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Anne Frank e o mundo menstruado

Assisti por acaso, no Telecine Cult, à parte final da adaptação de O Diário de Anne Frank, cujo livro li ano passado ou retrasado, sei lá. (Para quem não sabe é o diário real da adolescente judia que passou uns dois anos escondida, com outros judeus, em Amsterdam, durante a ocupação nazista. Morreu poucos meses antes do final da guerra num campo de extermínio.) Pois então, no filme, o diálogo final de Anne com um seu amigo reafirma, tal como no livro, e apesar dos pesares, sua fé no ser humano e na bondade de Deus. (Daí, creio, o valor do seu testemunho.) Mas o que me chamou a atenção não foi isto, mas a forma como ela consola seu interlocutor, dizendo que o mundo está apenas passando por uma “fase”, tal como ela e sua mãe passam às vezes. Ou seja – pensei com meus botões -, o mundo está menstruado, daí as cólicas e todo esse derramamento de sangue que vemos no dia a dia. E parece que ela tem razão. Só que atualmente o planeta não está apenas com TPM ou naqueles dias. Anda com diarréia humana, febre vulcânica, sarna florestal, tremores tectônicos, vômitos marinhos e coisas do gênero também. Segundo desconfio, o mundo vai passar por muitos maus bocados ainda. Talvez esteja para dar à luz, vai saber. O que estará para nascer?

A curva do mundo

Ano passado (2005) eu vi a curva do mundo. Aos 32 anos finalmente viajei de avião. Fiquei imaginando aqueles senhores da virada do século XIX para o XX, experimentando seu primeiro vôo aos 50, e entendi o deslumbre que se seguiu com a capacidade tecnológica do homem, com a técnica. Um monstro de ferro e fibra de carbono pesando mais do que algumas toneladas levantar do chão é mesmo um assombro.

As Minas dos 4 Mineiros


Eu e os 4 Mineiros

Há algumas semanas, eu e Juliana, minha mulher, fizemos uma bela viagem pelas Minas Gerais dos quatro amigos. Fui correr a Volta da Pampulha, tradicional prova de corrida de rua em Belo Horizonte, e depois relaxamos por uma par de dias nos mil becos de Ouro Preto, seguindo então para a paisagem espetacular do Caraça.

Hoje uma Reserva Particular do Patrimônio Natural, o Caraça foi, até a década de 1960, um rigoroso internato católico, tradicional escola das Minas Gerais.

Por Baixo da Correnteza

Foi quando descobriu que havia sempre uma outra conexão com as coisas acontecendo. Uma segunda troca por baixo da primeira, cotidiana, com os olhos e a fala. E era uma corrente febril, tormentosa – como rio inchado depois da tempestade, que ruge e tropeça em paus e folhas num afã descontrolado de seguir em frente. Dava medo submergir nessa corrente ruidosa e violenta, mas lá embaixo reinava uma paz grande porque se deu conta de que podia ser observador de si mesmo sob a corrente febril, onde tocava, envolvia as coisas e se deixava envolver por elas com o corpo – uma corda lhe saía do estômago e do intestino. Arqueado, a barriga espichada, ele subia como um balão no meio da correnteza, que era calma lá embaixo, puxava as coisas e era puxado por elas. E, súbito, individualidade dissolvida, só havia o meio, o turbilhão tranqüilo, o encontro, o interagir.

O dia do Juízo

Segundo meu profundo estudo dos arcanos do Apocalipse, o fim do mundo se dará assim que o Sílvio Santos morrer, isto é, daqui 53 anos…

O bibliotecário de Alexandria

Uma amiga me contou que, anos atrás, costumava despertar fora do corpo, isto é, “sofria” projeções astrais espontâneas e involuntárias. (Sim, no jargão da psicologia, alucinações.)

“Que demais!!”, eu disse.

“Demais nada, quase morria de medo…”

E descreveu o pânico que sentia cada vez que isso rolava e a ansiedade que ia nutrindo por acreditar que enlouquecia, por achar que estava perdendo seus parafusos um a um. Nessas ocasiões, nunca saía de seu quarto e muito menos de perto da cama. Fechava os olhos e rezava para voltar ao aconchegante corpo.

“Ai, era horrível!”

Mas um dia, abriu os olhos e viu um desconhecido em seu quarto, parado bem aos pés da cama: “E aí? Quer ir comigo na Biblioteca de Alexandria?”

“E você foi?”, perguntei eu, empolgadíssimo.

Uma charada

Monteiro Lobato (1882-1948) leu Nietzsche (1844-1900) e sua vida então mudou: finalmente tornou-se ele mesmo. Nietzsche leu Monteiro Lobato e… nunca mais foi o mesmo.

Discutindo… Deus!

No blog do Janer Cristaldo andou rolando um desses debates inúteis entre ateus, agnósticos e crentes, dos quais já estou mais que cansado, tendo participado de inúmeros justamente nas três posições citadas, aliás, migrando duma a outra nessa mesma ordem aí descrita. Vale dizer: me sinto melhor hoje… Bem, a questão é que o Olavo acabou aparecendo na discussão com um texto excelente: Discussões vãs. Não deixe de ler.

Lobato se despede

“Adeus, Rangel! Nossa viagem a dois está chegando perto do fim. Continuaremos no Além? Tenho planos logo que lá chegar, de contratar o Chico Xavier para psicógrafo particular, só meu – e a 1ª comunicação vai ser dirigida a você. Quero remover todas as tuas dúvidas.
Do Lobato.”

Este é o último parágrafo da última carta escrita por Monteiro Lobato – duas semanas antes de morrer – a seu amigo Godofredo Rangel, com quem se correspondeu por mais de quarenta anos. Tais cartas se encontram nos dois tomos de A Barca de Gleyre. Segundo li por aí, Lobato “realmente” se comunicou com Rangel através de Chico Xavier. Infelizmente a morte fez com que se esquecesse da palavra código que haviam combinado…

Dias intranqüilos em Clichy

Henry Miller, que viveu alguns de seus melhores anos em Clichy (Dias tranqüilos em Clichy), jamais imaginaria que seu amado bairro viveria uma semana tão intranqüila quanto a presente. Segundo o Le Figaro, no correr desta semana ao menos 228 carros foram queimados na região de Seine Saint-Denis, onde se encontra Clichy. Tudo começou com a morte de dois jovens que fugiam da polícia. A região se levantou e já está há uma semana em meio à quebradeira. Nessas horas fico imaginando: para onde se mudariam hoje Hemingway, Joyce, Scott Fitzgerald, Gertrude Stein, Dos Passos, Henry Miller e demais coléguas, sem falar dos artistas plásticos e outros? Para onde? Embora essa gente tenha se guiado pela estética e pelo hedonismo – Paris era e é uma beleza – o que realmente os movimentou foi o bolso: no período entre-guerras a França era baratíssima e ali era possível sobreviver com um décimo do necessário para se manter, por exemplo, em Nova York. E todos sabem que escritores e artistas são uns duros…
Onde fica a Paris de hoje? Onde é possível passar meus próprios dias tranqüilos? Em Clichy é que não é. E muito menos na Vila Madalena

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