blog do escritor yuri vieira e convidados...

Categoria: literatura Page 41 of 49

Book On Demand

Agora é a IBM que anuncia entrar nesse esquema de “gráfica inteligente”: um equipamento que permite a impressão de livros de acordo com a procura, sem aquela chateação de ter de encontrar um editor que só publique o livro numa edição de mil, três mil ou, sei lá, dez mil exemplares, o que, claro, implica grande investimento e risco. Não vejo a hora de entrar numa livraria e, num monitor, poder selecionar o livro de um autor pouco conhecido – tipo myself – e ter o livro impresso ali, diante dos meus olhos. Futuramente, uma editora já não precisará se preocupar com gráfica e distribuição, mas apenas com a seleção do texto, revisão, diagramação, layout, arte da capa, enfim, com a versão digital do livro que ficará arquivada numa dessas máquinas. Ou seja, até eu poderei ser meu editor…

Novela é futebol

Observando “noveleiros” da minha família e amigos — a própria Hilda Hilst adorava uma novela — percebi que, no fim das contas, para eles novela não é senão um jogo de futebol mais longo e complexo. Mesmo quando a novela vai mal das pernas, quando as reviravoltas e peripécias são inverossímeis, continuam lá, firmes, assistindo e torcendo para uma melhora do enredo. Reclamar reclamam, mas não arredam pé da frente da TV. (Hilda, por exemplo, fazia críticas e comentários impagáveis. Por conta disso cheguei não exatamente a assistir com ela uma novela, mas a assisti-la assistindo uma novela.) Enfim, reclamam, criticam, mas continuam cheios de esperança. Não é este exatamente o comportamento dos torcedores de futebol?

Arthur Schnitzler

Sempre que revejo “De olhos bem fechados”, do Kubrick, me lembro da primeira vez que, em Brasília, li Arthur Schnitzler. Seus contos são excelentes, sempre indicando a decadência moral através de uma narrativa que mistura realidade e sonho, lucidez e embriaguês, sanidade e loucura. (“De olhos bem fechados” é a adaptação de um de seus livros, TRAUMNOVELLE ou “Romance de Sonho”.) Freud foi amigo e fã desse médico e escritor austríaco, Schnitzler. Quem ainda não o conhece não sabe o que está perdendo.

O mal

Segundo o psicólogo Otto Rank, a dinâmica do mal é a tentativa de fazer o mundo ser diferente do que é, de fazer dele o que ele não pode ser, um lugar livre de acidentes, um lugar livre de impurezas, um lugar livre da morte.

Algo

“Alguma coisa grave aconteceu ou está para acontecer. Os falsos padres são tão numerosos quantos os falsos escritores.” Vintila Horia

Desejo de acreditar

“Há, então, casos onde um fato não pode vir de todo a não ser que exista uma fé preliminar em sua vinda. E onde a fé em um fato pudesse ajudar a criar o fato, seria um lógico insano quem dissesse que a fé correndo adiante da evidência científica é ‘a mais baixa espécie de imoralidade’ na qual um ser pensante pode cair.” (William James, Desejo de acreditar.)
“É melhor arriscar a perda da verdade do que a possibilidade de erro: essa é a posição exata de quem veta a fé.” (idem.)

O poeta

Rimbaud, numa carta de 1871:

Digo que se deve ser um visionário – que é preciso tornar-se um VISIONÁRIO. (…) O poeta se torna um visionário através de uma longa, imensa e refletida desordenação de todos os sentidos. Ele busca todas as formas de amor, de sofrimento, de loucura…

Eu diria que os poetas conseguem essa “desordenação de todos os sentidos” exatamente por tentar ordená-los. É alguém que busca e, no caminho dessa busca, esbarra em amores, sofrimentos e loucuras. O poeta é alguém que teve o azar — acredite, neste nosso mundo é um azar — de ter uma percepção privilegiada.

A esteira e o Livro

É mais do que engraçado o Lula comparar o aprendizado da leitura com uma esteira de fitness. Aqui em casa tem uma esteira dessas. Não existe nada mais entediante. Se eu não abro um livro durante a suadeira, não fico nela mais que cinco minutos. Com um livro, já fiquei até 50 minutos. Pra depois sair, cair na ducha, e logo continuar a leitura. Nessas ocasiões, os melhores livros são os altos e largos, porque não escorregam das nossas mãos. O último que li assim é uma coletânea dos diálogos de Victor Hugo com as “mesas espirituais”, uma moda pré-espírita do século XIX. Nunca vi tanta bobagem junta, nunca vi “entidades” mais cheias de retórica e papo cabuloso. No entanto, não fosse isso, eu preferiria ir andar no parque mais próximo. Só o Lula para aguentar uma esteira sem um livro e ainda compará-los. E não me digam que é meditação. A meditação está noutro plano, tampouco pode ser comparada a um livro.

Hora da novela

Nada como telefonar pra namorada bem na hora da novela das oito. (Oito?! Novela das nove!) Só pra pentelhar um pouquinho. Como dizia o Fernando Pessoa, “irritar é uma forma de agradar. Toda criatura que gosta de mulheres sabe disso, e eu também o sei”.

Hilda Hilst

Pois é, hoje é seu aniversário, Hilda. Parabéns! Foi bom finalmente sonhar com vc após seu passamento.

Page 41 of 49

Desenvolvido em WordPress & Tema por Anders Norén