Uma certa treta interna devida a uma “b-word”, me lembrou do caso ocorrido este mês, nos EUA, referente a uma “n-word”: a turma do South Park andou sacaneando com o termo nigger. Num programa de TV a là Sílvio Santos, o pai do Stan, para vencer o jogo, acaba dizendo em rede nacional a famigerada palavra tabu. Daí em diante, ele passa a sofrer um enorme preconceito por parte de toda a sociedade, sendo tratado tal qual, em filmes do tipo Mississipi em Chamas, vemos os negros sendo tratados: “ih, lá vem o nigger guy…”
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Do salão de festas do meu prédio, junto com o cheiro de carne torrada, nesta tórrida hora de domingo, sobem também os singelos acordes e versos de uma canção:
“Larga do meu pé!
Larga do meu pé!
Hoje eu vou encher a cara
E vou prum cabaré!”
Eis o making of, que dirigi, da 6a. Goiânia Mostra Curtas, mais conhecido entre nós como “Onde está o Paulo Paiva?”, hehehe.
Vale lembrar que a cena onde Paulo César Peréio aparece com o dedo em riste foi excluída por motivos bastante claros – bastante claros para quem viu em que trecho tal cena aparecia…
Gosto muito da entrevista com o Juliano Moraes, durante os créditos finais. 🙂
Mais detalhes, logo abaixo do vídeo.
Making of da sexta edição da Goiânia Mostra Curtas – que inclui a 5.a Mostrinha (infantil) e a Mostra Cinema nos Bairros (exibições ao ar livre) – ocorrida entre 10 e 15 de Outubro de 2006, sob coordenação de Maria Abdala (ICUMAM). O tema da mostra foi o cinema experimental, tendo contado com as presenças de Edgar Navarro, Joel Pizzini, Jomard Muniz de Britto, Christian Saghaard e José Eduardo Belmonte. Estes dois últimos, juntamente com o compositor André Abujamra, foram os responsáveis pelas oficinas de Cinema Experimental, Direção Cinematográfica e Música para cinema, respectivamente. Dos 590 curtas-metragens inscritos, 127 foram selecionados e distribuídos em 5 mostras competitivas. Além destes, foram exibidos 19 filmes convidados dentro da mostra Cinema Experimental. A direção do making of e as entrevistas são de Yuri Vieira, com imagens de Eduardo Castro, produção de Paulo Paiva e Cássia Queiroz, e edição de Aline Nóbrega, pela Cora Filmes. A produção executiva é de Pedro Novaes.
Um poema de Alberto Cortez (no vídeo, a primeira voz) e Facundo Cabral (a segunda voz), dois argentinos que deveriam deixar envergonhados todos aqueles que, ao falar da Argentina, só se lembram de Che Guevara e Maradona, esses amantes de Castro. Aliás, o Facundo Cabral, a quem ouço desde 1989, e que é uma espécie de Bob Dylan da América do Sul, aceitou gravar um podcast comigo, hehe. (Algo me diz que só o Ronaldo vai curtir o poeminha…)
Eu sempre dou muita risada ao ver o Erik Cartman, o gordinho do South Park, xingando alguém de hippie. (Isso sempre me lembra uma ex-namorada que, ao passear por feiras de artesanato, costumava reclamar: “ai, que cheiro de hippie”.) O que eu nunca imaginei é que alguém chegaria um dia a me chamar – sim, a mim, limpinho e cheiroso – de “hippie reacionário”. Pois é, isso rolou.
