blog do escritor yuri vieira e convidados...

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Humanose

Meu amigo Ricardo Calaça, antropólogo e documentarista com quem dividi um apartamento na UnB, pode ter, na minha humilde opinião, péssimas opiniões políticas – acha que o Evo Morales está certo em roubar a Petrobrás, que devemos votar nulo, que os EUA são uns imperialistas do mal, etc. – mas é impossível negar: o Ricardo é um ótimo patafísico. Na Unb, por exemplo, ele vivia esquecendo o leite no fogão. Várias vezes, ao sentir cheiro de gás, tive de descer do mesanino para desligar a boca cujo fogo já havia sido apagado pelo leite derramado. Eu não ligava muito quando o leite era dele. Mas ficava grilado quando era comprado em sociedade. Um dia, ele fez de novo: quase metade do leite fugiu pelas bordas da leiteira, apagando novamente a chama. E olha que eu acabara de dizer: “Ricardo, deixe esses discos e não se esqueça do leite que você botou pra ferver, cara. Que mania de leitinho quente..” Depois, ele já botando o leite que sobrou numa caneca e eu puto de raiva: “Pô, meu, precisa ferver o leite? É pasteurizado, não é de fazenda.” E ele, com aquele seu sorriso cínico típico: “Yuri, você não entende nada de leite, rapaz. A gente precisa deixar derramar sempre. Você e a indústria dos laticínios acham que os germes morrem com a mudança de temperatura, mas eles morrem mesmo é na queda…” E tecia mil teorias a respeito da enorme altitude que a lateral duma leiteira tem diante das pequeninas bactérias e semelhantes.

Pois é, lembrei desse caso porque, neste último final de semana, as bactérias voltaram à baila.

De Volta de um Outro Tempo

Estou de volta. Na pressa, nem avisei aonde ia. Peço desculpas. Mas fui e voltei. Fui conhecer outro espaço-tempo. Como seria de se esperar, foi experiência radical. Não se olha o mundo com os mesmos olhos depois de usar, ainda que canhestramente, as lentes de um índio, como alertava Darcy Ribeiro.
Fui ao Xingu, Alto e Baixo, trajeto de um mês, passando por seis etnias diferentes com nomes de sonoridades distintas: Waurá, Kalapalo, Yawalapiti, Kuikuro, Metuktire e Panará.
Eu não fui ao passado, porque não acredito na idéia de “sociedades primitivas”. Ao contrário, considero-as muito avançadas em diversos aspectos. Mas também não fui ao futuro, porque não acredito que nossa trajetória nos possa levar a algo semelhante. Leva a lugares diferentes, que podem ser melhores ou piores.
Acredito que as sociedades indígenas brasileiras se aproximam em muitos aspectos de certas utopias humanas: igualitárias, constituídas por pessoas absolutamente livres e autônomas, que não dão, nem recebem ordens. Lá não há asilos, presídios, favelas, nem hospícios,
Ao mesmo tempo, não desejo, nem posso ser índio. Sei que não seria capaz, e me oprimem a falta de individualidade (ainda que paradoxalmente haja a mais profunda autonomia), de privacidade e de solidão.

Gonçalves

Lua cheia em Gonçalves

É uma cidadezinha no sul de Minas, bem bacana, onde faz um frio danado. Pus mais fotos em um site. Por favor, dê uma olhada. (São poucas, não vai demorar; basta ir clicando em NEXT para ir acompanhando a seqüência)

Paris é uma festa

Nada como sobrevoar Paris numa manhã de denso nevoeiro…

A felicidade da mulher moderna

A felicidade da mulher moderna não depende do homem, mas da empregada.

As urnas eletrônicas e as pesquisas

há a desconfiança, baseada em dados técnicos, de que as pesquisas que dão ampla vantagem a Lula não passam de mentiras a visar a manipulação póstera dos resultados das urnas eletrônicas por meio de modificações no software. Eu já tinha indicado outro texto com o mesmo tema em Junho.

Quantas pessoas vc conhece que irá votar no Lula? Eu não sei de ninguém. A não ser que nossa ex-colega de blog – que nos abandonou por me achar muito “reacionário” (se eu fosse mesmo reacionário a teria expulsado daqui, coisa que não fiz) – a não ser que ela seja ingênua a esse ponto.

