blog do escritor yuri vieira e convidados...

Autor: daniel christino Page 8 of 12

Do buracão paulista

No centro do Brasil está São Paulo e, no centro de São Paulo, um buracão. Como diria o atroz macaco Simão: “O que é o que é? Quanto mais se tira maior fica? O buracão de sampa, rá rá rá”. Quanto mais corpos são retirados do buraco, maior fica a cobertura jornalística. Nem sempre de qualidade. Além de ignorar totalmente a questão ambiental citada pelo Pedro abaixo, ninguém diz o nome dos donos do buracão. Com algum atraso, via blog do Cláudio Weber Abramo

Os responsáveis pela obra do metrô que desabou em São Paulo são as empresas CBPO Engenharia (pertencente à Norberto Odebrecht), Queiroz Galvão, OAS, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez.

Trata-se de informação de que o leitor de jornais e o telespectador de telejornais não dispõe. Nesses veículos, fala-se em “Consórcio Linha Amarela”, como se consórcio não tivesse participantes.

Salvo lapso, tampouco vi o nome da pessoa que fala pelo consórcio. Os jornais não dão.

Mais irritante ainda, contudo, é o aparelhamento ideológico do buracão pelos bocós de plantão. Diz aí Tio Rei

Está em curso um esforço cotidiano, incansável, para politizar ou, melhor ainda, partidarizar a questão. E junto vêm os camaradas de sindicatos ligados ao PC do B e ao PSOL para denunciar a ganância capitalista. Boa parte da imprensa também tem ódio ao capitalismo. Seguro, no Brasil, como sabemos, é voar nos céus administrados pelo Estado…

Tudo muito bom, tudo muito lindo. Há gente reclamando maior fiscalização do Estado, um absurdo, lógico, uma vez que fiscalizar, nestes casos, siginifica apenas bater um carimbo. Contudo, não há engano ao se afirmar que a responsabilidade é do tal consórcio. Que eles, então, arquem com o prejuízo. Capitalismo bom é assim.

O “tube” da Cicarelli

Demorei um pouco para me posicionar sobre o imbróglio Cicarelli. Antes de qualquer coisa achei que fosse mais uma jogada de marketing da minha xará, e não me senti muito disposto a auxiliar no “boost” de imagem da moça. Mas o tiro saiu tão pela culatra que se for mesmo uma estratégia de marketing é a mais furada da história, e deveria tornar-se estudo de caso obrigatório na GV. Por isso acho que não é. É difícil imaginar que alguém se colocaria, deliberadamente, na posição de censor, principalmente tendo como público alvo a faixa mais pluggada da população. Mas, e aí vem o “catch”, eu acho que ela e o namorado estão certos ao processar os paparazzi, o YouTube e o escambau, mesmo que isso signifique “fechar a praça” para nós.

“You say you want a revolution”

Flanando pelo Goiânia Shopping antes do natal dou de cara com o Álbum Branco dos Beatles. “Well, you know”, duplo e importado. Comprei, mesmo não podendo. Musicalmente, é o melhor álbum dos caras. Rock, blues, folk, heavy metal (é, você leu direito), experimentalismo prepotente e inútil e os caminhos que o rock iria seguir, desde o progressivo até o referido metal. Beatles é – na falta de uma expressão melhor – foda. Para se ter uma idéia, o álbum é de 1968 e vai abaixo a letra da música Revolution 1:

You say you want a revolution
Well you know
We all want to change the world
You tell me that it’s evolution
Well you know
We all want to change the world
But when you talk about destruction
Don’t you know you can count me out in

Don’t you know it’s gonna be alright
Don’t you know it’s gonna be alright
Don’t you know it’s gonna be alright

You say you got a real solution
Well you know
We don’t all love to see the plan
You ask me for a contribution
Well you know
We’re doing what we can
But if you want money for people with minds that hate
All I can tell you is brother you have to wait

Don’t you know it’s gonna be alright
Don’t you know it’s gonna be alright
Don’t you know it’s gonna be alright

You say you’ll change the constitution
Well you know
We all love to change your head
You tell me it’s the institution
Well you know
You better free your mind instead
But if you go carrying pictures of Chairman Mao
You ain’t going to make it with anyone anyhow

Don’t you know it’s gonna be alright
Don’t you know it’s gonna be alright
Don’t you know it’s gonna be alright

Está tudo aí.

