Completam-se hoje 20 anos do maior acidente nuclear da história, a explosão do reator da Usina de Chernobyl, na Ucrânia, à época parte da URSS. Pouco mais de um ano depois, deflagrava-se o maior acidente radiativo já ocorrido no Brasil e quiçá também um dos maiores do mundo: a tragédia latino-americana do Césio 137, em que catadores de sucata romperam a cápsula com material radiativo de um aparelho radiológico abandonado, levando à morte de quatro pessoas e à contaminação de milhares de outras bem aqui, a alguns quilômetros da minha casa.
Vinte anos depois, a humanidade se vê às voltas com a possibilidade da retomada da opção nuclear e de nova corrida armamentista. Aquela para a geração de energia, em função do aquecimento global fomentado pela queima dos combustíveis fósseis; esta, em função da loucura fundamentalista.
O dia enseja uma reflexão. Por isso, acho que vale publicar um texto meu escrito há cerca de um ano e meio atrás, após um passeio de bicicleta passando pela famigerada Rua 57 num feriado de finados. Assim como vale à pena assistir ao filme The Last Atomic Bomb, do americano Robert Richter, sobre as vítimas da bomba atômica de Nagasaki, um triste e bonito manifesto pelo fim das armas nucleares, selecionado para o VIII Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, que acontecerá entre 6 e 11 de junho na Cidade de Goiás (GO) (há uma cena
muito impressionante do encontro e diálogo entre um sobrevivente de campo de concentração nazista e uma velhinha japonesa sobrevivente da bomba de Nagasaki – de arrepiar).
VIAGEM URBANA NO DIA DE MORTOS
(Texto escrito em dezembro de 2004)
Neste feriado de mortos, tive uma viagem urbana.
Tenho duas pessoas que moram dentro de mim. Por isso, gosto da cidade, da urbanidade, assim como gosto do mato. Sou cético e, ao mesmo tempo, profundamente esperançoso.
Duas coisas me atraem na cidade: a decadência em toda a sua humanidade, assim como a humanidade em toda a sua decadência.
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