blog do escritor yuri vieira e convidados...

Autor: pedro novaes Page 7 of 33

Ó Paí Ó

Cartaz

O melhor musical já feito no Brasil. Belíssimo filme.

“Ó Paí, Ó” é divertidíssimo, tecnicamente perfeito e recheado de grandes interpretações, especialmente Lázaro Ramos e Wagner Moura. Baseado numa peça originalmente encenada pelo Bando de Teatro Olodum, o roteiro, apesar dos múltiplos personagens que acompanha, é muito bem amarrado.

E não me venham com mau humor sobre estereótipos sociais e sobre glamourização da pobreza. É um filme, conforme me disse essa manhã o João Paulo Carvalho, montador, quando liguei para lhe dar os parabéns, “para virar uma espécie de ‘A Ratoeira’ de Salvador”, em referência à peça de Agatha Christie em cartaz a décadas em Londres porque se tornou uma atração turística. “Ó Paí, Ó” merece uma sala permanente no Pelourinho.

Mesmo quem não gosta de Carnaval e Axé tem que ser muito chato pra não se deixar contagiar.

Bastidores da Diplomacia

Posso estar enganado, mas até agora não vi ninguém ligando isso a isso.

Há dois meses atrás o ex-vice ministro da Defesa do Irã desaparece na Turquia sem deixar vestígios, e segue desaparecido até o momento. Circulam rumores de que ele estaria “ajudando” a inteligência americana.

Semana passada, um grupo de fuzileiros britânicos é preso pela Guarda Revolucionária Iraniana sob a acusação de invadir águas territoriais. Os militares de rasa patente são mantidos encarcerados num episódio que aparentemente desgasta ainda mais o Irã perante a comunidade internacional sem qualquer ganho aparente. Ou não?

Burros eles não são. Deve haver um motivo. Reaver um ex-ministro da Defesa me parece uma boa razão.

Tudo Verdade?

Amanhã, em São Paulo, a grande atração do É tudo Verdade, um dos mais conceituados festivais internacionais de documentários, é o filme “Fabricando Polêmica”, dos cineastas Rick Caine e Debbie Melnyk – ele, canadense, ela, americana.

O filme é uma crítica pesada a Michael Moore e à sua maneira de fazer documentários. O que o torna ainda mais interessante é o fato de que os dois diretores se definem como sendo de esquerda. Abaixo, a íntegra da matéria de hoje da Folha sobre o filme:

TIROS EM MICHAEL MOORE

“Fabricando Polêmica”, que passa amanhã em SP, aponta manipulações nos filmes do diretor americano

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Porta-voz dos sindicalistas em “Roger e Eu”, pacifista em “Tiros de Columbine” e democrata de carteirinha em “Fahrenheit 11/9”, Michael Moore seria também ficcionista diletante? É essa a pergunta que levanta o casal de cineastas Rick Caine e Debbie Melnyk (ele, americano; ela, canadense; ambos de esquerda, o que dá um sabor especial à tentativa de desmontar o “mito” Moore) no documentário “Fabricando Polêmica”. Ali, questionam os métodos do cineasta e elencam distorções e “aproximações da verdade” de que ele se vale para fundamentar teses inflamadas.
Programado para amanhã, às 19h, no Cinesesc, em São Paulo, e exibido hoje no Rio (18h, CCBB), dentro do cardápio do festival É Tudo Verdade, o filme foi concebido como um tributo ao polêmico diretor. “Éramos fãs dele. Achávamos os seus filmes ótimos”, disse Caine à Folha, em entrevista por telefone. “E somos gratos a ele, por fazer com que as pessoas fossem ver documentários”, observou Melnyk.

