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Categoria: meio ambiente Page 5 of 7

Do ócio locomotivo ou Efeitos do Second Life

Acabo de chegar duma baita caminhada após ter deixado o carro sem combustível numa esquina qualquer dessa cidade. (Nunca ande ao mesmo tempo sem dinheiro e com o marcador escangalhado, um dia sua intuição irá falhar.) A caminhada numa cidade brasileira ordinária traz sempre a mesma paisagem entediante, por mais zen que você seja e por mais que acredite, como Thoreau, que não há lugar deserto o bastante para o poeta. Pouco importa: se você não está numa praia do Rio de Janeiro, no centro antigo de São Paulo, Salvador ou em algum lugar como Ouro Preto, Trancoso ou Parati, desista, entregue-se ao seu ócio locomotico e tente não dormir enquanto caminha, o que, aliás, teria sido excelente hoje. Bocejei tantas vezes que comecei a rir comigo mesmo, imaginando que seria ótimo ter um piloto automático atrás da nuca. Tudo isso porque buscava a terra perdida do Citybank, onde eu deveria – mas não consegui – receber minha grana da publicidade da Google. Não consegui pois, segundo o porteiro do prédio, a atual localização desse banco é um “mistério”. E ele tem razão: até a lista telefônica online traz o endereço e o telefone errados. É nessas horas que a gente fica com vontade de sair divulgando, a plenos pulmões, aquele filme do Mel Brooks: Que droga de vida! Contudo, ainda resta uma esperança. Se o Indiana Jones encontrou a Arca da Aliança, por que eu não poderia encontrar o Citybank? Um dia eu chego lá. Sim, um dia.

Outro pensamento que me assolou durante todo o trajeto foi: qual será a resolução do mundo? Digo, a resolução gráfica, porque é tudo tão bem definido. A gente vê os mínimos detalhes das flores e das árvores, uma coisa fascinante.

O Garganta em erupção

As sincronicidades são mesmo fabulosas. O vulcão equatoriano Tungurahua (Garganta de fogo, em quechua) começou a vomitar cascalho, cinza e lava novamente. (Veja no Google Maps.) Aliás, ainda não expliquei o porquê de eu ter usado o nome e a foto desse vulcão no blog, mas qualquer dia o farei. (Há algumas fotos da minha escalada ao dito cujo no meu perfil. Fotos com mais de dez anos.) Pois é, o cume do vulcão, onde estive sentado (veja a foto) e em cuja neve enterrei um papel com uma citação de Nietzsche, já não existe desde 1999, quando explodiu. (A erupção anterior havia sido em 1925.) O fato é que, em 1999, alguns anos depois da minha escalada, eu também sofri algumas explosões internas que não vêm ao caso. Assim como estou novamente prestes a entrar em erupção: “Não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.” (Ah, essa raça irritável dos homens de letras! Tão cheia de frescuras…)

Enfim, eis os versos nietzscheanos que viraram fumaça:

“Vós outros olhais para cima quando aspirais elevar-vos.
Eu, como estou alto, olho para baixo.
Qual de vós podeis estar alto e rir-vos ao mesmo tempo?
O que escala elevados montes ri-se de todas as tragédias da cena e da vida.”
Zaratustra

No alto do vulcão, pensei com os zíperes do meu anorak North Face que Nietzsche certamente nunca subira ao cume dum “elevado monte”. Ao menos não nos Andes. (Enquanto o Tungurahua tem mais de 5000 metros, o Monte Branco, ponto culminante da Europa, não passa dos 4800 metros.) Do contrário, conheceria o microclima dessas montanhas, que as enche de nuvens, justamente no ápice da aventura, e não nos deixa ver ninguém lá de cima, muito menos rir das cenas da vida. A gente, tanto quanto o vulcão, fica é a ponto de explodir…

Que Deus ilumine o caminho daqueles que ali morreram esta semana. Hermanos, oiga lo que les digo, vivir cerca de un volcán es como vivir con una espada colgada sobre la cabeza… de toda la gente.

Contagem regressiva

Eis a contagem regressiva do Al Gore para o fim do mundo:

Bem, trata-se duma tiração de sarro do radialista Rush Limbaugh, em referência ao alarmismo eco-catastrófico do ex-candidato democrata à presidência dos EUA.

Já o Jucelino Nóbrega da Luz não afirma que o mundo irá acabar. Diz apenas que rolarão mil e uma catástrofes naturais que poderão exterminar até 80% da população mundial e que isso nada tem a ver com degradação ambiental. Parece que é só porque o Riobaldo tinha razão: “viver é muito perigoso”.

IBAMA contra agricultores

Não interessam se são “humildes”, se fazem agricultura familiar, se são produtivos, empreendedores e assim por diante. Não fazem parte do MST – isto é, não estão do lado da ideologia do governo – então, fora!