Como roteirista, fui apresentado a uma figura que pretende dirigir uma adaptação livre para cinema do Fausto, de Goethe. Conversamos por algum tempo sobre o livro e, ao tratarmos do final, ela me deixou claro que não quer nada semelhante a uma “redenção” do protagonista, que o cara tem é de se foder de modo absoluto, como na “vida real”. “Então não é Fausto”, eu disse. E ela me respondeu que, “como marxista”, não acredita nessas bobagens tipo “redenção”, “culpa cristã”, “alma imortal”, “pecado” e coisas do gênero. Eu ri, claro. E discordei. Pra quê… Iniciou-se um daqueles debates infrutíferos, nos quais falamos com as paredes. (Imagino que isso tem a ver com a mania dos dirigentes marxistas de acabar com as discussões no paredão.) Coletivo pra lá, indivíduo pra cá, eternidade pra cá, História pra lá e assim por diante. Eu a compreendia, juro, mas a recíproca não parecia verdadeira – ela estava indignada! A figura, para completar, ainda é professora voluntária de literatura num acampamento do MST, onde, apesar da eterna desconfiança que os sem-terra mantêm para com pessoas de fora do movimento, e a despeito das “origens burguesas” dela, esforçam-se por aceitá-la. E ela entoava isso como se o fato de ter nascido numa família classe-média fosse… um pecado! Ficou muito claro que, em meio deles, ela se vê tão deslocada quanto uma menina pobre entre as patricinhas de Beverly Hills. E, tal como essa hipotética menina, “sabe” que a culpa dessa, digamos, ausência de comunhão é apenas dela, uma mera aprendiz de revolucionária que se põe feliz como um cachorrinho cada vez que um camponês (isto é, um pobre! um proletário! um membro real do povo!) lhe dá atenção. Mas o mais incrível mesmo era vê-la defender aquela gente que, em vista de seu próprio depoimento, jamais colocaria a mão no fogo por uma “burguesa”. Afinal, ela faz parte da classe injusta e eles, da classe dos justos, uma turma que, antes das sete da manhã, se reune para berrar slogans revolucionários e dar gritos de guerra. (Segundo o documentário do João Salles, até o Lula ficou amedrontado ao presenciar isso.)
Conversa vai, conversa vem, insisti num final com a redenção de Fausto. Ela achava isso “ultrapassado” (!!), como se algo que dependesse da eternidade fosse condicionado pelo tempo. Mas explicar isto era inútil. “Ora”, repliquei, “até o Pulp Fiction do moderníssimo Tarantino, um filme de 1994, tem redenção e, de lá pra cá, ainda não conseguiram, nem mesmo o próprio Tarantino, rodar uma tragicomédia que fosse além desta, tanto em forma quanto em conteúdo”. E passei a descrever o início da conversão de Jules, capanga do Marsellus, que acreditava piamente não ter sido baleado graças a um milagre divino. E entrei, pois, a discorrer sobre fé, demostrando que a redenção de Jules foi comprovada por sua atitude corajosa e ponderada na parte final do filme.
Ela arregalou os olhos: “Yuri, você é um dos caras mais loucos que já conheci!”
“Ah, é? E por quê?”
“Cara, você é um hippie reacionário!!”
“Um hippie reacionário?!”, e desatei a rir. “Como assim?”
“Bom, segundo me disseram, você não tem onde cair morto, tá desempregado, não é mais empresário, vive de bicos “artístico-culturais”, seu pai é aposentado (ou seja, não é rico), você não tem diploma, nem sequer tem dinheiro pra ir ao cinema e tomar um chope… Você é praticamente um hippie, cara! Só que cheio de idéias anti-progressistas, conservadoras, capitalistas, liberais, religiosas, enfim, um autêntico reacionário.”
De fato, diante dela, eu era um escândalo a abalar sua fé marxista. Como era possível existir alguém cujas idéias e princípios não representavam a ideologia de sua suposta classe social? Se ela estivesse em meu lugar, certamente já teria se mudado para um acampamento do MST. Ela me encarava embasbacada. Não conseguia engolir o fato de que, se eu estava na merda financeira, isto se dava simplesmente por incapacidade e incompetência minhas – aliadas, é claro, à rapinagem e corrupção estatais (meu estúdio quebrou por ação da “máfia dos fiscais” de São Paulo) – e não por culpa dos “ianques”, dos “capitalistas exploradores” e dos “banqueiros bandidos”. Já eu não parava de pensar que “hippie reacionário” teria sido um ótimo nome para este blog…
Está nos jornais de hoje. Reproduzo trecho da Folha:
Para ouvir por apenas duas horas, ontem, seis testemunhas de acusação num processo do qual é réu na Justiça Federal do Rio, o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, custou aos cofres públicos mais de R$ 50 mil, segundo cálculos da Fenapef (Federação Nacional de Policiais Federais).
Para o presidente da OAB, Luiz Flávio Borges D’Urso, presos como Beira-Mar ou qualquer outro não devem ser ouvidos por videoconferência, pois têm o direito de serem ouvidos na presença de um juiz.