Bolívar e o Bolivarianismo

Professor Lamounier, em contradição com seu nome, lucidíssimo sobre a proposta de reforma política “bolivariana” apresentada pela OAB:

TENDÊNCIAS/DEBATES

O bebê e a água do banho

BOLÍVAR LAMOUNIER

Li e reli as ponderações do dr. Fábio Konder Comparato com a atenção que merecem, mas não consegui exorcizar meus receios

EM ARTIGO intitulado “Procurando Rousseau, encontrando Chávez” (“Tendências/Debates”, 7/3), opinei que a eventual implantação da reforma política sugerida ao governo pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) teria conseqüências nefastas. Meu texto suscitou algumas reações iradas e um substancioso comentário do professor Fábio Konder Comparato, fervoroso defensor do projeto, neste mesmo espaço da Folha (“Quem tem medo do povo?”, 13/3).
Realmente, minha expectativa era que a OAB, com sua inegável autoridade, apontasse soluções realistas para os problemas de organização institucional que nos vêm há muito tempo afligindo, em particular o esvaziamento do Poder Legislativo, tema que obviamente envolve as questões éticas dramatizadas nos últimos dois anos e se estende aos partidos políticos e ao sistema eleitoral, entre outros aspectos.

O Joio e o Trigo

Eu sempre digo que o melhor ministro do governo Lula, de longe, é Gilberto Gil. Aos críticos de plantão da proposta da ANCINAV, que a pescam sempre que desejam malhá-lo me coloco à disposição para quebrarmos o pau. E eu vou de dedo no olho. Destroçaram a iniciativa à época, uns por interesse pessoal (leia-se Cacá Diegues, Jabor, clã Barretão e outros) em favor dos monopólios da Globo e de coronéis no setor de comunicação. Estes sabiam do que tratava a lei. Os demais malharam sem entender do que se tratava, por preconceitos similares aos dos petistas com as idéias alheias.

Agora, vejam o que a turma do MINC anda falando sobre a idéia da TV Lula, anunciada pela besta do Hélio Costa (na Mônica Bergamo, da Folha de hoje):

PLANTÃO
A idéia de Costa está sendo bombardeada dentro do próprio governo. Um dos maiores focos de resistência é o Ministério da Cultura, que há seis meses organiza um fórum de TVs públicas, que será realizado em abril, e foi atropelado pela proposta do ministro. “Somos a favor de uma TV pública e não de uma TV estatal, a serviço do governante de plantão”, ataca Juca Ferreira, secretário-executivo e ministro interino do MinC (Gilberto Gil está viajando).

CAUTELA
“Estranhei o Hélio Costa anunciando isso [a criação de uma TV estatal]. Estranhei mais ainda que emissoras privadas, sempre muito zelosas com relação à intervenção do governo na área, tenham apoiado a idéia. Como diria a minha avó, cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém”, diz Ferreira, que deve participar da reunião com Lula representando Gilberto Gil.

A Praga

Rubem Alves, na Folha de hoje, sobre a “praga do segundo casamento”:

A PRAGA

Rubem Alves

Permitir o divórcio equivale a dizer: o sacramento é uma balela. Donde, a Igreja Católica é uma balela…

É BOM atentar para o que o papa diz. Porta-voz de Deus na Terra, ele só pensa pensamentos divinos. Nós, homens tolos, gastamos o tempo pensando sobre coisas sem importância tais como o efeito estufa e a possibilidade do fim do mundo. O papa vai direto ao que é essencial: “O segundo casamento é uma praga!”
Está certo. O casamento não pertence à ordem abençoada do paraíso. No paraíso não havia casamento. Na Bíblia não há indicação de que as relações amorosas entre Adão e Eva tenham sido precedidas pelo cerimonial a que hoje se dá o nome de casamento: o Criador, celebrante, Adão e Eva nus, de pé, diante de uma assembléia de animais, tudo terminando com as palavras sacramentais: “E eu, Jeová, vos declaro marido e mulher. Aquilo que eu ajuntei os homens não podem separar…”
Os casamentos, o primeiro, o segundo, o terceiro, pertencem à ordem maldita, caída, praguejada, pós-paraíso. Nessa ordem não se pode confiar no amor. Por isso se inventou o casamento, esse contrato de prestação de serviços entre marido e mulher, testemunhado por padrinhos, cuja função é, no caso de algum dos cônjuges não cumprir o contrato, obrigá-lo a cumpri-lo.
Foi um padre que me ensinou isso. Ele celebrava o casamento. E foi isso que ele disse aos noivos: “O que vos une não é o amor. O que vos une é o contrato”. Aprendi então que o casamento não é uma celebração do amor. É o estabelecimento de direitos e deveres. Até as relações sexuais são obrigações a ser cumpridas.

Ah! Os domingos!

