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Categoria: especulativas Page 2 of 14

Natal

Pelo horário do post vocês já devem imaginar que comi horrores e não consigo dormir nesta madrugada de natal. Então, aqui vai um post cheio de pernil, salada com pesto, arroz com castanhas e trufa (que sobremesa maravilhosa!).

Natal é clima. Natal é família. Natal é surpresa. Este ano ganhei dois presentes incríveis. O primeiro foi da minha esposa, Adriana (um beijo, meu bem). Ela me deu o livro “A cidade e a infância” do escritor português José Luandino Vieira. Estou lendo e adorando. Depois comento mais.

Já o segundo presente veio num e-mail inesperado.

Comecei a dar aulas por impulso, obedecendo a um prazer bem próprio e egoista: eu gostava de conversar com os outros sobre o que eu lia ou estudava, e gostava também de explicar-lhes como eu me sentia ao ler e estudar o que eu lia e estudava. Na verdade eu não me importava muito com o impacto do que eu falava nas outras pessoas. Dava aulas porque me sentia bem fazendo isso. Claro, eu tive alguns professores geniais, dos quais ainda me lembro com muito carinho (Udo, Luis Cláudio, Jordino, Adriano, etc.), mas nunca havia atinado para a intensidade deste tipo especial de relacionamento. Como o Pedro, minhas amizades sempre constituiram laços intelectuais e emocionais muito mais fortes. Meus amigos mudaram minha vida muito mais do que meus professores.

Recebi, ontem, este e-mail de uma ex-aluna da Alfa. Era uma menina meio sonolenta e emsimesmada. Não se saia muito bem nas avaliações e nem participava ativamente das aulas. Parecia meio deslocada em sala, chegava sempre atrasada e me olhava com um ar entre o desprezo e o enfado, pelo menos para mim. Enfim, era uma aluna mediana. Lembro-me dela porque fui convidado como avaliador para sua banca de TCC (trabalho de conclusão de curso). Sinceramente nem me lembro de qual foi o título do seu trabalho – ela se formou em 2005.

Na carta ela diz coisas como “Na primeira aula que assisti na turma de jornalismo da Faculdade Alfa, no segundo semestre de 2001, um professor de cabelos longos, anelados, falava sobre a responsabilidade do jornalista no que ele chamava de “construção da realidade”. Fiquei maravilhada. Até então, não havia experimentado o prazer de assistir a uma aula, do inicio ao fim, sem “piscar os olhos”.

Ou então “Na verdade, eu não gostava de ser eu. No início, o que eu mais gostava era de assistir as aulas desse professor de cabelos compridos. Ele era tão jovem, tão inteligente, tão brilhante. Eu o admirava. Eu o amava. Queria ser notada por ele. Queria merecer sua admiração. Queria retribuí-lo pelo prazer do conhecimento que despertara em mim“.

Era pra eu ficar envaidecido, não é? Só que no seu TCC eu não lhe dei nota 10 – eu, especificamente, porque sua orientadora queria lhe dar 10. Nem me importei com o significado da nota para a garota. Por princípio não avalio pessoas, procuro avaliar a obra apenas – a única evidência objetiva que possuo. Pois é, ao final do e-mail a garota desabafou: Foi nessa fase, já no final do curso, que vi na monografia a única possibilidade de fazer algo que eu realmente me orgulhasse. Na verdade, eu queria meu estimado professor pra me orientar no trabalho, não deu. Mas, tudo bem, trabalhei duro ao lado de pessoas maravilhosas, que me apoiaram e me ensinaram muito… Eu queria, mais uma vez, movida pela vaidade, provar pra todo mundo, o quanto eu era boa. Não medi esforços pra fazer um trabalho nota 10… Virei noites a fio. Eu sonhava com um 10 pra esfregar na cara do mundo. Pra eu me sentir 10.

Sacanagem não é? Ela, então, arremata: Professor, hoje eu entendo: a vaidade era minha. Quando percebi (demorou alguns meses), tive uma profunda vergonha do que fiz. Da maneira ridícula como chorei ao telefone, fazendo chantagem emocional… Achei, então, que não era mais digna do seu respeito e decidi esquece-lo para sempre. Não consegui. Agora, não me importa a nota que você dará para este e-mail. Fiz o que tinha de fazer, da forma mais digna e sincera que pude. Sinto-me livre.

