blog do escritor yuri vieira e convidados...

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Adeus, Bruno!

Faleceu hoje o mestre e amigo Bruno Tolentino, que conheci em 1998, na casa da escritora Hilda Hilst, no dia do meu aniversário de 27 anos. Bruno também morou ali na Casa do Sol – por cerca de oito meses – e, além de termos feito algumas feijoadas juntos, discorremos sobre todo tipo de assunto, principalmente literatura, arte, política e religião. Juntamente com a Hilda e com o escritor Mora Fuentes, costumávamos também, ao final daquelas saudosas tertúlias diárias, assistir a clássicos do cinema. Nunca me esquecerei da expressão em seu rosto quando, certa tarde, apareceu em meu quarto para reclamar do CD que eu estava ouvindo e que, segundo deixou claro, o estava incomodando em seus afazeres: Passages, de Philip Glass e Ravi Shankar. “Essa composição está andando em círculos, não tem a saída da espiral! Isto não é música, é a música como idéia…”, comentou, parafraseando o título do livro que vinha finalizando, O Mundo como Idéia.

Amigo e mestre, vá com Deus e mande um beijo pra Hilda.

A luz do Bob Esponja

Eu juro que não faço de propósito. É que eu sou assim mesmo, um cara meio esquisito. Digo isso porque, sempre que volto a conversar com o Cassius Pucci Cordeiro, diretor de fotografia do meu curta-metragem (Espelho), ele se recorda dessa história. A questão é que eu queria uma iluminação XYZ para nosso filme, cujo desenrolar tem como único cenário uma sala de cinema. Não poderia ser uma sala muito escura – um cinema sempre tem luz suficiente para sensibilizar nossos olhos e a câmera nunca é tão sensível quanto -, mas tampouco poderia ser iluminada a ponto de sumir com a luz do projetor. Seria necessário ver as pessoas com nitidez sem perder o efeito de contraluz da projeção. Então, claro, começamos a pesquisar filmes que mostrassem salas de cinema. E apenas dois dias antes da filmagem, finalmente pude dizer ao Cassius: “Meu, encontrei a iluminação exata, do jeito que eu quero!”

“No Cinema Paradiso?“, perguntou ele.

“Não, no Bob Esponja – o filme.”

“Ce tá curtindo com a minha cara…”

“É sério, Cassius. No final do desenho animado, há uma mistura de cenas reais e animação. Quando o Bob Esponja e o Patrick morrem secos, o plano recua para dentro duma sala de cinema na qual há um bando de piratas assistindo ao filme. Essa cena é feita com atores. Eu achei aquela iluminação ideal: há uma luz frontal fixa, ligeiramente amarelada, e um brilho azulado em torno das pessoas, criado pelo projetor, que obviamente é fake. Perfeito!”

Ele ficou me encarando com uma expressão irônica: “Eu pensei que você ficava em casa assistindo ao Antonioni ou, sei lá, ao Kurosawa e você vem me falar de Bob Esponja?”

É que eu sou uma cara assim, sabe, meio esquisito. (É o que eu deveria ter dito.) Mas, como diretor, preferi colocar a produção atrás do tal DVD esponjoso. Acho que o resultado será positivo.

Pin ups do Wilson – 1

Uma pin-up do meu bróder, o artista plástico paulistano Wilson Neves.

