blog do escritor yuri vieira e convidados...

Categoria: Arte Page 28 of 112

A luz do Bob Esponja

Eu juro que não faço de propósito. É que eu sou assim mesmo, um cara meio esquisito. Digo isso porque, sempre que volto a conversar com o Cassius Pucci Cordeiro, diretor de fotografia do meu curta-metragem (Espelho), ele se recorda dessa história. A questão é que eu queria uma iluminação XYZ para nosso filme, cujo desenrolar tem como único cenário uma sala de cinema. Não poderia ser uma sala muito escura – um cinema sempre tem luz suficiente para sensibilizar nossos olhos e a câmera nunca é tão sensível quanto -, mas tampouco poderia ser iluminada a ponto de sumir com a luz do projetor. Seria necessário ver as pessoas com nitidez sem perder o efeito de contraluz da projeção. Então, claro, começamos a pesquisar filmes que mostrassem salas de cinema. E apenas dois dias antes da filmagem, finalmente pude dizer ao Cassius: “Meu, encontrei a iluminação exata, do jeito que eu quero!”

“No Cinema Paradiso?“, perguntou ele.

“Não, no Bob Esponja – o filme.”

“Ce tá curtindo com a minha cara…”

“É sério, Cassius. No final do desenho animado, há uma mistura de cenas reais e animação. Quando o Bob Esponja e o Patrick morrem secos, o plano recua para dentro duma sala de cinema na qual há um bando de piratas assistindo ao filme. Essa cena é feita com atores. Eu achei aquela iluminação ideal: há uma luz frontal fixa, ligeiramente amarelada, e um brilho azulado em torno das pessoas, criado pelo projetor, que obviamente é fake. Perfeito!”

Ele ficou me encarando com uma expressão irônica: “Eu pensei que você ficava em casa assistindo ao Antonioni ou, sei lá, ao Kurosawa e você vem me falar de Bob Esponja?”

É que eu sou uma cara assim, sabe, meio esquisito. (É o que eu deveria ter dito.) Mas, como diretor, preferi colocar a produção atrás do tal DVD esponjoso. Acho que o resultado será positivo.

Pergunta sem Resposta

Aron Ralston

Há poucas coisas tão intrigantes quanto o gosto de alguns seres humanos pelo risco, ilustrado de maneira radical pelos relatos de adversidades, mega-roubadas e episódios de quase-morte ou morte que chegam das montanhas.

Confrontada com tais histórias arrepiantes, a mente ecoa de forma incessante a pergunta sem resposta: “por que estes seres humanos sentem prazer em arriscar a própria vida para galgar uma parede de pedra ou encostas geladas de uma montanha, muitas vezes em empreitadas árduas e sofridas, sob frio congelante ou calor enauseante?”

Meus quase 15 anos de montanhas e paredes – embora hoje com o instinto um pouco adormecido -, não oferecem mais do que pistas, sem qualquer resposta definitiva. Ninguém a possui, exceto talvez aqueles que já se foram, tragados por avalanches ou vitimados por quedas fatais e que, no derradeiro instante, viram-na brilhar diante de seus olhos. Riem de nós hoje reunidos no além.

A história de Aron Ralston ganhou as manchetes dos jornais do mundo todo em 2004. Este é o camarada que serrou, com um canivete, o próprio antebraço esmigalhado e preso sob uma rocha em um cânion remoto do Colorado.

Esta reportagem da revista Go Outside é um resumo deste episódio enauseante detalhadamente descrito no livro “Between a Rock and a Hard Place”, escrito de próprio punho, ou de punho e prótese, se podemos nos permitir algum humor negro.

Imperdível.

Greetings from South Africa

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Pin ups do Wilson – 1

Uma pin-up do meu bróder, o artista plástico paulistano Wilson Neves.