Que coisa maravilhosa e perigosa é ser professor! Havia me esquecido completamente. Tão acostumado eu fiquei com as colas e os plágios, com a preguiça intelectual e com essa maldita estupidez democraticamente distribuída entre as idades e os sexos, que me esqueci do principal: o vínculo humano pressuposto no ato de ensinar. Ela realmente havia me ligado chorando, tentando explicar como aquele ponto (ou pontos) significou a mais avassaladora e sombria derrota que ela jamais sofrera. Fiz ouvidos moucos, não me movi.

Sabe, eu fico feliz da garota se ver, finalmente, livre de mim. Também eu devo aprender a me esquecer.

Feliz Natal

Le mot juste

Talvez eu já tenha comentado isso neste blog: durante muitos anos tive ansiedades mil com o tal “mot juste” – a palavra exata – e a conseqüente paranóia de estar sendo demasiado prolixo. Tudo aumentava quando, ao revisar um texto, eu me apercebia de que, em vez de cortar, eu acabava era acrescentando mais palavras e frases, o que apenas intensificava minha culpa estética e a sensação de estar fazendo tudo errado. No entanto, nesses últimos dois anos, enquanto reviso e reinicio loucamente um livro do qual nada ouso comentar, me dei conta do seguinte: ainda na adolescência introjetei tão fortemente esse princípio do Flaubert que, em algum momento que não sei precisar qual foi, passei a escrever apenas esqueletos sem carne. Ou seja, o tal princípio do “mot juste” passou a atuar a priori: meu texto já nasce cortado. Logo, ao iniciar uma revisão, sempre noto que mais falta ajuntar que retirar palavras. Muitas vezes fico chocado com a excessiva concisão que, se mantida, certamente deixaria o leitor perdido. E, por isso, aos poucos vou adicionando a carne, os nervos e a pele. Hoje, sinto-me mais tranqüilo ao ter essa consciência. E todo o problema agora se resume a não deixar o texto gordo demais, a não lhe dar muito de mamar, porque magro ele já nasceu.

Sou um escritor brasileiro com filhos desnutridos. Por enquanto, a maioria tem morrido durante o parto, o que me dá muita pena. Um dia, terei uma família.

Second Life, a volta do que não foi

Enquanto não me afogo em minhas próprias secreções nasais (argh!!!!) surfo distraído pela Internet e trombo com esta matéria do Estadão. “O fim do Second Life como o conhecemos“. Mas o futuro já acabou? Pensei, entre uma e outra aplicação de Aturgil. Lembrei-me imediatamente de outra notícia, agora do Portal G1, “Atração ‘De volta para o futuro’ é desativada no parque da Universal“. Eu gostava muito desta série, cujo melhor filme é, como quase sempre, o primeiro. A partir de então assisti a tudo que o diretor Robert Zemeckis fez. Discutia-se, há pouco tempo, a possibilidade de mais um filme da franquia, mas a suspensão do brinquedo no parque da Universal jogou um balde de gelo na boataria.

E o Second Life? Bem, as possibilidades iniciais do joguinho (joguinho, joguinho, joguinho) se esgotaram rapidamente a medida que as pessoas iam descobrindo o óbvio. A vida do dia-a-dia é muito chata, seja ela virtual ou não. Segundo a matéria do Estadão

O modelo de exploração se esgotou rapidamente. Levar uma segunda vida ficou chato e sem graça para 80% dos usuários, que abandonaram seus avatares depois da “febre” no início do ano. Hoje, há 9,2 milhões de residentes cadastrados, mas apenas 465 mil estiveram conectados na última semana.

Realmente, ajudar uma senhorita a ficar milionária com bugigangas para alguns tamagochis ultrasofisticados não iria muito longe, mesmo sendo a população mundial pouco atormentada pelo bom senso. A matéria abre flanco para mais uma modificação “revolucionária” (bem, eles não usam o termo, mas o título tem algo de fênix, né não?): a possibilidade de conhecimento gratuíto. Mas meu ceticismo deu o alarme. Querer redefinir o modo de relação das pessoas num ambiente virtual pelo diapazão intelectual é coisa complicada. Em geral nossas relações sociais se pautam pelo emotivo, pelas tonalidades afetivas. Bem esperemos. Ou ele se estabelece ou será mais um joguinho desativado.