wilson_neves_ana.jpg

E o Controle venceu a Kaos

Ter dirigido o curta-metragem Espelho, com a Cássia, foi simplesmente uma das coisas mais loucas que fiz na vida. Entrou para os Top 5 do meu rol de insanidades, justamente após a escalada ao vulcão Tungurahua e antes de… bem, leia meu conto Genus irritabile vatum… Sério, não estou brincando: uma pessoa que decide estrear no cinema com um orçamento curtíssimo e colocando, além da equipe, cerca de 150 figurantes famintos e cansados dentro duma sala de cinema por quase 21 horas seguidas não pode bater bem. Quando mais alguém disser “o Yuri é doido”, direi “de fato, ele é”. Eu andava pelo set e pensava, “as pessoas devem estar dizendo para si mesmas: ‘eu não gostaria de estar na pele desse cara'”. Mas tudo correu bem, graças ao apoio dessa equipe maravilhosa cujos nomes citarei mais tarde. Conforme anunciei, o Controle protegeu o set contra as forças trevosas da Kaos. Tudo poderia ter dado errado, mas mil e um pequenos milagres nos salvaram. E da maioria deles só tomei conhecimento após as gravações. Eu acreditava estar na posição mais difícil, mas na verdade estava no olho do furacão, um oasis de calma em meio a uma verdadeira batalha contra as circunstâncias. Cada situação, cada encrenca de que nem me dei conta, concentrado que estava em instruir os atores e compor os planos. Sim, às vezes chegavam notícias escabrosas: “alguém desmaiou!”, “uma diabética está com hipoglicemia!”, “uma grávida está passando mal!”, “não encontraram as balas de festim!”, “sem óleo o projetor vai queimar!”, “mais da metade dos figurantes querem ir embora!”, “a comida ainda não chegou!”, etc., etc. Embora nem tudo tenha saído conforme planejado, e a pressão das circunstâncias tenha impedido, em algumas cenas, a busca do “plano perfeito”, minha co-diretora foi destemida, minhas produtoras foram verdadeiras paladinas, os atores foram incríveis e os técnicos, excelentes. Que Deus abençoe a todos.

Seguem algumas fotos (feitas pela Karina, minha irmã, que se incumbiu da claquete), que incluem nossos atores estreantes Pedro Novaes e Paulo Paiva, colaboradores deste blog. (O Pedro tornou-se um verdadeiro psicopata, uma atuação impressionante.)

Equipe do filme EspelhoCom o ator Pedro NovaesA atriz RenataInstruindo o ator Sandro TorresYuri, no monitorCassia, diretoraO ator Paulo Paiva

Figurantes para curta-metragem

Amigos
Dia 16/04, segunda-feira próxima, eu e a Cássia iremos rodar o curta-metragem “Espelho”, cujo roteiro escrevi. A locação será o Cine Pireneus, em Pirenópolis-GO, um antigo teatro que se tornou cinema nos anos 1930. (A mesma sala que aparece no filme Dois filhos de Francisco.) Precisaremos de cerca de 150 figurantes para interpretar o complexo papel de público. Os interessados devem se apresentar logo pela manhã – muito embora, no correr do dia, muita gente irá certamente se cansar, cair fora e abrir novas vagas para outros figurantes. (Tô cansado de saber que só Hollywood consegue segurar a figuração horas e dias a fio.)

Estamos com uma equipe muito bacana, tanto os atores, quanto a produção e os técnicos. Se Deus quiser, tudo sairá super bem. (Em outra oportunidade, colocarei aqui a ficha técnica.)

Vale lembrar que Pedro Novaes, nosso companheiro de blog, interpretará o “vilão” da história, o gatilho mais rápido do centro-oeste… 🙂

É isso. Conto com a presença dos amigos e empolgados em geral. (Aconselho aos agentes da Kaos a não aparecerem. Uma turma do Controle irá monitorar e fazer a segurança do set.)
Abraços!

P.S.1: Comunidade do curta no Orkut.
P.S.2: Agora sai, Nelson Pereira!!

A Resistência do Vinil

E por falar no making of da Mostra Curtas, quero tocar rapidamente no nome do nosso amigo Eduardo Castro, autor das imagens do dito cujo e diretor do divertidíssimo documentário A Resistência do Vinil. Foi ótimo dirigir o Eduardo. Tudo o que eu tinha a fazer era interromper a conversa que ele estava tendo com alguém, em geral comigo mesmo, e lhe pedir para gravar. O resto era praticamente automático. Daí o apelido “piloto automático” e tal. 🙂 Aliás, logo logo o cara vai arrebentar com um documentário bomba que está montando – com dez anos de imagens e entrevistas gravadas (em VHS, miniDV e HDV) – sobre a Guerrilha do Araguaia.