O fato é que a videoconferência não está prevista em lei. Como nós, brasileiros, precisamos de uma “bíblia” que nos guie — neste caso, o Código de Processo Penal —, abre-se um vácuo estranho. Como não está previsto em lei, não é legal nem ilegal.
Quer outro vácuo estranho nas regras brasileiras? Apenas há uns 20 dias, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que prevê punição para presos flagrados com aparelhos celulares. Ele ainda precisa passar pelo Senado. Isto quer dizer que, quando um detento é pego na cela com um celular, que ele usa para aplicar o golpe do falso seqüestro que tanto tem assustado as pessoas atualmente, nada lhe acontece ainda.
O curioso é que estamos em 2007. Em 2001, houve em São Paulo um episódio de que você certamente se lembrará. Em fevereiro daquele ano, presos de 29 presídios paulistas se amotinaram ao mesmo tempo — chamaram isso de megarrebelião; foi neste episódio que, para o público em geral, surgiu o PCC (Primeiro Comando da Capital), facção que articulou o movimento.
E como os presos conseguiram articular esse grande motim? [Abro o colchete para pedir a você, leitor, desculpas antecipadamente, pois, naturalmente, você sabe a resposta à pergunta. Mas prefiro respondê-la o mais claramente possível. Vá que um deputado qualquer leia este texto…] Resposta: celular.
Bem, passaram-se seis anos. E até hoje um detento não pode ser punido por, do presídio, articular crimes contra os que estão do lado de fora utilizando um aparelhinho que nem deveria estar lá dentro — mas está por conta da corrupção do sistema.
Alguém aí consegue me explicar isso? Por favor, possível leitor deputado, alguma explicação?
O resultado disso é que aquele movimento de 2001 hoje é chamado de a primeira megarrebelião. Sabe por quê? Porque em maio passado houve uma segunda, ainda maior, que sacudiu 74 unidades prisionais e incluiu atentados terroristas que ceifaram vidas e espalharam o terror pela cidade mais rica do país. E o que os presos usaram para planejá-la? [Amigo leitor, me desculpe novamente, ok? Espero que você entenda.] Resposta: celular.
Mas se estamos em março e a segunda megarrebelião foi em maio, por que um preso ainda não pode ser punido se for pego com um telefone na cela? Alguém sabe me explicar? Possível leitor deputado, algo a dizer?
Voltando ao primeiro vácuo estranho, aquele a que me referi lá em cima sobre o Código de Processo Penal, talvez possamos ter, não uma explicação, mas uma leve idéia de por que algo assim acontece no Brasil.
Sabe por que o Código de Processo Penal não prevê a videoconferência como uma forma segura e econômica para se ouvir presos de alta periculosidade? Na verdade, ele não prevê nem o computador. Ele é de 1941 e ao longo desse período poucas alterações sofreu. Naquela época, uma pequena invenção de um húngaro chamado Laszlo Biro começava a encantar as pessoas — e, suponho, os legisladores — mundo afora: a caneta esferográfica.
Como diz o Yuri, somos mesmo um país de catarrentos.
Eu certamente já esclareci isto em algum post, mas, se ainda não o fiz, faço-o agora: este blog deve seu nome ao vulcão equatoriano Tungurahua (do quechua Garganta de fogo), de 5060 metros, que a duras penas escalei anos atrás, antes que reiniciasse a série de erupções em que se meteu a partir de 1999. (Veja as fotos no meu perfil.) A foto abaixo foi eleita a foto do dia pela Folha de São Paulo. (Isso é o que eu chamo de propaganda subliminar…) Que Deus olhe pelo povo de Baños e de Ambato, Província de Tungurahua, e pela família Naranjo, minha família de intercâmbio, que vive próxima ao vulcão Cotopaxi (5890m), alguns quilômetros mais ao norte, que também escalei, e que ainda é ativo. Viver à base dum vulcão é como viver coletivamente sob a espada de Dâmocles.
Quando comecei a escrever para o blog corri à livraria mais próxima e comprei o livro. Quem dera eu tivesse 10% da capacidade do Graciliano para a ironia fina! Desisti muito cedo de ser escritor, em alguma medida por conta do texto que segue. Foi uma porrada bem dada no meu ego.
O literato em esboço é um sujeito que tem sempre no cérebro um pactolo de idéia e que ordinariamente não tem na algibeira um vintém.
