blog do escritor yuri vieira e convidados...

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Paris

Quando estivemos em Paris me recusei a sair do hotel. Tomava café e voltava para o quarto, pedia espaguete ou pizza pelo telefone e preferia a televisão à janela. À noite ela chegava, “Estou exausta”, e me narrava em detalhes o tour do dia. Mostrava as fotos que havia tirado, falava dos vestidos lindos “mas caríssimos!” que vira na Galerie des trois quartiers ou na Champs Elysèes. Às vezes me trazia doces exóticos do bairro árabe, ou roçava-me o punho ao nariz, mostrando porque não conseguira se decidir entre os perfumes, “Todos maravilhosos…”

E Paris ficou sendo, para mim, essa mulher que me trazia Paris. Sua inacreditável voz de criança me descrevendo os monumentos da cidade, seu hálito permanentemente doce, seus olhos grandes de libanesa, seu corpo mole de cansaço, que estalava com o meu massagear… E, à noite, quando ela se despia para dormir e seu relatório finalmente terminava, era só então que eu realmente me interessava por Paris — minha exclusiva e deliciosa Paris.

Del vendedor de camisas

Aparentemente nada de muito novo para quem leu as biografias de Che redigidas por John Lee Anderson e Jorge Castaneda. Mesmo a mais oficial delas, para quem não adquiriu tendinite durante a leitura e chegou ao final, não poupa a imagem do grande vendedor de camisetas.
Agora, há também, conforme o Pedro Sette Camara noticia no site do Instituto Millenium, o último livro do Vargas Llosa – “The Guevara Myth and the Future of Liberty” – e um documentário – “Che: Anatomia de un Mito”, daunloudável em formato WMV:

“Fusilamientos, sí. Hemos fusilado. Fusilamos y seguiremos fusilando mientras sea necesario.”

(Via De Gustibus…)

Juros e meio ambiente

O Vinícius, nosso leitor, chama a atenção para a resenha feita pelo Rodrigo Constantino do livro do Eduardo Giannetti, O Valor do Amanhã, mencionado no post abaixo. Coincidentemente comprei-o hoje e espero, em breve, poder comentá-lo.

Pensador muito completo, Giannetti tem, além de tudo, o dom, raro entre economistas, de se expressar com clareza para iniciados e não-iniciados neste mundo relativamente hermético.

Eu não sei se o livro, cujo subtítulo é “Ensaio sobre a Natureza dos Juros”, trata, em algum momento, da questão ambiental. Se não, mais interessante ainda. A questão ambiental é, em essência, um problema de juros.

Eu gostaria muito de ver o Giannetti comentando o livro do Zé Eli, mas não sei se poderei estar lá.

Para ecochatos e fundamentalistas do mercado

Na segunda-feira, dia 20 de março, Eduardo Giannetti (professor do Ibmec e autor de O Valor do Amanhã e Felicidade, entre outros livros) e Sérgio Besserman, ex-presidente do IBGE, debaterão o livro Meio Ambiente & Desenvolvimento recém-lançado pelo professor José Eli da Veiga (FEA/USP). O imperdível debate acontece, a partir das 11 horas, na sala A-1 da FEA, Cidade Universitária, São Paulo.

O livro é evidentemente leitura obrigatória, sobretudo para fundamentalistas do mercado, que não acreditam na realidade da questão ambiental, e ecochatos, que não acreditam na realidade da economia.

90min de entrevista com Jorge Luis Borges

Para assistir a uma prévia da entrevista realizada em 1976 pelo jornalista espanhol Joaquín Soler Serrano com Jorge Luis Borges, clique em play. Para fazer o download da entrevista completa, siga o link mais abaixo.

(Atenção, ao clicar em download, vc precisa seguir os passos com calma, caso contrário se perderá numa infinidade de janelas de publicidade, inclusive pornográficas. Mas que o arquivo com 90min (140.22Mb) de entrevista está lá isso eu posso garantir. Fique atento à parte superior da janela que abrir e vá clicando. Además, muchas gracias a la bitácora Apirronarse por este gran regalo.)

Duelo de Titãs

O Alex Castro pergunta qual é o maior romance latino-americano do século XX? Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquéz, Sobre Heróis e Tumbas, de Ernesto Sábato, ou Pedro Páramo, de Juan Rulfo.