Do salão de festas do meu prédio, junto com o cheiro de carne torrada, nesta tórrida hora de domingo, sobem também os singelos acordes e versos de uma canção:

“Larga do meu pé!
Larga do meu pé!
Hoje eu vou encher a cara
E vou prum cabaré!”

Fazendo Sala

Vi esta beleza de notícia sobre um tipo inusitado de serviços que o Ronaldo Roque me enviou, e lembrei de uma outra empresa prestadora de serviços que há tempos eu venho querendo montar. É lucro certo. Pena que um de nossos principais sócios e prestadores de serviços em potencial – o Chris, que Alá cuide dele – tenha batido as botas. Mas o Daniel Christino e o Yuri são os outros e estão bem vivinhos, graças a Deus.

É o seguinte: se o senhor ou a senhora precisa receber aquela tia chata, um amigo pentelho, o patrão que dá sono ou se simplesmente deseja tornar mais animada aquela festinha, o jogo de bridge do Clube de Senhoras, o chá das cinco ou um gathering social no Country Club, SEUS PROBLEMAS ACABARAM!

Temos especialistas em “fazer sala”. Eles nunca têm sono, sempre tiram da manga um assunto genial ao gosto dos convidados e tornam qualquer ambiente super descontraído e agradável. E, melhor, tudo isso sem recorrer a jogos de salão. Mais barato e melhor que um karaokê e dispensa a necessidade de se embebedar para aguentar seus convidados. Eles os aguentam em seu lugar e você ainda leva a fama de ser um excelente anfitrião.

Tivemos essa idéia quando, certa vez, eu trabalhava, muito atarefado e superimportante, em um evento e, ademais, fora encarregado de ciceronear um casal de figurões que passariam por lá. Sem pestanejar, o Daniel e o Chris se ofereceram para me ajudar, acompanhando-nos para jantar e fazendo a necessária sala para nossos convidados.

Eu estava todo nervoso e preocupado, mas não houve tempo ruim. Os visitantes ficaram encantados com meus amigos. “Eles são muito simpáticos”, dizia ele levemente embriagado a caminho do hotel. “Seus amigos são ótimos!”, ela falava uma oitava acima do normal, “São todos cineastas e filósofos. Adorei tudo! Muito obrigada”. Eu, comigo mesmo, agradecia a meus amigos e confirmava o fato de que realmente sou uma fraude, levando a fama por coisas que não fiz.

É uma benção ter amigos assim. Se eu estivesse sozinho com eles o mais provável seria que, após a troca de triviais frases soltas, do tipo “A cidade aqui é muito agradável” e “Será que vai chover”, baixasse um silencião constrangedor sobre a mesa: “Vamos nos servir…” Longa pausa. “Obrigado por nos receber, em?” Longa pausa. “Você trabalha com o que mesmo, em?” E logo eu seria incapaz de conter meu primeiro bocejo e, muito cedo e sem graça, os levaria para o hotel.

Nesse dia, o Yuri não estava, mas se estivesse com certeza teríamos ficado ainda até mais tarde. Cinco da manhã talvez.

Por isso, se precisar, não hesite. Mande um email através do contato do blog aí acima e contrate meus amigos. Eles irão com prazer a seu evento.

Sentando no próprio rabo

Eu não vi o filme do Al Gore e nem quero ver, mas não me confundam com o Paulo Paiva que não acredita no papel humano nas mudanças climáticas, etc. e tal. Acho os ecologistas em geral chatos e chorões, além de herdeiros da tradição política da esquerda, que acha que são as idéias quem define as pessoas e que quem não está do nosso lado está contra nós. Fodam-se.

Mas eu também acho um pé no saco esse escárnio de quem não leu, não viu e não sabe do que se trata e fica com risadinhas, como se falar no efeito das ações humanas sobre o meio ambiente e nas relações entre economia e ecologia ainda fosse realmente coisa de hippie. Tá certo. Então o Nick Stern, o Amartya Sen, o José Eli da Veiga e Miriam Leitão são companheiros em armas de guerrilha e ficam fumando maconha e viajando nessas coisas, né?