A labuta acadêmica

Um dos efeitos colaterais de se dar aulas nas Universidades Federais são as conferências. Na Europa e nos EUA, conferências são oportunidades para o debate de idéias elaboradas pelos próprios conferencistas, o que proporciona momentos ímpares de disputa intelectual. No Brasil conferências são parecidas com aquelas convenções de fãs (do tipo Star Trek). “Lá vai o grupo que é fã do Weber”. “Olha lá o grupo fã do Marx, eles não constumam ter muito senso de humor”. Hegelianos para lá, heideggerianos para cá; e as tão esperadas e seminais discussões acabam se tornando debates maçantes sobre picuínhas hermenêuticas. Mas pode ficar pior.

A imitação do Amanhecer

Depois da via crucis do Pedro com o Banco do Brasil, vamos a algo mais inspirador. Comprei “A imitação do amanhecer” do Bruno Tolentino. Entre uma e outra leitura teórica, é um bálsamo voltar à erudição sem pedantismos do Bruno. Poesia é um negócio doido. Tematicamente, o livro fala de Alexandria – aliás, a capa é muito bonita, desenhada a partir de uma gravura de Johann Bernhard Fischer von Erlach, toda em tons de cinza levemente azulado, com o nome do autor, em violeta, e o nome do livro, em preto, alinhados ao topo e à direita da página, margeados pelo imponente e mítico farol; obra da designer Paula Astiz. Mas do que fala mesmo a poesia???

Uma vela para os meus mortos

Vai acabando o dia de finados. Ano passado escrevi uma pequena crônica sobre este dia que ficou enterrada no meu antigo e abandonado blog. Para mim o dia de finados é todo pôr-do-sol, é todo crepúsculo. Eis a crônica:

O dia de finados transcorreu normalmente. Céu nublado, muita gente nos cemitérios, muitas flores, choros e longos suspiros de saudade. Algumas pessoas passeavam com o olhar perdido, um longo olhar. Outros permaneciam parados até, de repente, girar a cabeça num movimento brusco, como se tivessem ouvido ou visto alguma coisa. Depois retornam para dentro de si mesmos, contemplando mudamente as lápides como a um espelho. “Ó espelho meu, o que de mim neste morto morreu?”

Meus mortos aumentaram este ano. Por isso este post. Uma vela para os meus mortos, simbólica, cibernética.

Estou ouvindo uma missa composta por Palestrina. Como são belos os meus mortos, congelados em lembranças alegres ou graves. Acompanho-lhes os movimentos em detalhe, acompanho-lhes a precisão dos gestos. Meus mortos não se perdem, nem fazem o que não deviam. Quando me olham, que doçura!!, estão em paz. Hoje é o dia no qual converso com todos.

“Como vão as coisas?”, “O que o senhor tem feito, meu Tio? Continua fechado em si mesmo? É a morte para o senhor tão solitária quanto foi a vida?”.

“Vó, aprendeu mais algum ponto sofisticado no crochê? Há sapos por aí? Sei que senhora não os suporta. Olha, estou morando na sua casa, seu bisneto foi visitar-lhe o túmulo hoje, viu como está grande?”.

“Tio, How are you? Sentimos sua falta na mesa de pôquer”.

“Jordino, como estás rapaz? Sinto falta dos seus conselhos, do seu humor capenga, da sua silhoueta torta pelos corredores da faculdade.”

O meu olhar não pode mais alcançar sua diáfana existência. Apenas a memória persiste. Nela fico atrás da porta, logo após a curva, para tentar alcançá-los desprevenidos, surpreendê-los com um susto ou num gesto inédito, espontâneo. Mas nunca. Sempre os mesmos movimentos, a mesma doçura e a mesma paz. Sempre no museu de cêra dos meus pensamentos.

Ah, este povo estúpido!!!