É poeta na acepção vulgar da palavra – é desocupado. Anda com a cabeça no ar, como convém a um indivíduo que faz versos. Através da fumaça branca de seu cigarro percebe vagamente alguma coisa muito brilhante e muito grande a acenar-lhe. É afoito, ri muito, gesticula em excesso, fala alto, principalmente a respeito de sua pessoa.
Já participei de dois debates filosóficos no Second Life – organizados pelos grupos History and Moral Philosophy e Verum’s Place – que me demonstraram claramente qual é o melhor argumento dos socialistas: o botão mute (mudo).
Num dos encontros, uma norte-americana, após palestrar sobre as maravilhas do marxismo, convidou os assistentes para um debate. Como os demais demoraram a se manifestar, fui pedindo desculpas pelo meu inglês de Tarzã e iniciei uma tentativa razoavelmente bem sucedida de refutar dois ou três pontos apresentados por ela como se axiomas consagrados fossem. Quando passei a criticar seu papo furado sobre a famigerada exploração – segundo ela totalmente indissociável do capitalismo – quis saber de onde eu estava tirando essas idéias foolish. Disse que de von Böhm-Bawerk. Pra quê… Começou a me pôr mil rótulos absurdos – neoliberal, fascista, fundamentalista de direita, etc. – sem querer ouvir mais nenhum dos meus argumentos. Chegou a dizer que von Böhm-Bawerk e von Mises não passavam de austríacos nazistas. (!) Neste momento, um norueguês tomou minhas dores e, mesmo se dizendo de esquerda, explanou com um inglês muito mais claro que o meu quais eram as críticas da escola austríaca de economia ao marxismo.
Claro que, após o debate, minha pulsão diplomática de ascendente em libra tentou entabular uma conversa mais informal com a palestrante. (Ela era bonitinha.) Cliquei, pois, sobre o avatar dela e selecionei IM, isto é, o Instant Messenger, através do qual é possível manter com alguém uma conversa privada ainda que diante de outras pessoas. E ela: “I’m sorry, Yuri, vou colocar vc na minha lista de ‘Mudos'”, e, pressionando o botão mute, me tornou incomunicável. Bom, ao menos para com ela. Pensei que o caso fosse um acontecimento extraordinário. Até ri. Contudo, dias depois, após um debate no Verum’s Place – no mesmo local em que ocorreu o caso do Homem Biscoito de Gengibre – resolvi conversar com uma figura de Hamburgo, uma que fazia parte do grupo Socialist Party. Queria apenas saber por que ela acreditava no socialismo. (Para quem não sabe, o socialismo é no mínimo uma crença.) Ela disse que era o único sistema que poderia trazer o bem ao planeta. Perguntei então o que ela acharia se o Partido Nazista fosse ressuscitado na Alemanha. Respondeu que seria o horror, uma vez que foram responsáveis, afora as mortes em batalhas, pelo extermínio de seis milhões de judeus.
“Logo”, eu disse, “um membro atual de um hipotético Novo Partido Nazista seria cúmplice moral dessas mortes”. “Sim”, ela concordou. “E por que”, tornei, “não é você uma cúmplice do assassinato sistemático de mais de cem milhões de pessoas pelos países socialistas no século XX?”, e citei a União Soviética e seus Gulags, a China, Pol Pot, Castro, etc., etc. Disse ela: “Yuri, I will ‘mute’ you”. E me silenciou. Comentei no chat aberto, para que ela e os demais circunstantes ouvissem: aposto que se vocês socialistas dispusessem desse botãozinho na “First Life”, iriam utilizá-lo a torto e a direito, nem precisariam de tantas prisões políticas! E ela então desapareceu. Provavelmente se teletransportou para alguma reunião do grupo Hell’s Worshipers, do qual também fazia parte…
Dá preguiça demais ler na tela do computador, especialmente ficção e jornal, que são leituras que induzem e pressupõem certos estados de espírito. Jornal, em dia de semana, eu leio aos pedaços, entre um comando e outro no computador da ilha de edição, entre uma tarefa e outra. Em fim de semana, leio esparramado no sofá, escutando música e tomando café ou abrindo os trabalhos com a primeira cerveja do sábado. Livro é livro. Tem que ser de papel e pronto, pesar nas mãos, dar culpa de sublinhar, etc e tal.
