Rolou, no correr da semana passada, uma discussão interna entre os colaboradores deste blog, via email, a respeito do aquecimento global. Na verdade, participei mais enquanto observador – não tenho acompanhado esse tema com a devida atenção -, mas meus colegas de nome bíblico (Pedro, Paulo e Daniel) andaram medindo os bigodes. Paulo e Pedro já trabalharam nessa área por anos, tendo o Paulo sido superintendente do Parque Ecológico de Goiânia e o Pedro, geógrafo e consultor na área, além de cineasta, com documentários tratando do assunto circulando por aí. Ah, vale dizer que ele também traz os genes do pai, o jornalista Washington Novaes, com anos e anos de dedicação ao debate ambiental. Já o Daniel é mais como o autor deste post, imagino: assim como eu fui um militante da Fundación Natura, no Equador, foi ele membro de um grupo de militância ambiental anos atrás. Enfim, na referida discussão, meu único comentário foi: vcs deviam ter escrito isso tudo no blog. Já que ainda não vejo sinais do debate por aqui, aproveito para dar a deixa ao sugerir a leitura do post do Pedro Sette Câmara, Václav Klaus sobre o aquecimento global, no blog O Indivíduo.
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O Pedro Novaes publicou esta semana a mensagem que recebemos de um dos nossos Trolls. Eu havia deletado o comentário do figura e ele então o reenviou via formulário de contato. Quem tem blog sabe o que é um Troll: um troglodita ignorante que vem berrar e nos xingar em nossa própria casa (home), acreditando que, por sermos defensores da democracia, isto será aceito de bom grado. O Rafael Arcanjo publicou um ótimo texto sobre o tema. (Tal como ele, eu também já detectei, pelo IP, comentários fakes em que o Troll faz um novo comentário, sob diferente identidade, apenas para apoiar um seu comentário anterior. Ahahaha. Esses caras são muito otários.)
Contardo Calligaris, na Folha de hoje, sobre a redução da maioridade penal:
CONTARDO CALLIGARIS
Maioridade penal e hipocrisia
Nossa alma “generosa” dorme melhor com a idéia de que a prisão é reeducativaUM ADOLESCENTE de 16 anos fazia parte da quadrilha que arrastou o corpo de João Hélio, 6 anos, pelas ruas do Rio.
A cada vez que um menor comete um crime repugnante (homicídio, estupro, latrocínio), volta o debate sobre a maioridade penal.
Em geral, o essencial é dito e repetido. E não acontece nada. Aos poucos, o horror do crime é esquecido. Não é por preguiça, é por hipocrisia. Preferimos deixar para lá, até a próxima, covardemente, porque custamos a contrariar alguns lugares-comuns de nossa maneira de pensar. 1) A prisão é uma instituição hipócrita desde sua invenção moderna.
Ela protege o cidadão, evitando que os lobos circulem pelas ruas, e pune o criminoso, constrangendo seu corpo. Mas nossa alma “generosa” dorme melhor com a idéia de que a prisão é um empreendimento reeducativo, no qual a sociedade emenda suas ovelhas desgarradas.
A versão nacional dessa hipocrisia diz que a reeducação falha porque nosso sistema carcerário é brutal e inadequado. Essa caracterização é exata, mas qualquer pesquisa, pelo mundo afora, reconhece que mesmo o melhor sistema carcerário só consegue “recuperar” (eventualmente) os criminosos responsáveis por crimes não-hediondos. Quanto aos outros, a prisão serve para punir o réu e proteger a sociedade.
Deixa eu fazer aqui, a você leitor(a), a mesma pergunta que fiz a um colega de blog este final de semana, quando então fomos juntos ao cinema: se você chegasse em casa mais cedo, pisando leve, com a pretensão de surpreender sua esposa (ou esposo), e a(o) visse ali, ao computador, de costas para você, extremamente entretida(o), alheia(o) ao mundo circundante, e você então fosse se aproximando ainda mais, silenciosamente, até poder observar a tela por sobre seu ombro e, nesta, você não vislumbrasse senão o avatar dela(e) a transar com o avatar do(a) seu(sua) melhor amigo(a) – e tudo isso coroado pelo fato de que ela(e) se masturba -, enfim, me diga, continuaria achando o Second Life apenas um joguinho?
O pessoal de Davos não pensa assim (via CNN):
Getting a Second Life in Davos
DAVOS, SWITZERLAND (Fortune) — I’ll reiterate what I said in a feature story I wrote for the current issue of Fortune – Second Life is important not because it resembles a game, or because of how many people are signing up, or the big companies starting to do business inside it. What convinces me it is one of the most significant technology breakthroughs in history is that it is a platform on top of which users can create their own software and content, realize their ideas, and even make money.