Algumas verdades inconvenientes

1) Sim, Hollywood ficou toda prosa com o filme do Al Gore. Contudo, ninguém me tira da cabeça que o cinema americano – com suas enormes explosões, incêndios e tiroteios – é responsável por pelo menos 50% do efeito estufa. O que quer dizer que, se não fosse o cinema deles, a Terra seria mais fresquinha. Sacou? Sem os filmes do Rambo, do governador Schwarzenegger e, sei lá, sem os filmes sobre a guerra do Vietnã, seria possível até mesmo nevar aqui no Centro Oeste. (Na fazenda da minha saudosa avó materna, geava. O tempo passou, a véia morreu e não geia mais.)

2) O Jornal Nacional mostra uma reportagem falando coisas terríveis sobre a poluição dos rios e a porcaria que são as tais garrafas plásticas e demais dejetos não-degradáveis encontrados em meio à natureza. (São mesmo, principalmente quando muito distantes da possibilidade de serem recolhidos e reciclados.) Em sua locução, a Fátima Bernardes faz a mesma cara de quando o Brasil perde um jogo na Copa, aquele olhar de amiga de defunto recém empacotado. Intervalo comercial: Coca-cola, guaranás x, y, e z. Todos em garrafas PET. Volta o jornal e aparece o William Bonner todo sorridente mostrando uma apreensão de toneladas e toneladas reluzentes de CDs e DVDs piratas sendo esmigalhadas por tratores ou seja lá o que for aquele monstro de ferro e aço. O pátio da polícia federal fica repleto de pequenas montanhas de lixo plástico e… alumínio? Não sei. Sei apenas que não falam nada a respeito do destino de tanto lixo. Por que não? Meu Deus! Por que nããão? À noite, a cabeça cheia de circunferências metálicas de brilhos iriados, os olhos teimam em arregalar-se. Tento dormir. Não consigo.

3) Prosseguindo minha pesquisa no Google, volto a encontrar vários sites se referindo ao aquecimento do próprio Sol. (Sim, basta digitar “solar warming“.) Isso me deixa preocupadíssimo, afinal ninguém parece dar atenção ao tema, o Al Gore não passa nem triscando nele, e o Sol impávido segue sua órbita ao redor do centro da Via Láctea, um colosso a ignorar nossos temores. Porra, penso, cadê a ONU? Alguém precisa multar o responsável pelo Sol, ameaçá-lo com uma comissão de astrônomos e, por que não?, de astrólogos. Caso o Sol prossiga com sua maldade, seria necessário enviar os capacetes azuis para tomá-lo de assalto, invadi-lo e fincar lá a bandeira das Nações Unidas. Hmmm. Sim, sim. É fato, os sacanas dos americanos certamente não cederão os foguetes da NASA. The bastards! Será preciso recorrer à Rússia, um povo muito mais racional…

4) Hugo Chávez acusa os futuros produtores de etanol de roubar terras necessárias à agricultura de alimentação, mas não se dá conta de que, segundo aquele pessoal da ONU que o convidou para xingar o Bush de diabo lá em Nova Iorque, o aquecimento global – responsável pela tal desertificação e pelo desarranjo climático destruidor das hortas das velhinhas camponesas de todo o mundo – é supostamente causado pela queima do petróleo que sustenta seu governo corrupto. Ou será que ele já tem a confirmação de que a culpa é apenas do Sol?

O que move o movimento?

Vocês já matutaram sobre a expressão “movimento estudantil”? Pois é. A primeira coisa que me vem à cabeça é a seguinte pergunta: para onde? Já que se move, em qual direção vai? Nos últimos anos tem ido da esquerda para a esquerda, ou seja, não sai do lugar. Segunda coisa: se há movimento, então algo se move, logo, o que está se movendo? O estudante? Só se for para sair de casa e invadir reitorias ou, num passado não tão distante, jogar pedra em presidente. Enfim, será que ainda podemos atribuir a esta expressão algum sentido? Eu acho que sim.