Segue abaixo A Resistência do Vinil, em duas partes de 10 minutos cada. (Tem um bobo lá dizendo que o capitalismo é culpado pelo “fim” do vinil. O problema é que ele adquire seus discos velhos em lojas/sebos, isto é, no mercado. Cada um…)

Segunda parte:

Goiânia Mostra Curtas – making of

Eis o making of, que dirigi, da 6a. Goiânia Mostra Curtas, mais conhecido entre nós como “Onde está o Paulo Paiva?”, hehehe.

Vale lembrar que a cena onde Paulo César Peréio aparece com o dedo em riste foi excluída por motivos bastante claros – bastante claros para quem viu em que trecho tal cena aparecia…

Gosto muito da entrevista com o Juliano Moraes, durante os créditos finais. 🙂

Mais detalhes, logo abaixo do vídeo.

Making of da sexta edição da Goiânia Mostra Curtas – que inclui a 5.a Mostrinha (infantil) e a Mostra Cinema nos Bairros (exibições ao ar livre) – ocorrida entre 10 e 15 de Outubro de 2006, sob coordenação de Maria Abdala (ICUMAM). O tema da mostra foi o cinema experimental, tendo contado com as presenças de Edgar Navarro, Joel Pizzini, Jomard Muniz de Britto, Christian Saghaard e José Eduardo Belmonte. Estes dois últimos, juntamente com o compositor André Abujamra, foram os responsáveis pelas oficinas de Cinema Experimental, Direção Cinematográfica e Música para cinema, respectivamente. Dos 590 curtas-metragens inscritos, 127 foram selecionados e distribuídos em 5 mostras competitivas. Além destes, foram exibidos 19 filmes convidados dentro da mostra Cinema Experimental. A direção do making of e as entrevistas são de Yuri Vieira, com imagens de Eduardo Castro, produção de Paulo Paiva e Cássia Queiroz, e edição de Aline Nóbrega, pela Cora Filmes. A produção executiva é de Pedro Novaes.

Fazendo Sala

Vi esta beleza de notícia sobre um tipo inusitado de serviços que o Ronaldo Roque me enviou, e lembrei de uma outra empresa prestadora de serviços que há tempos eu venho querendo montar. É lucro certo. Pena que um de nossos principais sócios e prestadores de serviços em potencial – o Chris, que Alá cuide dele – tenha batido as botas. Mas o Daniel Christino e o Yuri são os outros e estão bem vivinhos, graças a Deus.

É o seguinte: se o senhor ou a senhora precisa receber aquela tia chata, um amigo pentelho, o patrão que dá sono ou se simplesmente deseja tornar mais animada aquela festinha, o jogo de bridge do Clube de Senhoras, o chá das cinco ou um gathering social no Country Club, SEUS PROBLEMAS ACABARAM!

Temos especialistas em “fazer sala”. Eles nunca têm sono, sempre tiram da manga um assunto genial ao gosto dos convidados e tornam qualquer ambiente super descontraído e agradável. E, melhor, tudo isso sem recorrer a jogos de salão. Mais barato e melhor que um karaokê e dispensa a necessidade de se embebedar para aguentar seus convidados. Eles os aguentam em seu lugar e você ainda leva a fama de ser um excelente anfitrião.

Tivemos essa idéia quando, certa vez, eu trabalhava, muito atarefado e superimportante, em um evento e, ademais, fora encarregado de ciceronear um casal de figurões que passariam por lá. Sem pestanejar, o Daniel e o Chris se ofereceram para me ajudar, acompanhando-nos para jantar e fazendo a necessária sala para nossos convidados.

Eu estava todo nervoso e preocupado, mas não houve tempo ruim. Os visitantes ficaram encantados com meus amigos. “Eles são muito simpáticos”, dizia ele levemente embriagado a caminho do hotel. “Seus amigos são ótimos!”, ela falava uma oitava acima do normal, “São todos cineastas e filósofos. Adorei tudo! Muito obrigada”. Eu, comigo mesmo, agradecia a meus amigos e confirmava o fato de que realmente sou uma fraude, levando a fama por coisas que não fiz.