O etanol é imoral?

Achei estranha a declaração da Shell que vi na Reuters, até por se tratar da maior comerciante mundial de biocombustíveis. Não sei qual a fatia deste tipo de combustível no mercado internacional, mas tenho certeza de que ainda é bem pequena. É só lembrar das guerras em torno do maldito petróleo. Acho que isso é choradeira de quem não quer largar o osso — o fóssil, no caso. Ou será que usar uva para fabricar vinho (ou cana para fazer cachaça) é algo imoral?

Shell diz que fabricar biocombustíveis com alimentos é imoral

Eita, mundo pequeno!

Recebi essas imagens do amigo Ricardo Azim, de Alto Paraíso. Veja na ordem, isto é, da esquerda para a direita.


Planetas
Planetas 2
Sol e planetas
Sol e outras estrelas
Estrelas

(Clique nas imagens para ampliá-las.)

Washington Novaes no FICA

Ó teu pai aí, Pedro.

FICA – Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, em Vila Boa de Goiás (segundo as más línguas, “Goiás Velho”).

(Via Blog do Altino.)

O passo

A evolução é algo realmente espetacular. Certos caminhos que ela escolhe podem, milênios depois, favorecer o sucesso ou o fracasso de uma espécie. Lembrei disso lendo na Reuters uma notícia sobre um tipo de big brother sobre pandas, na China.

Esse bicho fofinho, que todos adoram e é símbolo da luta pela preservação das espécies, corre risco de extinção em boa parte por uma escolha em seu caminho evolutivo — estou excluindo aqui o bicho-homem, já que esse é uma ameaça a qualquer ser vivo que exista.

Enquanto isso em Santarém…

Enquanto o pau quebra em São Paulo, quebra também em Santarém. Protestos do Greenpeace contra a Cargill suscitaram a ira dos sojeiros e de parte da população local. A Cargill é um dos maiores conglomerados de agronegócios do mundo, que construiu e controla um grande porto sem licenciamento ambiental na cidade, através do qual é exportada grande parte da soja plantada na Amazônia.

Houve muitas agressões pelos sojeiros que, entre outros absurdos, dispararam rojões contra os membros do Greepeace. Alguns ativistas saíram feridos. Há um clima de forte intimidação, truculência e cerceamento da liberdade de expressão.

Hoje, o navio Arctic Sunrise, do Greenpeace, bloqueou o porto e conseguiu impedir por três horas os transbordos de soja. Como resultado, 16 ativistas foram presos e encontram-se detidos na Polícia Federal, em Santarém, incluindo o diretor do Greenpeace Amazônia, Paulo Adário.

Entre Nagasaki, Chernobyl e a Rua 57 em Goiânia

Completam-se hoje 20 anos do maior acidente nuclear da história, a explosão do reator da Usina de Chernobyl, na Ucrânia, à época parte da URSS. Pouco mais de um ano depois, deflagrava-se o maior acidente radiativo já ocorrido no Brasil e quiçá também um dos maiores do mundo: a tragédia latino-americana do Césio 137, em que catadores de sucata romperam a cápsula com material radiativo de um aparelho radiológico abandonado, levando à morte de quatro pessoas e à contaminação de milhares de outras bem aqui, a alguns quilômetros da minha casa.

Vinte anos depois, a humanidade se vê às voltas com a possibilidade da retomada da opção nuclear e de nova corrida armamentista. Aquela para a geração de energia, em função do aquecimento global fomentado pela queima dos combustíveis fósseis; esta, em função da loucura fundamentalista.

O dia enseja uma reflexão. Por isso, acho que vale publicar um texto meu escrito há cerca de um ano e meio atrás, após um passeio de bicicleta passando pela famigerada Rua 57 num feriado de finados. Assim como vale à pena assistir ao filme The Last Atomic Bomb, do americano Robert Richter, sobre as vítimas da bomba atômica de Nagasaki, um triste e bonito manifesto pelo fim das armas nucleares, selecionado para o VIII Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, que acontecerá entre 6 e 11 de junho na Cidade de Goiás (GO) (há uma cena
muito impressionante do encontro e diálogo entre um sobrevivente de campo de concentração nazista e uma velhinha japonesa sobrevivente da bomba de Nagasaki – de arrepiar).

VIAGEM URBANA NO DIA DE MORTOS
(Texto escrito em dezembro de 2004)
Neste feriado de mortos, tive uma viagem urbana.
Tenho duas pessoas que moram dentro de mim. Por isso, gosto da cidade, da urbanidade, assim como gosto do mato. Sou cético e, ao mesmo tempo, profundamente esperançoso.
Duas coisas me atraem na cidade: a decadência em toda a sua humanidade, assim como a humanidade em toda a sua decadência.

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