Telefones clonados e Oriente Médio

Minha irmã, que por mais de cinco anos trabalhou para a Embratel e depois para a Brasil Telecom, me disse que a quase totalidade das ligações feitas por telefones clonados se dirige ao Oriente Médio, principalmente à Arábia Saudita, ao Iraque, à Líbia, aos Emirados Árabes e ao Líbano. “Havia listas e listas com essas ligações”, contou-me ela. Grande parte dessas clonagens são feitas por presidiários a partir de celulares e de suas “centrais telefônicas” piratas. Num belo dia, você abre sua conta telefônica e percebe que alguém fez uma ligação para um desses países que lhe custou a bagatela de R$1500, R$2000 ou R$3000… Peraí! Sobre o que essa gente tanto conversa? Petróleo? Maomé? Aviões?… As únicas ligações clonadas que tinham destino certo eram as realizadas para Lichtenstein, na Alemanha: um serviço de sexo por telefone. Bem, não creio ser essa a especialidade do Oriente Médio…

Que tipo de ateu você é?

Trecho do artigo Ateus e Ateus:

Há dois tipos de ateus: os que não acreditam que Deus existe e os que acreditam piamente que Deus não existe. Os primeiros relutam em crer naquilo de que não têm experiência. Os segundos não admitem que possa existir algo acima da sua experiência. A diferença é a mesma que há entre o ceticismo e a presunção de onissapiência.

A Comunidade Norte Americana

Reportagem da CNN sobre a pretensão de se criar uma Comunidade Norte Americana, isto é, um novo Estado englobando os EUA, o Canadá e o México, a despeito de suas respectivas soberanias. Seria o primeiro passo concreto em direção à Nova Ordem Mundial.

Site da Security and Prosperity Partnership Of North America. (A descrição deste vídeo no site do You Tube contém diversos links relacionados ao tema.)

Quero uma opinião masculina

Existe algo comum a todos esses livros e filmes que metem o pau no islã. Algo que comparece com a inevitabilidade das ressacas e a persistência inconveniente de um chato. É que o autor é sempre mulher. Seja ocidental, oriental, católica ou atéia, é sempre uma mulher que sobe no palanque para falar mal da poligamia, da opressão e dessas coisinhas que também acontecem aqui, só que sem a permissão de alá. É claro que isso era de se esperar, e longe de mim querer impedir que as mulheres façam suas lamentações. Se tirarmos da mulher o direito de reclamar, talvez não lhe sobre nada. Temos que deixar as pobres se lamentarem. Mas o que me incomoda nessa ladainha toda é a sua unilateralidade. Por toda parte, só se vê mulher reclamando. Só a mulher tem voz. Ainda não vi nenhum livro ou filme com a visão masculina da história. Os muçulmanos gostam de ter quatro esposas? Gostam de poder bater nelas? Eles são mais felizes que nós? Eles se reúnem em bares e riem da nossa burrice em ter aceitado Jesus e sua tediosa idéia de monogamia?

Eu, particularmente, não gosto de bater em mulher (tenho esse defeito que decepciona minha noiva), mas eu gostaria de saber, por exemplo, se a universidade fica melhor ou pior sem mulher. Acho que fica melhor.

O polêmico aquecimento global

Rolou, no correr da semana passada, uma discussão interna entre os colaboradores deste blog, via email, a respeito do aquecimento global. Na verdade, participei mais enquanto observador – não tenho acompanhado esse tema com a devida atenção -, mas meus colegas de nome bíblico (Pedro, Paulo e Daniel) andaram medindo os bigodes. Paulo e Pedro já trabalharam nessa área por anos, tendo o Paulo sido superintendente do Parque Ecológico de Goiânia e o Pedro, geógrafo e consultor na área, além de cineasta, com documentários tratando do assunto circulando por aí. Ah, vale dizer que ele também traz os genes do pai, o jornalista Washington Novaes, com anos e anos de dedicação ao debate ambiental. Já o Daniel é mais como o autor deste post, imagino: assim como eu fui um militante da Fundación Natura, no Equador, foi ele membro de um grupo de militância ambiental anos atrás. Enfim, na referida discussão, meu único comentário foi: vcs deviam ter escrito isso tudo no blog. Já que ainda não vejo sinais do debate por aqui, aproveito para dar a deixa ao sugerir a leitura do post do Pedro Sette Câmara, Václav Klaus sobre o aquecimento global, no blog O Indivíduo.

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