É uma benção ter amigos assim. Se eu estivesse sozinho com eles o mais provável seria que, após a troca de triviais frases soltas, do tipo “A cidade aqui é muito agradável” e “Será que vai chover”, baixasse um silencião constrangedor sobre a mesa: “Vamos nos servir…” Longa pausa. “Obrigado por nos receber, em?” Longa pausa. “Você trabalha com o que mesmo, em?” E logo eu seria incapaz de conter meu primeiro bocejo e, muito cedo e sem graça, os levaria para o hotel.

Nesse dia, o Yuri não estava, mas se estivesse com certeza teríamos ficado ainda até mais tarde. Cinco da manhã talvez.

Por isso, se precisar, não hesite. Mande um email através do contato do blog aí acima e contrate meus amigos. Eles irão com prazer a seu evento.

O polêmico aquecimento global

Rolou, no correr da semana passada, uma discussão interna entre os colaboradores deste blog, via email, a respeito do aquecimento global. Na verdade, participei mais enquanto observador – não tenho acompanhado esse tema com a devida atenção -, mas meus colegas de nome bíblico (Pedro, Paulo e Daniel) andaram medindo os bigodes. Paulo e Pedro já trabalharam nessa área por anos, tendo o Paulo sido superintendente do Parque Ecológico de Goiânia e o Pedro, geógrafo e consultor na área, além de cineasta, com documentários tratando do assunto circulando por aí. Ah, vale dizer que ele também traz os genes do pai, o jornalista Washington Novaes, com anos e anos de dedicação ao debate ambiental. Já o Daniel é mais como o autor deste post, imagino: assim como eu fui um militante da Fundación Natura, no Equador, foi ele membro de um grupo de militância ambiental anos atrás. Enfim, na referida discussão, meu único comentário foi: vcs deviam ter escrito isso tudo no blog. Já que ainda não vejo sinais do debate por aqui, aproveito para dar a deixa ao sugerir a leitura do post do Pedro Sette Câmara, Václav Klaus sobre o aquecimento global, no blog O Indivíduo.

Fazer cinema no Brasil… um cu!

Caro Pedro

O roteiro de curta-metragem Espelho (anteriormente Reflexo e, depois, No Espelho do Cinema) foi um presente de dia dos namorados que dei à Cássia há dois anos, quando ainda estávamos juntos. Se o roteiro foi aprovado numa lei de incentivo (20 mil e não 30) o mérito é todo dela, porque, além de eu achar uma chatice toda a burrocracia envolvida, sem falar das panelinhas, me sinto, sim, um peixe completamente fora d’água nessa questão vampiresca, tanto que não receberei cachê pelo projeto, pelo roteiro e pelo trabalho que eu por ventura ainda venha a ter com ele. Já disse a ela que não quero nada e você pode confirmar. O projeto é dela, está no nome dela e meu nome consta apenas na Cessão de Direitos do meu roteiro. Quanto ao meu laptop, eu o paguei com dinheiro que recebi de um trabalho como monitor do Dib Lutfi (aliás, fui praticamente diretor das filmagens, porque ele mesmo me pediu para ser dirigido, ou a coisa não iria andar) e como roteirista do making of do FICA, juntamente com uma grana emprestada por minha irmã. (Meu eterno obrigado a você, Pedro, pela oportunidade, não esqueço essas coisas.) Se sua produtora tinha ou não capital de giro, se ela me pagou com dinheiro que recebeu do estado ou de empresas privadas, Pedro, eu não faço idéia, e isso não importa para quem vende a própria força, talento e capacidade de trabalho. Aceitar fazer um trabalho por uma determinada quantia é bem diferente de ganhar aquilo que a própria pessoa estipula num orçamento muitas vezes arbitrário e distante da realidade do mercado. (Aliás, quatro anos atrás, fiz 19 roteiros para uma agência publicitária de Brasília, que fazia a campanha do Detran e do Procon, e nunca fui pago, não porque abri mão da grana, mas porque eram desonestos mesmo. Prometeram, prometeram e no final nada. Quem mandou eu confiar em petistas e não exigir contrato de trabalho? Quem trabalha tem de receber, porra!) E, falando em orçamento arbitrário, o Eduardo Castro, que está montando aquele documentário explosivo sobre a Guerrilha do Araguaia, me falou sobre um certo documentário bobo, a que assisti no Festcine, que, segundo ele, não custou mais de R$3000,00 mas recebeu da lei R$50.000,00. Onde foi parar essa grana? Está certo isso?

