blog do escritor yuri vieira e convidados...

Categoria: Mídia Page 4 of 60

Times Archive

O jornal inglês The Times abriu seu arquivo gratuitamente na internet. Pode-se pesquisar reportagens de 1785 a 1985. Pois é, são 200 anos mesmo.

Pesquisei sobre Santos-Dumont e apareceram reportagens de 1901, 1902, 1904… Com “Machado de Assis” veio um texto de 1927.

Busquei ainda “Richard Francis Burton”, o explorador que rodou meio mundo no século 19, Brasil incluso, e surgiram textos desde 1890 (na verdade, ano de sua morte; tenho certeza de que encontraria algo mais antigo, mas a busca travou).

O primeiro texto com “Robespierre” é de 1791.

É preciso fazer um cadastro para acessar as reportagens e a ativação disso pode demorar um pouco.

Novo homem

Não deixa de ser interessante. Do Estadão:

Revista masculina busca novo perfil

Nas publicações da Abril, anúncios de moda superaram este ano pela primeira vez os de automóveis e bebidas

A Internet rastreada

Foi aprovada ontem no Senado Federal proposta substitutiva ao projeto de Lei da Câmara que trata dos crimes praticados na Internet. É o famigerado texto do senador Eduardo Azeredo. A blogosfera entrou em alerta. Os argumentos levantados em diversos sites podem ser resumidos a dois principais, ilustrados aqui pelo Pedro Dória e pelo Carlos Castilho. Segundo o Doria,

A lei cria o provedor que delata. Se uma gravadora, por exemplo, rastreia que um usuário ligado ao Speedy em São Paulo ou ao Vírtua em Maceió está usando a rede Bit Torrent, de troca de arquivos, ela pode ir à Justiça pedir a identidade do sujeito. Telefónica (do Speedy) ou Net (do Vírtua) são obrigados a dizer quem foi. Não importa que, muitas vezes, os arquivos trocados sejam legais. O fato é que todo provedor de acesso se verá obrigado a manter por três anos uma listagem de quem fez o quê e que lugares visitou na web. É como se os Correios mantivessem uma lista de todos os usuários de seu serviço e que indicasse com quem cada um se correspondeu neste período de anos. É coisa de Estado policial e uma franca violação da liberdade.

Outro problema da lei é a proibição de que se ‘obtenha dado ou informação disponível em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização do legítimo titular, quando exigida.’ Vai uma pena de 2 a 4 anos, mais multa. O objetivo, evidentemente, é proibir pirataria. Mas imagine-se a loucura de ter a necessidade de provar que está autorizado a carregar qualquer informação colhida na rede.

A rede é, essencialmente, uma máquina de cópias. Carregou esta página do Weblog? Há uma cópia dela em seu HD. Um CD comprado só permite seu uso em CD players. A não ser que Herbert Viana ou outro dos Paralams o autorize expressamente, nada de passar para o iPod. O Google está digitalizando milhares de livros fora de catálogo. Muitos deles têm o detentor do copyright desconhecido. Se o dono aparecer, eles tiram da lista. Em caso contrário, fica público. No Brasil, se o substituto do senador Azeredo for aprovado, esta que será a maior biblioteca pública do mundo será ilegal. Esse artigo é tão mal escrito que, no fim das contas proíbe o uso da Internet.

O Castilho acrescenta o pertinente argumento de que é uma lei antiga para uma coisa nova. O descompasso pode torná-la obsoleta.

Para criar um conjunto de condutas e valores capazes de coibir a delinqüência virtual (tipo pedofilia, roubo, difamação, chantagem, terrorismo etc) é necessário primeiro procurar entender a natureza do processo no qual estão inseridas a internet e a Web. Impor um modelo repressor idêntico ao usado para canais de comunicação como radio, televisão e cinema, é uma absurda perda de tempo e de energias, porque até os neófitos da rede sabem que será um fracasso.

A internet não é apenas um conjunto de computadores interligados entre si. Ela já é uma expressão do novo sistema de produção econômica e cultural gerado a partir de inovações tecnológicas como a computação e a digitalização, que por sua vez são o resultado de pressões dos agentes econômicos por processos mais rápidos e automatizdos, capazes de atender à demanda de uma população em crescimento acelerado.

O mundo moderno tornou-se complexo demais para que continuemos a usar sistemas e valores surgidos junto com a da revolução industrial. No contexto atual, a troca e conseqüente recombinação de informações, sejam elas em texto, áudio ou imagens precisa ser a mais ampla possível para que os conhecimentos sejam produzidos no ritmo exigido pela economia e pela sociedade contemporânea.