Respondendo ao Ronaldo

Na verdade, não busco nada no Livro de Urântia. Ele apareceu na minha vida completamente ao acaso – uma amiga me emprestou um exemplar em 1997, lá na UnB, dizendo que eu certamente o acharia interessante – e o li inteiro, pela primeira vez, achando que não lia senão um desses livros que descrevem o mundo de um jogo de RPG. O problema é que o tal “mundo” esboçado por ele é, na minha humilde opinião, o mais vasto e profundo que nossa imaginação pode alcançar. Não é um livro perfeito – não é uma revelação direta de Deus – e tenho minhas críticas a muito do que está ali escrito. Mas o tempo me mostrou que, se a vida é um jogo, ela é um jogo de RPG (Role Playing Game), um jogo no qual desenvolvemos e aperfeiçoamos nossa personalidade, sendo esta um dom de Deus – exatamente o que diz o livro. E, a vida (e não o livro), me confirmou que esse RPG também tem um Mestre, a saber, o Arcanjo Miguel, que esteve entre nós como Jesus. Eu sei que tudo pode parecer muito louco ali. Mas não creio que o universo seja bobo e sem Graça como querem os céticos sistemáticos. A Hilda Hilst, o Bruno Tolentino e o Olavo de Carvalho me ensinaram pessoalmente que a fé não apenas não atrapalha a inteligência e a criatividade como, muito pelo contrário, as estimula e fortalece. Eu sei que não necessito d’O Livro de Urântia para chegar a tal conclusão. Eles não precisaram dele. Mas o planeta Terra precisa.

Você vai ficar deprimido

Você vai ficar deprimido, mas veja o documentário “Vocação do Poder”, de Eduardo Escorel.

A gente aprende na escola que a democracia foi uma conquista. O povo passou a escolher seus governantes e legisladores, e com isso as leis ficaram mais justas, mais favoráveis à igualdade. Há maior controle da população sobre os detentores do poder. O sistema de mandatos faz com que a câmara se renove ou se conserve, segundo o desempenho e a aprovação social dos políticos. Tudo muito lindo na teoria. Mas e na prática, como a coisa funciona? É isso que o filme procura mostrar. A equipe acompanhou seis candidatos a vereador na cidade do Rio. O diretor foi muito feliz na montagem, alternando momentos do dia da eleição, quando a adrenalina dos candidatos era máxima, com cenas das campanhas que vinham ocorrendo meses antes. Aos poucos você vai percebendo — quando não percebe logo de cara — que a maioria, mesmo que quisesse, nada poderia fazer pela população que a elegeu, a não ser pequenos favores como doar cadeiras de rodas e caixões. Os candidatos parecem nem saber a diferença entre executivo e legislativo. Acreditam que o vereador possa exercer funções como controle da polícia ou do sistema de saúde. É até difícil de acreditar, mas nenhum dos candidatos revela sequer uma proposta, nem nas reuniões internas dos partidos. Tudo que sabem fazer é recorrer a termos vagos, como “justiça social”, “debate”, “democracia”, que eles mesmos não saberiam definir. Alias, estou fazendo uma injustiça. Um dos candidatos tem uma proposta concreta. A construção de uma grande danceteria com palco para shows e desfiles. E é justamente o candidato do setor mais pobre da população. É claro que ele não fala em saúde e educação, todo mundo sabe que pobre precisa é de sexo e música ruim. Os candidatos de nível social melhor, que poderiam apresentar propostas mais concretas, sabem apenas abordar as pessoas na rua e dizer “Posso contar com você?”, ou coisa pior. E é isso que é mais deprimente: Justamente os mais instruídos, que têm um curso de Direito ou coisa aparecida, que poderiam expor propostas sérias e viáveis, ficam só naquele papo de “a gente precisa de alguém do Leblon lá em cima”. O filme só não deprime mais porque é bem feito. Pelo menos nossos documentaristas são bons.

Ao menos um

Do Cláudio Humberto:

Disse bem
Ex-esquerdista que renegou o “terrorismo” na ditadura, Marcos Vinício Fernandes revelou a Fernando Molica, da GloboNews, que foi torturado, mas não quer indenização: “O povo brasileiro não me deve nada”.

Eu que pensei que nenhum deles – a começar pelo Carlos Heitor Cony e pela alta cúpula do PT – tinha vergonha na cara.

P.S.: Atenção companheiros do Garganta: graças a esse post fui obrigado a criar a tag “milagre”. Use-a em casos como esse.

Morte anunciada

O Fiume morreu ontem, daqui a 51 anos. Está no Quem somos aí em cima.

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