Isto posto, digo que abro poucas exceções para textos de ficção na tela do computador. Mas devo confessar que, nas poucas vezes em que o fiz, não me arrependi. E, por coincidência, tratam-se de três romances que guardam incríveis e louváveis semelhanças entre si.
A primeira exceção, já há alguns anos, foi para o “Mulher de um Homem Só”, do Alex Castro, que àquela época ainda se chamava Alexandre Cruz Almeida. Como ele anda tramando sua publicação em papel, tirou o livro temporariamente do ar. É romance curto que não se consegue largar depois de poucas páginas centrado em torno da pergunta de se é possível uma verdadeira amizade entre homem e mulher. Uma genial incursão pela mente de uma mulher decidida a manter seu macho. Delicioso e muito engraçado.
A segunda exceção, bem mais recente, foi para o “Romance Barato”, de ninguém menos que nosso camarada de blog, Ronaldo Brito Roque. Outra genial incursão pelas mentes femininas, pelas emoções, ingenuidade e frieza de garotas que optam pela “vida fácil”. Também me prejudicou os afazeres, pois, uma vez iniciado, não pude mais largá-lo. Literatura do país de Nelson Rodrigues. O rapaz tem sensibilidade e verve. Está tentando publicá-lo e, espera-se, em breve, todos terão o privilégio de se divertir e emocionar com sua literatura.
A terceira exceção, recém concluída, foi para o “Sexo Anal – Uma Novela Marrom” do Luiz Biajoni. Puta que o pariu! Que livro! Como já foi dito, quase um filme. Uma novela visual. Que inveja desse cara. Vá escrever assim no inferno. O Biajoni tem uma capacidade absolutamente anormal para, em escassíssimas linhas meramente descritivas, derramar imagens muito poderosas. O cara não elabora, não psicologiza. Explicita as emoções dos personagens com muita parcimônia, pois não precisa. Está tudo ali nas entrelinhas naquela magia que pouco escribas dominam com tanta habilidade.
“Sexo Anal” é sexo anal, sexo oral, hetero e homossexual, fios-terra, hemorróidas, vibradores, repórteres policiais que gostam de travestis, justiça com as próprias mãos, maçons porcos rindo com escárnio, policiais corruptos, imprensa marrom, cocô e sangue. Contínuos de escritório, punhetas, podolatria. Porra, cerveja choca e fumaça de cigarro. E tudo isso com uma leveza incrível. Humor fino e pura ironia. Qualquer acidez fica por conta do leitor.
Como disse Idelber na orelha do ebook (e ebook tem orelha??), Sexo Anal é “pós ou transpornográfico”, pois “ao escancarar já no título paradoxalmente esvazia qualquer bobinha pretensão de excitação e voyeurismo punheteiro com o texto.” É fato. Você vai até ficar de pau duro ou molhada, mas não dá pra largar o livro e ir pro banheiro. Logo você estará rindo desmesuradamente para, em seguida, se incomodar com a crueza de cagadas e sangue na privada, estupros e assassinatos, e pouco depois puto com coroas gosmentos e qualquer sombra de excitação já terá passado.
A sinopse, nas palavras do próprio autor:
Em “Sexo Anal – Uma novela marrom” uma jornalista descobre as delícias do sexo anal ao mesmo tempo em que é escalada para cobrir – junto a um jornalista policial experiente – um crime bárbaro de estupro e morte. Em paralelo, seu namoro vai mal por conta do assédio de um médico bem-sucedido. Seu namorado conhece uma garota virgem de 23 anos que sofreu um abuso sexual na pré-adolescência e se interessa por ela. Uma homossexual, amiga de faculdade da jornalista – e apaixonada por ela -, faz de tudo para afastar os dois.
Não perca tempo! Antes que ele se envaideça com a enxurrada de elogios e declarações de amor e resolva cobrar, vá lá e baixe seu exemplar.
Finalmente, não posso deixar de enfatizar a semelhança de estilo, temática e de atmosfera entre os três romances citados. Sobretudo me parece curiosa a similaridade na enorme sensibilidade destes três autores homens para sondar a alma feminina. São três obras que têm mulheres como personagens centrais. E tenho certeza que as meninas teriam que ser muito hipócritas, invejosas ou se sentirem amedrontadas demais para negar que os três descrevem com argúcia e sutileza o que se passa no coração e na cabeça delas. Muito bacana.