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E o Controle venceu a Kaos

Ter dirigido o curta-metragem Espelho, com a Cássia, foi simplesmente uma das coisas mais loucas que fiz na vida. Entrou para os Top 5 do meu rol de insanidades, justamente após a escalada ao vulcão Tungurahua e antes de… bem, leia meu conto Genus irritabile vatum… Sério, não estou brincando: uma pessoa que decide estrear no cinema com um orçamento curtíssimo e colocando, além da equipe, cerca de 150 figurantes famintos e cansados dentro duma sala de cinema por quase 21 horas seguidas não pode bater bem. Quando mais alguém disser “o Yuri é doido”, direi “de fato, ele é”. Eu andava pelo set e pensava, “as pessoas devem estar dizendo para si mesmas: ‘eu não gostaria de estar na pele desse cara'”. Mas tudo correu bem, graças ao apoio dessa equipe maravilhosa cujos nomes citarei mais tarde. Conforme anunciei, o Controle protegeu o set contra as forças trevosas da Kaos. Tudo poderia ter dado errado, mas mil e um pequenos milagres nos salvaram. E da maioria deles só tomei conhecimento após as gravações. Eu acreditava estar na posição mais difícil, mas na verdade estava no olho do furacão, um oasis de calma em meio a uma verdadeira batalha contra as circunstâncias. Cada situação, cada encrenca de que nem me dei conta, concentrado que estava em instruir os atores e compor os planos. Sim, às vezes chegavam notícias escabrosas: “alguém desmaiou!”, “uma diabética está com hipoglicemia!”, “uma grávida está passando mal!”, “não encontraram as balas de festim!”, “sem óleo o projetor vai queimar!”, “mais da metade dos figurantes querem ir embora!”, “a comida ainda não chegou!”, etc., etc. Embora nem tudo tenha saído conforme planejado, e a pressão das circunstâncias tenha impedido, em algumas cenas, a busca do “plano perfeito”, minha co-diretora foi destemida, minhas produtoras foram verdadeiras paladinas, os atores foram incríveis e os técnicos, excelentes. Que Deus abençoe a todos.

Seguem algumas fotos (feitas pela Karina, minha irmã, que se incumbiu da claquete), que incluem nossos atores estreantes Pedro Novaes e Paulo Paiva, colaboradores deste blog. (O Pedro tornou-se um verdadeiro psicopata, uma atuação impressionante.)

Equipe do filme EspelhoCom o ator Pedro NovaesA atriz RenataInstruindo o ator Sandro TorresYuri, no monitorCassia, diretoraO ator Paulo Paiva

Reportagem sobre a “Bíblia alienígena”

Para se criar um apelido infeliz, nada melhor que uma reportagem sensacionalista da TV. Tal como diz um dos entrevistados: “se você considerar anjos e seres espirituais como alienígenas, então este livro trata de alienígenas”. Mas é interessante saber que Elvis Presley – que nunca deixou de ser um cantor gospel – provavelmente travou contato com o Livro de Urântia, assim como o líder da banda Grateful Dead, o autor da série Star Trek e até mesmo gente da Casa Branca.

Como já disse algumas vezes, vem aí o “Efeito Tlön” (vide o conto Tlön, Uqbar, Orbis Tertius, de Jorge Luis Borges). Pouco importa se o livro foi escrito por mentes humanas ou espirituais: um dia, tal como o mundo se tornou Tlön no conto de Borges, o planeta se tornará Urântia. Sim, porque a diferença entre os dois está num ponto muito importante: enquanto o patrocinador dos “sábios” que escreveram o Orbis Tertius exigiu que aquela obra “não compactuasse com o impostor Jesus Cristo”, o Livro de Urântia não apenas compactua, mas alarga nossa compreensão sobre o Senhor do Universo.

Ok, há a polêmica com os cristãos tradicionais, já que, segundo este livro, existiriam outros seres semelhantes a Jesus, outros Filhos diretos de Deus, cada qual criador e governante espiritual de seu próprio universo. Para se chegar a Deus, é preciso passar por um deles, pois são o caminho, a verdade e a vida em seus respectivos universos. Mas, calma, não se chateie, há também o Filho Eterno, a terceira pessoa da trindade e mil outros detalhes que não vem ao caso.

Enfim, só nos resta duas opções: ou o livro é uma fraude, ou é de fato uma revelação, talvez o Evangelho Eterno anunciado pelo Apocalipse. No primeiro caso seria necessário descobrir quem o escreveu. Contudo, ninguém o sabe e, conforme os anos vão passando, mais difícil se torna sabê-lo. Já o segundo caso – é uma revelação autêntica? – exigirá certamente alguns séculos para ser confirmado, uma vez que toda revelação genuína dá início a uma nova civilização. Eis o busílis: essa civilização só começa a engatinhar quando uma massa crítica de pessoas começa a crer na suposta revelação.