Não se trata, portanto, de ser contra a tentativa de normatizar o uso da Internet e previnir crimes como pedofilia. O problema é que esta propsta não consegue fazer o que promete e ainda atrapalha o que está funcionando. Quem quiser pode assinar a petição aqui.

Bem-vindo à Era do Petabyte

Um modo acurado de entender teorias científicas é compará-las a modelos. Ou melhor, modelos são simulações de funcionamento dos princípios de uma teoria. São construídos a partir de dados. O exemplo mais comum vem da metereologia, mas também encontramos modelagem na física e na biologia. Com os modelos podemos entender de que modo os dados empíricos se associam para formar uma explicação razoavelmente coerente dos fenômenos estudados. É uma espécie de semântica dos dados. Com informações sobre o comportamento de massas de ar, áreas de pressão, velocidade dos ventos, temperatura e imagens de satélite alimentando um determinado modelo, podemos prever, com boa dose de acerto, o comportamento do clima. Exemplos podem ser encontrados aqui.

O interessante sobre os modelos é que muitos deles se baseiam, na verdade, na insuficiência de dados e não em sua abundância. O modelo utiliza hipóteses derivadas da teoria para preencher a lacuna deixada pela falta de informação. É por isso que a Física formula teorias consistentes com até 12 dimensões sem ter conseguido provar, experimentalmente, mais do que quatro. Acontece o mesmo na Economia, principalmente na Teoria dos Jogos de Estratégia. Aliás, incidentalmente, foi a procura por um modelo econométrico que inspirou a criação do Instituto Santa Fé, cuja principal conquista foi a controversa Teoria do Caos (sobre isso, o livro mais legal que já li é esse).

Nem mesmo as ciência humanas – notadamente a sociologia e a economia – escaparam da hipótese de se poder modelar o comportamento social humano. Na Sociologia, a Teoria dos Sistemas (cf. Niklas Luhmann e Talcott Parsons) gerou modelos computacionais sobre interação social e comportamento de consumo. Se quiser aprofundar basta checar a literatura sobre sistemas complexos adaptativos.

Mas os pressupostos metodológicos e epistemológicos por detrás da idéia de modelagem podem ter sido ultrapassados pela tecnologia. É o que argumenta a reportagem da Wired “O fim da teoria“. Segundo Chris Anderson, editor de ciência da revista,

Sixty years ago, digital computers made information readable. Twenty years ago, the Internet made it reachable. Ten years ago, the first search engine crawlers made it a single database. Now Google and like-minded companies are sifting through the most measured age in history, treating this massive corpus as a laboratory of the human condition. They are the children of the Petabyte Age.

O raciocínio de Anderson tem a ver com a equação quantidade x qualidade. Segundo ele a tecnologia nos dá a capacidade de interagir com quantidades de informação nunca antes disponíveis aos indivíduos sem a mediação de um modelo teórico que conferisse algum sentido a estes dados. No lugar das teorias, algoritmos de busca. No lugar da causalidade, correlação. O que sustenta este raciocínio é a percepção (ele não formula um tratado sobre o assunto) de que não é mais possível circunscrever toda informação disponível a uma totalidade de sentido. Por mais irônico que possa parecer, quando finalmente temos acesso a quantidades impressionantes de dados para comprovar a plausibilidade de determinados modelos, eles não são mais necessários.

At the petabyte scale, information is not a matter of simple three- and four-dimensional taxonomy and order but of dimensionally agnostic statistics. It calls for an entirely different approach, one that requires us to lose the tether of data as something that can be visualized in its totality. It forces us to view data mathematically first and establish a context for it later. For instance, Google conquered the advertising world with nothing more than applied mathematics. It didn’t pretend to know anything about the culture and conventions of advertising — it just assumed that better data, with better analytical tools, would win the day. And Google was right.

Este raciocínio tem um pressuposto, entretanto. A idéia de que teorias científicas são constructos anteriores à experimentação e sua “verdade” deve ser comprovada ex post facto. Em outras palavras, Anderson é um popperiano legítimo e sua interpretação da lógica da ciência pode ser entendida como um racionalismo crítico. Para falar com Bachelard, o vetor epistemológico vai da teoria em direção à experiência. É por isso que ele vê uma espécie de revolução no modelo científico ao entender que a tecnologia inverte o vetor bachelardiano. Agora, é a experiência que vem primeiro.