Na minha opinião, o Ricardo deveria receber não 80 mil reais, mas 80 mil dólares para rodar o curta dele. Só que esse dinheiro deveria vir de empreendedores, não de produtores indiretos e compulsórios, tal como é agora, mas, sim, de gente que queira viver do cinema e ter lucro com ele. (Daí meu manifesto para estudantes de administração e empreendedores em geral. Porra, já existiram empresas de cinema nos anos 50 do século passado, por que não podem existir agora?) E se um curta não dá retorno financeiro, é porque se trata dum cartão de visitas, dum trabalho de marketing para quem o fez. E isso também seria vantajoso para quem quisesse se estabelecer como produtor de cinema.

Eu acho que esse sistema de incentivo está viciado sim, e tem muita gente por aí comprando até carro com a grana. (Eu ando de Caravan 1983 até hoje.) Conheço gente em Brasília que abriu editora e, para cada livro que lança, entra com um projeto diferente numa lei de incentivo. E ainda ganha mais que o triplo do autor! Ou seja: é uma empresa privada cujo capital de giro e cujo lucro vêm prontos do Estado! Isso é muuuuito esquisito e só funciona para quem tem o famigerado Q.I., o Quem Indica. A própria Cássia tentou me convencer várias vezes a publicar meus livros mediante essas leis, mas nem fodendo, não me meto mesmo com isso, prefiro ficar na internet e esperar que as pessoas entendam o potencial dos ebooks, com os quais venho lidando desde 2000. (Um dia irão emplacar!) Só não me tornei editor (de mim mesmo) este ano porque minha família não aprovou a venda de um terreno nosso, que eu propus especificamente para isso, por 80.000 reais. Dinheiro nosso!!! Aceitei a decisão porque afinal tenho três irmãs, meus pais estão mais vivos do que eu e, por isso, não posso pretender ser o único herdeiro de algo que ainda pode ser usufruído por toda a família. Além de publicar dois novos livros que tenho engatilhados, eu iria reeditar A Tragicomédia Acadêmica e sair arregimentando vendedores (estudantes interessados, Centros Acadêmicos, etc.) pelas universidades do país, dividindo o lucro pau a pau. Mas… a vida não é mole, principalmente para quem tá cagando e andando para esses incentivos que só têm incentivado uma maioria de gente muito ruim, sem qualquer talento, pretensiosa, amoral e com o ego nas nuvens. Até parece que isso irá levar o cinema a algum lugar. Faz-me rir…

Cá entre nós, cada dia que passa fico mais fã do Francis Ford Coppola — é preciso dizer o nome completo e não apenas Coppola, não se deve esquecer de articular o sobrenome Ford como quem estivesse a dizer “Forte” –, afinal o cara não apenas rodou um dos melhores filmes de todos os tempos (Apocalipse Now), mas chegou a vender uma fazenda e falir sua empresa para finalizá-lo: ele tinha visão e acreditava nela. Sem falar que é um caso raro de diretor e produtor, de artista e empreendedor, uma figura a quem Spengler certamente atribuiria o qualificativo de gênio, isto é, “a força fecundante do varão que ilumina toda uma época”. Em suma, o cara é Macho pra caralho!!!