One aspect of that user-generated content is the avatar itself, the cartoony digital self-manifestation through which a user navigates and experiences Second Life. It is created by the user and its behavior can be whatever the user would like. Just because you’re a 50-year-old man, for instance, doesn’t mean you can’t have a 20-year-old female avatar (something I briefly tried).
Here in Davos, Switzerland, where I am attending the World Economic Forum, I had the privilege of moderating a dinner discussion with a group of thinkers on what it means that avatars are contributing to a new form of digital online identity.
The discussion was incredibly animated – perhaps more so than any dinner panel I’ve ever moderated. Discussants included Linden Lab board chairman Mitch Kapor along with Sun’s (Charts) optimist and big-picture educator (and chief scientist) John Gage, Skype co-founder Niklas Zennstrom, French blogger Loic Le Meur, Singapore Youth Minister Vivian Balakrishnan, Harvard literature professor Homi Bhabha, brain scientist Baroness Susan Greenfield, Israeli investor and tech leader Yossi Vardi, and former MTV President Michael Wolf.
What surprised me were two things – first that Bhabha and Greenfield had such pertinent observations to make, respectively, about the literary influences already evident in virtual worlds and the potential impact of digital identity on our conception of what constitutes reality and offline identity.But even more impressive was the very fascination that the room-full of miscellaneous Davos leaders clearly feel about Second Life, regardless of whether they have tried it or not. Those attending the dinner ranged from Vyomesh Joshi, who runs HP’s huge printing business, to Suzanne Seggerman, who heads a New York nonprofit called Games for Change, to Karim Kawar, former Jordanian ambassador to the U.S. Such is the diversity of power and thinking in Davos.
Everyone was riveted by the analyses of Bhabha, Gage, and Greenfield, among others, and by what Kapor said about what Linden Lab is aiming to accomplish.
Fortune Outlook 2007I spent today asking myself what it is about Second Life that has suddenly engaged the interest of so many different kinds of people, in a way that other technology topics seldom have.
Here’s what I hypothesize: Second Life enables online human communication to resemble offline in-person communication more than, up to now, has any application, including e-mail, instant messaging, chat rooms, and even online games.
Conforme escrevi em Novembro de 2003, acho que a maioridade penal não deveria ser reduzida para 16, 14 ou 12 anos de idade, mas aumentada para 55 ou 60 anos. Seria o primeiro passo em direção à consciência de um fato inquestionável: este país é uma terra de gente babona, catarrenta, imatura e infantilizada até a medula. Do contrário, um coitado como o Lula – em meio a mensalões, dólar em cueca, assassinatos de prefeitos, conexões com FARC, Chávez, etc. – enfim, um tagarela como ele jamais teria sido eleito. Aliás, segundo a revista Época, o ministro da Justiça vai fazer corpo mole e fugir de qualquer atitude mais drástica para com a bandidagem simplesmente porque… ora, porque a ONU não quer uma tal atitude…
Deve chegar ao Congresso Nacional, depois do carnaval, o texto final dos projetos de lei da reforma política – tão esperada e sempre adiada. Um deles relatado pelo deputado federal Ronaldo Caiado, aqui da terrinha. O projeto foi moldado não apenas pela comissão especial de reforma política do Congresso, mas também assimilou sugestões da sociedade civil organizada, principalmente pela OAB.
Muita gente já comentou o documento. Alguns, como o Tio Rei, soltando os cachorros para cima de propostas como a que permite a convocação de plebiscitos e referendos sem a aprovação do Congresso. Ou elogiando o documento e, ao mesmo tempo, repudiando sua impossível aprovação, já que boa parte das propostas não agrada aos senhores congressistas.
O que eu queria fazer, entretanto, é uma pequena digressão sobre os objetivos da reforma política, porque eles contém valores políticos fundamentais, além de introduzir no debate político aqui do blog uma perspectiva um pouquinho mais analítica.
Há gente que não gosta de Bernardo Carvalho. Acham-no pedante, artificial e forçadamente intelectual em seus romances e contos.
Eu acho “Nove Noites” um romance espetacular. “Mongólia” também é muito bom, embora não se compare ao anterior. E seus contos são, em geral, excelentes.
“Nove Noites”, que acabo de reler como referência para um roteiro que estou escrevendo, é a história da história de Buell Quain e, principalmente, da obsessão do próprio Carvalho em entender o mistério em torno desta figura perdida na história da antropologia e do indigenismo brasileiros.
Quain foi um antropólogo americano, discípulo de Ruth Benedict e Franz Boas, que se suicidou entre os índios Krahô, no Maranhão, em 1939. Sua morte nunca foi plenamente explicada.
Instigado pela menção recorrente deste nome em sua vida, Bernardo Carvalho tenta encontrar o fio da meada da verdade sobre Quain em meio às poucas pistas restantes sobre sua vida e suas duas viagens ao Brasil: uma primeira expedição à região do Xingu, para pesquisa junto aos índios Trumai, e sua ida ao Maranhão, que culminaria no desfecho trágico de sua existência.