Aí eu tava escrevedo outro dia um post sobre a relação entre ciência e política, tendo como base o aquecimento global, pra brigar com o Paulo e depois me deu uma preguiça danada e ele está aqui meio parado, porque eu entrei numa de citações e comecei a estudar e achei tudo isso muito ridículo.

Aí eu vejo um texto como esse no Mídia sem Máscara e me lembro de um texto do Alexandre Soares Silva (não sei cadê, mas procura aí que cê acha nos posts antigos) em que ele dizia que sempre que ouvia alguém falar que não era nem de esquerda, nem de direita, dava um nervoso e ele ficava olhando pros pés da pessoa com medo de que ela fosse começar a sambar.

O Paulo já tinha me falado dessa bobagem da casa do Al Gore ter um consumo imenso de energia e de se configurar em uma hipocrisia muito grande ele viver assim e vir falar do aquecimento global. Eu dei uma risadinha e perguntei se ia chover porque não estava fim de falar dessas coisas. O argumento do texto é bem bobinho. Levado ao limite, ele significa que nenhum de nós, exceto talvez um asceta nas montanhas tibetanas, pode fazer crítica a coisa alguma, porque afinal nosso telhado é sempre de vidro, ou não? Aliás, não há nada que distingua mais a tal da modernidade do que esta separação entre discurso e prática, ou não? Todos os dias, inúmeras vezes, a maioria delas sem que nos demos conta, pregamos coisas que não praticamos ou fazemos coisas que vão contra valores que nós mesmos defendemos.

Eu mesmo, e não apenas o Al Gore, temos modos de vida profundamente insustentáveis em termos ambientais, começando por coisas básicas: entre outras coisas, não separo o lixo do meu lar e trabalho a maior parte do dia em uma ilha de edição com ar condicionado a 19°C gastando preciosos kilowatts de energia produzidos no Brasil num mix que inclui termelétricas a gás, gerando gases estufa, hidrelétricas, alterando radicalmente grandes ecossistemas e emitindo gases estufa, e nuclear, ao risco que brincar com a radioatividade impõe. São apenas singelos exemplos.

Tudo bem. É evidente que o seu Al Gore tem mais responsabilidade que nós pela posição que ocupa e blábláblá. Mas realmente o que me surpreenderia seria ele ter uma casa parecida com um cupinzeiro, construída de adobe, usando técnicas de permacultura, com condicionamento de ar natural, usando técnicas herdadas dos povos pré-colombianos em suas pirâmides, aquecida por células de hidrogênio no inverno e movida a energia solar.

No limite, segundo o raciocínio de Eduardo Ferreyra, ninguém pode falar nada. Sentamos no próprio rabo o tempo todo. Criticazinha besta. Me dá raiva até de ler e gastar minha manhã de sábado escrevendo isso, quando tenho outro post mais engraçado e menos sérião pra fazer. Devo ser tão chatinho quanto esse Eduardo Ferreyra que nem sei quem é.

O Mídia Sem Máscara costuma publicar textos bem melhores.

Saco.

Fatos e Política

A Factcheck.org é uma organização independente, sem fins lucrativos e sem vínculo com partidos ou empresas, cujo objetivo é reduzir o nível de “confusão e decepção” na política americana, através da checagem da acurácia factual de afirmações públicas feitas por atores políticos importantes em discursos, declarações, peças publicitárias, na mídia, etc.

Um dos fundadores é a professora Kathleen Jamieson, da Annenberg School for Communication, na Universidade da Pensilvânia, uma das mais conhecidas pesquisadoras da relação entre comunicação e política, com diversos livros publicados na área, como “Everything You Think You Know About Politics…and Why You’re Wrong (Basic Books, 2000)” e “Spiral of Cynicism: Press and Public Good (Oxford, 1997).

Dando um pulo no site da Factcheck podem ser lidas esta semana, por exemplo, a análise e críticas a anúncios televisivos veiculados pela MoveOn.org, uma das maiores ONGs de ação política do mundo de filiação esquerdista. Entre os últimos tópicos está também a checagem factual do discurso de Bush sobre o Iraque em janeiro.

Faria bem à nossa democracia capenga uma instituição semelhante, sobretudo diante da negativa clivagem e do ódio ideológico insuflados pela alopração petista e pelos níveis estratosféricos de cinismo e cara de pau de nossos políticos de todos os matizes.

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