There is now a better way. Petabytes allow us to say: “Correlation is enough.” We can stop looking for models. We can analyze the data without hypotheses about what it might show. We can throw the numbers into the biggest computing clusters the world has ever seen and let statistical algorithms find patterns where science cannot.

Como evidência Anderson cita um cluster formado pela IBM, Google e mais seis universidades americanas prestes a colocar um gigantesco conjunto de precessadores de informações para funcionar. Curiosamente, o projeto inclui também programs de simulação (modelos!!) do cérebro e do sistema nervoso.

The cluster will consist of 1,600 processors, several terabytes of memory, and hundreds of terabytes of storage, along with the software, including IBM’s Tivoli and open source versions of Google File System and MapReduce. Early CluE projects will include simulations of the brain and the nervous system and other biological research that lies somewhere between wetware and software.

Learning to use a “computer” of this scale may be challenging. But the opportunity is great: The new availability of huge amounts of data, along with the statistical tools to crunch these numbers, offers a whole new way of understanding the world. Correlation supersedes causation, and science can advance even without coherent models, unified theories, or really any mechanistic explanation at all.

Eu, do meu lado, não consigo ver no horizonte da tecnologia uma mudança tão radical a ponto de redimensionar a relação teoria x experiência na ciência. Sem dúvida Anderson tem a seu favor a evidência histórica de que os impactos de uma nova tecnologia podem, realmente, alterar o modo como a ciência vê a si mesma (basta lembrar do telescópio de Galileu).

Por outro lado, as revoluções científicas sempre acontecem antes na especulação criativa dos cientistas do que na análise fria dos dados. Foi o que aconteceu com a teoria de evolução, por exemplo. Mesmo que, nos termos de Anderson, a correlação supere a causalidade, a ciência percorreu um caminho muito tortuoso e difícil até admitir sua natureza histórica, sua dimensão verdadeiramente humana (toda ciência é humana, neste sentido!) para agora dar meia-volta inspirada em algo evidente desde os gregos: a realidade é imensamente complexa e nossa capacidade limitada. Uma posição meramente instrumentalista, como a que Anderson defende, implica abandonar o problema do sentido, deixando-o de lado como se fosse um brinquedo quebrado. É preciso recuperar o pasmo essencial. Teorias serão sempre necessárias.

Sobre as Farc

Um texto muito bom sobre as Farc no blog do Pedro Dória. Vale a pena.

América Latrina

Clássicos em papel higiênico

Eca(sorrindo): “E não é o final dos tempos? O que é o Apocalipse? Não é o Livro da Revelação? As coisas hoje estão se revelando para quem quiser ver — revelando-se em sua inconsistência e mediocridade. Nada mais é feito para durar além do tempo que dura um modismo. Você vê por exemplo essa idéia de editar clássicos da literatura em papéis higiênicos… Nada mais significativo.”

Gazeta Uenebense
: “Mas se não fosse essa idéia eu jamais teria lido Joyce e Maupassant.”

Austris: “E também jamais teria cagado na obra de ambos.”

As declarações acima foram emitidas por Roberto Eca e Mauro Austris — personagens do meu conto “Paralíticos e Desintegrados” — em 1997, ano em que foi escrita A Tragicomédia Acadêmica. Tal como outras previsões malucas encontradas nos contos do mesmo livro, segue-se mais esta, anunciada como grande novidade pelo próprio Jornal Nacional. (Veja no G1.) Se eu cobrasse royalties por invenções desse tipo, estaria bem de vida. (Sim, William Bonner, eu já tinha inventado isso 11 anos atrás.)

Bolsa: melhor do que pensava

Eu comecei no InvestidorVirtual.com dia 17 de Maio. De lá pra cá, já tive um prejuízo de R$ 4.518,00, ou seja, de 4,5%. Entrei com R$ 100.000,00. Já estava achando que não sou um bom surfista dos gráficos da bolsa de valores, mas hoje li esta notícia:

* Perda da Bolsa em junho é a maior desde abril de 2004 iG Ultimo Segundo – 20/06/2008, 19:01
Se junho encerrasse hoje, as perdas acumuladas pela Bolsa de Valores de São Paulo no mês seriam as maiores desde abril de 2004. O Ibovespa, principal índice da Bolsa paulista, registra queda de 10,99% em junho até o pregão desta sexta-feira (que foi encerrado com declínio de 2,97%).

Enfim, entrei no mercado justamente quando se iniciaria o mês de maior baixa desde Abril de 2004. E detalhe: minha perda não foi de 10,99%, mas apenas de 4,5%, o que significa que me agarrei com unhas e dentes e não fui pior que a IBOVESPA como um todo.