E como desencavar a verdade “numa terra em que a verdade e a mentira não têm mais os sentidos que o trouxeram até aqui”, adverte logo à abertura do livro Manoel Perna, o outro narrador do livro, além do próprio Carvalho, um suposto amigo de Quain em Carolina, no Maranhão?
E continua: “Pergunte aos índios. Qualquer coisa. O que primeiro lhe passar pela cabeça. E amanhã, ao acordar, faça de novo a mesma pergunta. E depois de amanhã, mais uma vez. Sempre a mesma pergunta. E a cada dia receberá uma resposta diferente. A verdade está perdida entre todas as contradições e os disparates. Quando vier à procura do que o passado enterrou, é preciso saber que estará às portas de uma terra em que a memória não pode ser exumada, pois o segredo, sendo o único bem que se leva para o túmulo, é também a única herança que se deixa aos que ficam, como você e eu, à espera de um sentido, nem que seja pela suposição do mistério, para acabar morrendo de curiosidade.”
O resultado é um romance das possíveis verdades sobre a morte de Quain, não excluindo a hipótese mais banal de um suicídio sem histórias mirabolantes por trás – um surto de uma personalidade frágil exposta pela experiência radical de isolamento em meio a uma sociedade absolutamente estranha.
O melhor de tudo é que a estrutura do romance reforça a idéia das “verdades possíveis” ou de verdades parciais que se entrecruzam, situando-se na fronteira entre a ficção e um esforço de jornalismo investigativo. No texto, sobrepõem-se às palavras de Bernardo Carvalho, além das parcas fotos disponíveis de Buell Quain, supostas cartas deste Manoel Perna, um engenheiro de Carolina, último amigo de Quain e derradeiro não-índio a vê-lo vivo.
São pouco os escritores que conseguem abraçar com resultados elogiáveis este tipo de estrutura meio pós-moderna. Na maior parte dos casos, gera-se muito barulho por nada e os livros se esvaziam à medida em que se aproximam do final pela própria falta de sentido. Tramas rocambolescas que prendem o leitor de início, mas que não tardam a denunciar a própria fraude que são.
Não é o caso de Bernardo de Carvalho.
Conversei bastante, ontem, sobre ciência e religião com meu amigo Elder Dias. Colocando todos os argumentos na balança, o que me parece decisivo nesta história toda é o seguinte: em várias situações e de várias formas ao longo da história, a Igreja reviu seus argumentos em função de descobertas científicas. Mas nunca – pelo menos que eu saiba – a ciência reviu suas descobertas em função de argumentos ou dogmas religiosos. A ciência avança obedecendo sua lógica interna enquanto a religião revisa seus pontos de vista por conta do desenvolvimento científico. Neste sentido estrito, a ciência me parece um discurso muito mais coerente e consistente do que a religião.
Fiquei uma semana nos Estados Unidos. Voltei neste domingo. Minha sensação é a pior possível. O Brasil está pior, muito pior. Aliás, nosso país vem piorando a cada semana há décadas. Quando embarquei naquele avião no início do mês, o menino João Hélio Fernandes, de 6 anos, ainda estava vivo. Não tinha sido arrastado por 7 quilômetros preso ao cinto de segurança, enquanto deixava pedaços do corpo espalhados por vários bairros do Rio. Antes, segundo a mãe, era um menininho faceiro e brincalhão. Sorriso lindo agora só visto nas fotos. Há pouco tempo foi o outro menininho em São Paulo, fritado vivo dentro de um carro com a família. Antes tinha sido aquele outro ônibus no qual a vítima havia sido um bebê e uns outros desafortunados que estavam no lugar errado, na hora errada. E antes teve aquele, e aquele outro também.
E assim vamos em frente, vendo a barbárie tornar-se algo cotidiano, impregnado em nossa sociedade, e apenas rezando para que não chegue até nós. Mas é só. De resto, a sociedade brasileira não faz nada além. Não há um único movimento da sociedade civil organizada no sentido de conter uma das vertentes principais da criminalidade: a impunidade. É ela a grande vilã do presente e do futuro do Brasil como nação. É ela que permite à bandidagem comandar quadrilhas de dentro das cadeias, autoriza um Pimenta Neves a matar a namorada pelas costas, ser julgado, condenado, e ter a mesma liberdade que eu tenho de andar nas ruas, dirigir o meu carro e tirar um filme na locadora. É a impunidade que garante aos mensaleiros andar de cabeça erguida, como se honrados fossem, fazendo discursos no Congresso e gastando nos duty frees nas horas vagas. É também ela que joga na rua um menor delinqüente chamado Champinha, que violentou uma jovem durante três dias para depois assassiná-la com mais de 20 facadas.
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“O Senhor é meu pastor, nenhum passarinho me pegará…”
Procissão de lagartas no corrimão da varanda da casa dos meus pais.