Enfim, conforme passam os anos percebo com maior clareza o porquê de o Rubem Fonseca ter ido aos Estados Unidos estudar cinema e, ao voltar, não ter escrito senão livros e contribuído com um roteiro ou outro. Direção? Para quê? Porque esse país gosta mesmo é do atraso, odeia empreendedores, gosta é de mamar nas tetas do Estado, se caga nas fraldas até hoje, e não passa de um adulto infantilizado, mais ou menos como eu o sou. Qualquer pessoa madura sabe que a maior vitória que há é a vitória sobre si mesma, e não é outra coisa o que o escritor faz: é ele contra o papel em branco, contra o Word em branco, contra o destino em branco, contra seus fantasmas, contra si mesmo. O diretor de cinema, ao contrário, quando não é autor do próprio roteiro, já está com meio caminho andado, bastando-lhe apenas vencer as circunstâncias e um que outro idiota que possa cruzar seu caminho, seja ele um profissional incompetente, um ator metido a estrela, um produtor estressado e assim por diante. (Claro, com produtor quero dizer “administrador do orçamento”, uma vez que não existe investidor estressado no Brasil, afinal, o dinheiro é todo a fundo perdido e vem dos contribuintes.) E é apenas por isso que, para um escritor como Rubem Fonseca, muito maior valor há em escrever um livro, e vencer a si mesmo, que em vencer idiotas com o uso duma câmera: porque é sempre muito mais digno de nota vencer alguém tão filho-da-puta, espertinho, escroto, vagabundo, traiçoeiro e devasso, como cada um de nós é lá no fundo, do que vencer esses vícios nos outros, é muito mais difícil vencer a si mesmo interiormente do que dominar o outro exteriormente. (Não encare o verbo “vencer” no sentido negativo, mas no sentido de “conduzir sem sofrer oposição”.) Para mim, cinema é narrativa, tal como a literatura, e pouco me importa o que pensam os anti-narrativos. Aquelas porcarias que em geral ganham o rótulo de “cinema experimental” — a única forma legítima de experimentação que reconheço se chama criatividade — não passam de expressões do interior duma pessoa que é, lá no íntimo, tão confusa e vazia de significado quanto seu próprio filme. Escrever e filmar é, a princípio, a mesmíssima coisa. A diferença está em que é muito mais barato controlar meus dedos que agora teclam do que todo um set de filmagem. A diferença está no nível de controle, de poder. Por isso, quanto mais dinheiro para se fazer um filme, melhor, mais recursos serão movidos de acordo com seus pensamentos. Nesta linha de raciocínio, posso afirmar que o Ricardo deveria receber não 80.000 dólares, mas 1 milhão. Mas, porra, a gente vive num país miserável!!! Desde a tal “Constituição Cidadã”, o Estado não faz senão amarrar a mão dos empreendedores e, de forma suicida, tentar absorver toda a mão de obra que acabou desempregada por sua própria culpa. (Isso quando não parte de vez para os projetos assistencialistas.) Não existe o moto-perpétuo. Dinheiro do Estado é dinheiro confiscado ao povo, aos empresários. (Vale lembrar que qualquer um que conseguisse poupar poderia tornar-se um empreendedor em potencial, mas o estado não o permite.) Em suma: o governo está matando a galinha dos ovos de ouro, vai se foder logo logo. E nós com ele.

Você acha que um empresário, caso tivesse uma visão clara do processo, ficaria feliz em ajudar a realizar um filme por meio de leis de incentivo? É um labirinto o caminho que esse dinheiro percorre. E estamos num país de impostos altíssimos. O cara está “dando” aquela grana ao cineasta, a qual supostamente pertence ao Estado na forma de tributos, e ainda acha bonito. Mas ao menos 70% dela não deveria pertencer senão a ele. Porque o Estado é um vampiro sanguessuga que atrapalha a prosperidade deste país. Sem falar nos sanguessugas circunstanciais, tal como esses negociadores de notas fiscais que pretendem ajudar o realizador a “provar” que o dinheiro do orçamento do filme foi realmente gasto conforme o estabelecido. Veja o absurdo: no Brasil as notas fiscais são verdadeiros produtos que dão lucro a um monte de gente!! “Ah, fulano cobra menos pela nota, vamos fazer com ele…” É uma seqüência de trambicagens fora do comum.

Conclusão: tô cansado desse tal de cinema brasileiro. Vão todos tomar nos seus respectivos e supostamente imaculados cus. Porque fazer cinema no Brasil é de fato um cu. O cu do povo. Hoje em dia, onde quer que haja um cu, há um representante do estado lá dentro. Muah hahahaha! (Rindo para não chorar…)

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