos atores estreantes Pedro Novaes e Paulo Paiva, colaboradores deste blog. (O Pedro tornou-se um verdadeiro psicopata, uma atuação impressionante.)

Equipe do filme EspelhoCom o ator Pedro NovaesA atriz RenataInstruindo o ator Sandro TorresYuri, no monitorCassia, diretoraO ator Paulo Paiva

Reportagem sobre a “Bíblia alienígena”

Para se criar um apelido infeliz, nada melhor que uma reportagem sensacionalista da TV. Tal como diz um dos entrevistados: “se você considerar anjos e seres espirituais como alienígenas, então este livro trata de alienígenas”. Mas é interessante saber que Elvis Presley – que nunca deixou de ser um cantor gospel – provavelmente travou contato com o Livro de Urântia, assim como o líder da banda Grateful Dead, o autor da série Star Trek e até mesmo gente da Casa Branca.

Como já disse algumas vezes, vem aí o “Efeito Tlön” (vide o conto Tlön, Uqbar, Orbis Tertius, de Jorge Luis Borges). Pouco importa se o livro foi escrito por mentes humanas ou espirituais: um dia, tal como o mundo se tornou Tlön no conto de Borges, o planeta se tornará Urântia. Sim, porque a diferença entre os dois está num ponto muito importante: enquanto o patrocinador dos “sábios” que escreveram o Orbis Tertius exigiu que aquela obra “não compactuasse com o impostor Jesus Cristo”, o Livro de Urântia não apenas compactua, mas alarga nossa compreensão sobre o Senhor do Universo.

Ok, há a polêmica com os cristãos tradicionais, já que, segundo este livro, existiriam outros seres semelhantes a Jesus, outros Filhos diretos de Deus, cada qual criador e governante espiritual de seu próprio universo. Para se chegar a Deus, é preciso passar por um deles, pois são o caminho, a verdade e a vida em seus respectivos universos. Mas, calma, não se chateie, há também o Filho Eterno, a terceira pessoa da trindade e mil outros detalhes que não vem ao caso.

Enfim, só nos resta duas opções: ou o livro é uma fraude, ou é de fato uma revelação, talvez o Evangelho Eterno anunciado pelo Apocalipse. No primeiro caso seria necessário descobrir quem o escreveu. Contudo, ninguém o sabe e, conforme os anos vão passando, mais difícil se torna sabê-lo. Já o segundo caso – é uma revelação autêntica? – exigirá certamente alguns séculos para ser confirmado, uma vez que toda revelação genuína dá início a uma nova civilização. Eis o busílis: essa civilização só começa a engatinhar quando uma massa crítica de pessoas começa a crer na suposta revelação.

Borat e o primeiro filme de Carlitos

Algo me fez sentir que o maluco sem-noção do Borat é uma espécie de Carlitos do século XXI. Eu sei que certas situações criadas por ele – no filme Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan – causam mais constrangimento que risos. Mas, vários dias após assistir a seu longa-metragem, é impossível parar de pensar no cara. E de dar risadas com as lembranças. Alguém pode afirmar que o personagem é um amoral idiota (de fato, segundo Aristóteles, a personagem da comédia está sempre fora da virtude) e que Sacha Baron Cohen, seu criador e intérprete (um cara nascido exatamente 11 dias antes de mim), não passa de um imoral filho-da-mãe. Pouco importa, as gargalhadas são garantidas. A questão é que ele simplesmente levou ao extremo a mesma idéia de Chaplin ao criar seu famoso personagem, o Carlitos. Como Borat, o primeiro filme em que Chaplin interpretou o Vagabundo não era senão uma pegadinha.

Chaplin foi com o diretor Henry Lehrman até uma corrida de carros sem motor – carros impulsionados pela força da gravidade ao descer uma rampa – e ali fez, como diria a turma do Pânico na TV, o papel de Robert. Enquanto o próprio diretor do curta-metragem finge que só quer filmar a corrida dos garotos (Kid Auto Races at Venice), o vagabundo fica invadindo a cena, tentando aparecer. O público da corrida obviamente nunca vira aquele doido antes e, por isso, não percebe que se trata de algo combinado. É ótimo ver a reação das pessoas na tela grande, suas expressões de espanto diante do maluco exibido. Pena que no You Tube não se vê as tais tão nitidamente. Mas tá valendo. (Veja abaixo.)

Quanto a essa gente que insiste em dizer que Borat expõe a babaquice dos americanos, me desculpe: os babacas que aparecem no filme são os mesmos babacas de qualquer canto do mundo. Mesmo assim, a maioria dos americanos com quem ele interage são tolerantes e amigáveis ao extremo. Tudo bem, a polícia foi chamada 91 vezes durante as filmagens para dar um jeito no cara. Mas pense bem: fazendo o que ele faz, em outros países teria sido apedrejado, enforcado, linchado, esquartejado, etc., etc. Mas Borat é como Carlitos. Por mais escroto que seja, o personagem continua com sua aura de inocência. Pena que o sacana do Sacha Baron Cohen tenha necessitado sacanear tanta gente para atingir o efeito desejado. (Eu tenho mania de sentir pena das vítimas do humor. Das vítimas alheias mais exatamente, já que alguns dos meus contos foram o estopim para que alguns leitores também me tachassem de cruel. Mas, enfim…) Pelo que me lembro da autobiografia do Chaplin, descontando Hitler, e após seus primeiros filmes como Carlitos, ele se limitou a sacanear pessoas reais apenas pelos bastidores, fora do olhar das câmeras. Principalmente as mulheres…

Sic semper tyrannis

Assim sempre aos tiranos. Nosso amigo, diretamente da Virgínia, continua mandando bala. Música para o intelecto.

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