Borat e o primeiro filme de Carlitos

Algo me fez sentir que o maluco sem-noção do Borat é uma espécie de Carlitos do século XXI. Eu sei que certas situações criadas por ele – no filme Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan – causam mais constrangimento que risos. Mas, vários dias após assistir a seu longa-metragem, é impossível parar de pensar no cara. E de dar risadas com as lembranças. Alguém pode afirmar que o personagem é um amoral idiota (de fato, segundo Aristóteles, a personagem da comédia está sempre fora da virtude) e que Sacha Baron Cohen, seu criador e intérprete (um cara nascido exatamente 11 dias antes de mim), não passa de um imoral filho-da-mãe. Pouco importa, as gargalhadas são garantidas. A questão é que ele simplesmente levou ao extremo a mesma idéia de Chaplin ao criar seu famoso personagem, o Carlitos. Como Borat, o primeiro filme em que Chaplin interpretou o Vagabundo não era senão uma pegadinha.

Chaplin foi com o diretor Henry Lehrman até uma corrida de carros sem motor – carros impulsionados pela força da gravidade ao descer uma rampa – e ali fez, como diria a turma do Pânico na TV, o papel de Robert. Enquanto o próprio diretor do curta-metragem finge que só quer filmar a corrida dos garotos (Kid Auto Races at Venice), o vagabundo fica invadindo a cena, tentando aparecer. O público da corrida obviamente nunca vira aquele doido antes e, por isso, não percebe que se trata de algo combinado. É ótimo ver a reação das pessoas na tela grande, suas expressões de espanto diante do maluco exibido. Pena que no You Tube não se vê as tais tão nitidamente. Mas tá valendo. (Veja abaixo.)

Quanto a essa gente que insiste em dizer que Borat expõe a babaquice dos americanos, me desculpe: os babacas que aparecem no filme são os mesmos babacas de qualquer canto do mundo. Mesmo assim, a maioria dos americanos com quem ele interage são tolerantes e amigáveis ao extremo. Tudo bem, a polícia foi chamada 91 vezes durante as filmagens para dar um jeito no cara. Mas pense bem: fazendo o que ele faz, em outros países teria sido apedrejado, enforcado, linchado, esquartejado, etc., etc. Mas Borat é como Carlitos. Por mais escroto que seja, o personagem continua com sua aura de inocência. Pena que o sacana do Sacha Baron Cohen tenha necessitado sacanear tanta gente para atingir o efeito desejado. (Eu tenho mania de sentir pena das vítimas do humor. Das vítimas alheias mais exatamente, já que alguns dos meus contos foram o estopim para que alguns leitores também me tachassem de cruel. Mas, enfim…) Pelo que me lembro da autobiografia do Chaplin, descontando Hitler, e após seus primeiros filmes como Carlitos, ele se limitou a sacanear pessoas reais apenas pelos bastidores, fora do olhar das câmeras. Principalmente as mulheres…

Figurantes para curta-metragem

Amigos
Dia 16/04, segunda-feira próxima, eu e a Cássia iremos rodar o curta-metragem “Espelho”, cujo roteiro escrevi. A locação será o Cine Pireneus, em Pirenópolis-GO, um antigo teatro que se tornou cinema nos anos 1930. (A mesma sala que aparece no filme Dois filhos de Francisco.) Precisaremos de cerca de 150 figurantes para interpretar o complexo papel de público. Os interessados devem se apresentar logo pela manhã – muito embora, no correr do dia, muita gente irá certamente se cansar, cair fora e abrir novas vagas para outros figurantes. (Tô cansado de saber que só Hollywood consegue segurar a figuração horas e dias a fio.)

Estamos com uma equipe muito bacana, tanto os atores, quanto a produção e os técnicos. Se Deus quiser, tudo sairá super bem. (Em outra oportunidade, colocarei aqui a ficha técnica.)

Vale lembrar que Pedro Novaes, nosso companheiro de blog, interpretará o “vilão” da história, o gatilho mais rápido do centro-oeste… 🙂

É isso. Conto com a presença dos amigos e empolgados em geral. (Aconselho aos agentes da Kaos a não aparecerem. Uma turma do Controle irá monitorar e fazer a segurança do set.)
Abraços!

P.S.1: Comunidade do curta no Orkut.
P.S.2: Agora sai, Nelson Pereira!!

Monte Verde

Monte Verde

Depois da chuva

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