Durante a época de avaliações na Universidade, uma conhecida piada volta a freqüentar os corredores e salas de professores. A piada diz o seguinte: “aqui é o melhor lugar do mundo para se trabalhar, o problema são os alunos”. Politicamente incorreta? Eu sei. Dá até para sentir um cheiro de autoritarismo, se não fosse piada, se não fosse o humor. Acontece que numa enquete feita aqui mesmo no blog sobre a razão do Lula estar à frente nas pesquisas, a opção mais votada era “porque o povo não sabe votar”. Pensamento perigoso numa democracia. Explico.

Monte sua própria teoria conspiratória

Toda teoria conspiratória é um fetiche da verdade. Ela não é uma mentira pura e simples, não ignora fatos, apenas os interpreta numa chave bastante particular.

Exemplo: Jesus Cristo andou sobre a Terra e era humano, teve filhos com Maria Madalena e a Igreja Católica, numa série de conchavos políticos (os concílios) estabeleceu um cânone cujo interesse não era a verdade, mas a saúde de uma instituição que, ao longo do tempo, especializou-se em cobrar uma taxa regular pela paz de espírito e, claro, por um terreninho no céu. O cristianismo, em toda sua pompa e circunstância, nada mais é do que uma estratégia de marketing bem montada sobre bases filosóficas greco-romanas e alguns devaneios monoteístas de uma religião tribal. Seu objetivo é vender perdão e garantir o poder simbólico do Vaticano. São capazes até de assassinar um Papa, se por acaso ele desenvolver uma consciência.

Veja, PT e Totalitarismo

Acabei de assistir ao Jornal Nacional. Sempre fui muito cauteloso em relação a qualquer tipo de teoria conspiratória e, quando as coisas tendem a sair do controle, apelo sempre à realidade – é simples e bem eficaz: as instituições democráticas estão operando com autonomia e liberdade dentro do País? Estão. Então não há motivos para alarme. As pessoas podem falar as asneiras que lhes vierem à cabeça, não tenho nada com isso. Se, por outro lado, o funcionamento das instituições fica ameaçado, deve-se acender a luz vermelha. Pois bem, pela primeira vez desde que Lula foi eleito, minha luz vermelha acendeu. E, creio, há um bom motivo para isso.

Coleção Bactéria

Título estranho, não? Peço licença ao Yuri para falar sobre o pessoal da Praça Roosevelt, dica do meu bróder Randall Neto – ele mesmo um escritor em vias de fato, se é que me entendem. Muito bem! Quem é o pessoal da praça roosevelt??? Um grupo de escritores que moram ou ciruclam na Vila Madalena e acabaram tornando a praça (e seus arredores) um ponto de encontro. Quase todos têm blogs e já produziram edições “mimeografadas” dos seus livros – eu mesmo tenho um do Randall que é muito bom. Mas o que motivou este post é uma poesia despretensiosa do Marcelo Montenegro que vai abaixo. Quem quiser saber mais pesquise na revista cultural online Cronópios. Vamos ao poemeto:

“Agora mesmo algum maluco
deve estar postando qualquer treco
genial na internet,
alguém deve estar pensando
em como melhorar aquele
texto enquanto lota o especial
de vinagrete, perseguindo
obstinadamente um acorde
voltando da padaria
Agora mesmo alguém
pode estar pensando
que guardamos só pra gente
o lado ruim das coisas lindas –
assim, trancafiado a sete chaves de carinho – alguém
pode estar sentindo tudo ao mesmo tempo
sozinho, assim brutamente
sentimental, feito coubesse toda a dignidade humana
num abraço tímido.
Agora mesmo alguém deve estar limpando
cuidadosamente o CD com a camisa,
pulando a ponta do pão pullman,
sentindo o baque da privada gelada,
perguntando quanto tá o metro
daquela corda de nylon, trepando
no carro, empurrando o filho
no balanço com uma mão
e na outra equilibrando
a lata e o cigarro, agora mesmo
alguém deve estar voltando,
alguém deve estar indo,
alguém deve estar gritando feito um louco
para um outro alguém
que não deve estar ouvindo.
Agora mesmo alguém
pode estar encontrando
sem querer o que há muito
já nem era procurado, alguém no quinto sono
deve estar virando pro outro lado,
alguém, agora mesmo, no café da manhã
deve estar pensando em outras coisas
enquanto a vista displicentemente lê
os ingredientes do Toddy”.
(Marcelo Montenegro)

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