Talvez eu já tenha escrito sobre isso e, se o fiz, farei de novo. Porque merece. Para mim, o maior exemplo da jequice acadêmica nacional – e sua corrida interna por títulos, salários, regalias, puxa-saquismos, etc. – foi o fato de a UnB não ter aceito o escritor argentino Jorge Luis Borges como professor apenas porque ele não tinha curso superior… Pode uma coisa destas? E o cara já tinha aceito o convite, salvo engano, do Darcy Ribeiro. Bom, não preciso falar mais nada…
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“When people ask me if I went to film school I tell them, ‘no, I went to films.”
Quentin Tarantino“The best education in film is to make one.”
Stanley Kubrick
É isso aí.
Hoje, meu sobrinho de cinco anos de idade chorou para não ir à escola. Disse minha irmã:
“Vai sim, você precisa estudar! Ou será que você quer ser presidente do Brasil quando crescer?”
O artigo do Rui Nogueira – O ProUni de Lula, a USP, a Unicamp e a Unesp – deve ser lido por inteiro, mas eis alguns trechos:
Chamar as coisas pelo nome, retratá-las como elas se apresentam e são usadas pelos atores públicos no cenário político. A propaganda supera o jornalismo, principalmente o impresso, sempre que chefes de reportagem, repórteres, fotógrafos e editores abrem mão de cumprir a tarefa mínima da profissão, que é conectar “lé” com “cré”, explicar de onde as coisas nascem, por onde transitam e para onde se dirigem. Eis o que nos distingue do instantâneo do rádio e da TV.
Fazer cobertura política sem tratar do significado das ações políticas, relatando apenas o que os políticos dizem, é escrever atas ingênuas, equivale a fazer propaganda. É óbvio que há declarações políticas que beiram o vazio, são desprovidas de conteúdo, típico palavrório ao vento. Mas o discurso que o presidente da República adotou, dizendo sempre o que os outros não teriam feito, em comparação com o que ele realizou ou promete realizar, é perfeitamente mensurável do ponto de vista político-partidário e da política pública citada.
Nunca tive em meu ventre nada mais importante que meu almoço.
Pouco tempo atrás, no Estadão, a editoria em que eu trabalhava publicava os temas relacionados ao aborto. Sem exceção, toda reportagem era seguida de cartas e e-mails. O leitor padrão do jornal não é exatamente liberal em relação a comportamentos. Ou seja, as cartas normalmente criticavam a cobertura ou apenas o fato de se dar espaço ao tema.
A editoria era composta por maioria de mulheres. Grandes mulheres, ótimas profissionais. Mas, mesmo na busca utópica pelo debate igualitário (e a maioria o procurava), a cobertura tendia para certo lado, inconscientemente ou não — não sou tão ingênuo; já tive de podar asinhas de repórteres.
O fato é que essa história do almoço me incomodava. Melhor: me incomoda. O que diabos eu sei?
Vi uma frase da Clarice Lispector aqui no blog, na seção Bem Dito, que me lembrou de uma cena inusitada que presenciei há muitos, muitos anos: “Estou com tanta saudade de Deus.”
Estudei boa parte da minha infância no Sacré-Coeur de Marie, um colégio dirigido por freiras na Rua Toneleros, em Copacabana. As freiras eram bem rígidas, acho que até demais. Não tenho lá boas recordações delas. Lembro-me de broncas, caras enfezadas, alguns puxões pelo braço — eu sei, eu não era bem um santinho.
Do artigo A tragédia do estudante sério no Brasil, do Olavo:
A inteligência, ao contrário do dinheiro ou da saúde, tem esta peculiaridade: quanto mais você a perde, menos dá pela falta dela.
Para quem optar por tornar-se um autodidata…
O processo é trabalhoso, mas simples: cumprir as tarefas tradicionais do estudo acadêmico, dominar o trivium , aprender a escrever lendo e imitando os clássicos de três idiomas pelo menos, estudar muito Aristóteles, muito Platão, muito Tomás de Aquino, muito Leibniz, Schelling e Husserl, absorver o quanto possível o legado da universidade alemã e austríaca da primeira metade do século XX, conhecer muito bem a história comparada de duas ou três civilizações, absorver os clássicos da teologia e da mística de pelo menos três religiões, e então, só então, ler Marx, Nietzsche, Foucault. Se depois desse regime você ainda se impressionar com esses três, é porque é burro mesmo e eu nada posso fazer por você.
Em 1997, um relâmpago de indignação cruzou o céu nublado da vida universitária brasileira. No Rio de Janeiro, Pedro Sette Câmara quase foi linchado (leia aqui) ao divulgar seu artigo onde provava que os politicamente corretos da Semana da Consciência Negra é que se comportavam como racistas. Em São Paulo, Julio Daio Borges publicava seu desabafo-manifesto “A Poli como Ela é“, causando polêmica entre seus colegas e professores e o reconhecimento quase solitário do jornalista Luis Nassif. Quanto a mim, em Brasília, eu finalizava o livro A Tragicomédia Acadêmica – Contos Imediatos do Terceiro Grau, iniciado em Outubro de 1996, que não foi senão minha vingança literária contra a modorra e a alienação que nos são incutidas pelas universidades (estudei em três delas).
Depois de ler a notícia no site da Universia Brasil (USP estuda criar graduação para o MST) e o artigo do Olavo, fiquei pensando: será que por ser herdeiro dumas terrinhas no centro-oeste poderei entrar nesse curso “voltado para o campo”? Afinal, ainda há uma tal democracia, não é? E eu já passei em seis vestibulares… Não, concluí em seguida, infelizmente não sou coletivista e analfabeto o suficiente. Sim, analfabeto, porque essa gente pretende fazer apenas provas orais durante o curso, já que não dominam muito bem a linguagem escrita… Analfabetismo doutoral, diz o Olavo. É por essas e outras que minha ojeriza pela universidade aumenta cada dia mais.