Um dia, eu chego lá. 🙂

Morre o Visconde de Sabugosa

Se você tem mais de 35 anos provavelmente assistiu, lá pelo meio da década de 80, ao Sítio do Pica-Pau Amarelo, série de TV inspirada na obra de Monteiro Lobato. Se você, além disso, era um garoto meio nerd apaixonado por tecnologia, ciência e filosofia, seu personagem preferido deve ter sido, certamente, o Visconde de Sabugosa (além, é claro, do Pedrinho, dotado de uma inteligência pragmática realmente genial).

Mas o Visconde era uma enciclopédia de erudição. Inspirado na elite científica britânica (Royal Academy) formava o par oposto com a boneca Emília, fruto da intuição pura. Eu adorava o Visconde pelo seu porte nobre, um tanto didático e professoral (para um moleque de 5ª série, perfeito) e pelo modo como acessava os problemas de modo analítico e racional. Visconde de Sabugosa foi o primeiro intelectual que conheci.

Crianças geralmente confundem ator e personagem e comigo não foi diferente. Quando, mais tarde, decidiram mudar o ator perdi o entusiasmo com a série. Estava crescendo, também. Minha memória afetiva, entretanto, plasmou a figura do personagem em André Valli. Para mim não há outro Visconde, apenas aquele feito pelo André. O original.

Diz a matéria do G1 que ele foi diagnosticado com câncer há apenas um mês. Como teria reagido Visconde? Teria procurado informações na enciclopédia, analisado a situação e partido em mais uma aventura, agora em busca de uma salvação? Como reagiu o ator? Não sei. Deve ter sido difícil. Quem dera pudéssemos apanhar uma outra espiga de milho e devolver-lhe, num passe de mágica deliciosamente anticientífico, a vida. Descance em paz, Visconde/André. As sementes que Lobato lhe colocou na boca – e para as quais você foi forma e adubo – ainda estão a germinar por aqui. Num vasto milharal…

O ataque do clone

Dia desses recebi um pedido estranho via Orkut: uma leitora do meu blog queria meu telefone para confirmar se eu era eu mesmo. “Como assim?”, perguntei, “é claro que eu sou eu”. Sim, algo estranho devia estar acontecendo, mas eu tive de especular com ela um pouco mais para entender o estranho pedido. Na minha vaidade, já que ela era uma garota bonita, pensei que se tratava de algum tipo de cantada, mas, na verdade, a coisa era mais bizarra: ela vinha conversando no MSN com um sujeito que dizia ser eu. Ou melhor: ele nunca usava meu nome, mas apenas minhas experiências, meus relatos e minhas idéias. Parece que tudo começou numa conversa sobre Hilda Hilst em algum bate-papo UOL, conversa essa que continuou no Second Life, e o cara, segundo consta, dizia ter morado com a escritora na Casa do Sol, tal como eu morei, e vinha utilizando informações retiradas — segundo a garota pôde descobrir ao pesquisar no Google — do meu blog, dos meus textos, podcasts e assim por diante. (Impressionante como o assunto “Hilda Hilst” atrai gente maluca…) Ou seja: esse cara deve ser uma espécie de fã número 1 (vide o filme Uma Louca Obsessão), um psicopata que sabe tudo sobre mim e tenta me usar para se dar bem por aí. E o pior de tudo é que, segundo ela, a voz dele até se parece com a minha e, na webcam, tem o mesmo tipo físico. (Se bem que, no momento, não estou usando cavanhaque e ele, sim — mas eu postei fotos de cavanhaque no Orkut faz pouco tempo…) Enfim, esse não é meu primeiro “clone” a aparecer por aí — eu tinha sósias até na Universidade, e meus colegas costumavam me zoar por isso –, mas este é o primeiro a não apenas se parecer comigo mas a também querer se fazer passar por mim. A coisa acabou assim: enviei meu telefone para a figura e ela me telefonou no momento em que conversava com o cara na webcam do MSN. (Na ocasisão, eu estava no Glória cercado de gente, enquanto ele estava num quarto silencioso.) E, assim, ela o desmascarou.

Sempre soube dos riscos de se abrir a própria vida na internet e nos livros, mas essa situação me deixou bastante apreensivo. Imagine se nego comete algum crime enquanto se faz passar por mim! Tá louco. Se bem que a idéia daria uma boa história policial…

E já que você deve acompanhar meu blog, caro clone, fique sabendo que já estou a par de suas atividades. Cuidado!

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