Infelizmente os brasileiros estão fora deste páreo. Se não o estivessem, eu diria, sem pestanejar, “Grande Sertão Veredas”. Cem Anos de Solidão perderia por uma cabeça para a obra-prima de Guimarães Rosa – a ousadia linguística.

Mulher do padre 2

quase um ano já, cansado de tentar convencer meus amigos a lerem o Olavo de Carvalho – de quem li apenas sete ou oito livros (os dois primeiros emprestados pelo poeta Bruno Tolentino em 1999) -, desabafei aqui: “para mim, quem não lê as colunas semanais do O.de C. é mulher do padre”. O irônico é que, sem que eu soubesse de pronto, foi este o único argumento que de fato levou ao menos dois de meus amigos a iniciar a empreitada, o que talvez signifique duas coisas: 1) sou um péssimo dialético, 2) mas um bom retórico, já que apelei com sucesso aos subterrâneos de suas psiques ao utilizar desafio tão primário, tão infantil. E isto, claro, significa uma terceira coisa: embora lhe sinta o cheiro, ainda estou muitíssimo aquém da filosofia…

Mas sem papo furado, quero apenas – diante do excelente artigo do Olavo desta semana, Se você ainda quer ser um estudante sério…, aliás, finalmente um artigo que mostra extensivamente (e não intensivamente, como é o costume dele) aos que nunca tiveram coragem de se aproximar de ao menos um de seus livros qual é o fundo de onde salta esse grande figura – quero apenas repetir: para mim, qualquer intelectual brasileiro que nunca tenha lido sequer um livro do Olavo é mulherzinha do padre. E só. (Ok, agora vá dar pro padre, se é que lhe assentou a carapuça.)

Montaigne

Sempre adiei a leitura desse cara. Dos franceses em geral. Com excessão de Balzac, Proust e Valéry, não tenho paciência com os franceses. Flaubert também me impressionou, mas já passou. Sempre fui mais alemão nas minhas escolhas. Só que me caiu nas mãos “Montaigne em Movimento” do Starobinski. Comprei num sebo juntamente com “Hamlet – Poema Ilimitado”, do Harold Bloom, provavelmente o único intelectual pós-moderno que o Yuri gosta (é isso mesmo, leitor e admirador de Paul de Man, o papai da crítica literária pós-moderna na América).

Adoniran Barbosa e Hilda Hilst

Acho que foi o compositor José Antônio de Almeida Prado quem apareceu, lá na Casa do Sol, em 1999, com uma fita trazendo duas músicas do Adoniran Barbosa sobre letras da Hilda. Como eu estava acrescentando conteúdo ao site dela, fiz uma dessas gambiarras para poder conectar um walkman ao meu então 486DX100 e passar trechos das canções para .wav, que ainda se encontram por lá. Só estou falando disso porque, ainda hoje, muita gente se espanta quando digo que rolou uma parceria do Adoniran com a Hilda. Incluindo aí a surpresa do nosso colaborador Ronaldo Roque.

Para quem quiser ouvir as músicas, agora em mp3, eis os links. A primeira se chama “Quando te achei” e a outra “Só tenho a ti”. (Isto é para ajudar a divulgar, hem, Zé.)

  • Interpretada por Elza Laranjeira:
  • [audio:http://blog.karaloka.net/wp-content/uploads/2006/02/adoniranhh1.mp3]
  • Interpretada pelo próprio Adoniran:
  • [audio:http://blog.karaloka.net/wp-content/uploads/2006/02/adoniranhh2.mp3]

Frenologia

É o estudo da personalidade humana revelada pelos contornos do crânio. Encontrei esta curiosa informação num dos meus inúmeros blocos de anotações (não sei de onde tirei):

Walt Whitman pagou três dólares para que Lorenzo Fowler apalpasse as protuberâncias de sua cabeça. Resultado: “um bom domínio da linguagem” e “escolheria lutar com a boca e a caneta”. Whitman publicou o resultado várias vezes e teve a primeira edição de “Folhas da Relva” (1855) distribuída pela Fowler & Wells.

Uma coisa que não falta é escritor acreditando em teorias estranhas. Pirar é humano. E literário.

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