blog do escritor yuri vieira e convidados...

Categoria: especulativas Page 3 of 14

Religião — a parte simples e a parte complexa

“and the historical sense involves a perception, not only of the pastness of the past, but of its presence.” (T. S. Eliot)


A parte simples:

O sexo gera filhos. Se você duvidar dessa afirmativa, não será difícil verificá-la. Pegue uma mulher. Durante dez anos, faça apenas sexo anal com ela, e não deixe que nenhum outro homem a penetre. Deixe que os outros a vejam, toquem-na, beijem-na no rosto, na boca, mas não deixe que ninguém faça sexo com ela, e você mesmo só fará sexo anal com a coitada. Você verá que ela não vai engravidar. Depois volte a fazer sexo normal com ela. Se você e ela forem saudáveis, e ela não tomar anticoncepcionais (não a deixe tomar anticoncepcionais!), você verificará que sexo engravida.

Pegue outra mulher. Tranque-a numa cela ou num palácio. Chame-a de “Virgem Divina” se você quiser, (mesmo que ela não seja virgem), mas não deixe que ninguém faça sexo com ela. Durante toda a vida da pobre mulher, faça com que ela permaneça trancada, com acesso apenas a outras mulheres. Você verificará que a pobre nunca vai engravidar. Então ficará provado. A geração de filhos depende do sexo. A mulher que não faz sexo não engravida, a mulher que faz sexo engravida. Depois você vai descobrir que é o sêmen que engravida e não propriamente o sexo, mas isso já é um aperfeiçoamento da experiência; por hora basta o sexo mesmo. O importante é notar que a ciência fala sobre essas coisas: as coisas que podem ser refeitas e verificadas por qualquer ser humano. Podem ser experiências complexas ou simples, mas mesmo quando se especula sobre a velocidade dos quarks ou a expansão permanente do universo, nenhum cientista espera que as experiências que verifiquem suas teorias possam ser feitas apenas por ele mesmo. Muito pelo contrário, em ciência, uma experiência só tem validade se puder ser refeita por outra pessoa e levar aos mesmos resultados que a experiência inicial. A característica da verdade científica é que ela pode e deve ser verificada enquanto estamos vivos. Mesmo que isso exija o manuseio de instrumentos complexos e uma inteligência fora do comum, o fato é que a ciência fala sobre as coisas que todos nós podemos conhecer, e, se conhecermos, conheceremos antes da morte.

Agora, já que falamos em sexo, vamos falar sobre o adultério. O adultério é pecado, quer gere ou não gere filhos. Quando traímos, entristecemos a pessoa amada, e isso é pecar contra a caridade, não apenas no cristianismo, mas também no judaísmo e no islamismo. Maomé disse que podemos ter quatro esposas, mas não que poderíamos trair essas esposas com uma mulher solteira ou com a mulher de outro. O adultério é um pecado relativamente grave (no islamismo é punido com a pena de morte) e, quando reiterado sem arrependimento leva ao inferno. Essa última parte é que é importante para este estudo. O adultério leva ao inferno. O sexo por amor, dentro do casamento, leva ao céu. E onde fica o inferno? Onde fica o céu? Não sabemos nem temos como saber, pois, só os conheceremos depois da morte.

Não sei se vocês estão entendendo onde quero chegar. A diferença radical entre religião e ciência não está no modo como elas dizem as coisas, está no assunto de que elas tratam. A ciência trata de coisas que podemos conhecer enquanto estamos vivos. A religião fala do que vai nos acontecer depois da morte. Não existe religião que não fale no que há depois da morte. Se existe, mostre-ma, por favor.

Então a ciência vai falar coisas como: o sexo gera filhos. A religião fala coisas como: o adultério leva ao inferno. As duas afirmativas falam sobre sexo. Só que a primeira fala sobre algo no sexo que pode ser verificado por qualquer ser humano enquanto ele está vivo. A segunda fala sobre algo no sexo que não pode ser verificado por um ser humano vivo. Não se pode ser adúltero, ir para o inferno, e depois voltar para dizer que os padres tinham razão.

(Atenção: não confunda as coisas. Não venha me dizer: “mas você está partindo do princípio de que o inferno existe, e isso, em si mesmo, não é um princípio verificável”. Não estou partindo do princípio de que o inferno ou o céu existam, estou partindo do princípio de que a morte existe. E isso sim, é verificável. Se você acha que não vai morrer, você é um boboca.)

Sobre ciência e religião II

Tentarei, neste post, responder as provocações feitas pelo Yuri, Paulo, Ronaldo Brito Roque e Frederico ao meu post sobre a relação entre ciência e religião.

Em primeiro lugar, tentarei traduzir o problema em termos argumentativos. Para fazer isso, precisarei inferir argumentos a partir do que foi postado pela galera; o que sempre inclui uma boa dose de subjetividade e risco. Se houver incompreensão da minha parte acerca dos pontos de vista assumidos por vocês, avisem.

Infidelidade virtual ou comunicação real?

Deixa eu fazer aqui, a você leitor(a), a mesma pergunta que fiz a um colega de blog este final de semana, quando então fomos juntos ao cinema: se você chegasse em casa mais cedo, pisando leve, com a pretensão de surpreender sua esposa (ou esposo), e a(o) visse ali, ao computador, de costas para você, extremamente entretida(o), alheia(o) ao mundo circundante, e você então fosse se aproximando ainda mais, silenciosamente, até poder observar a tela por sobre seu ombro e, nesta, você não vislumbrasse senão o avatar dela(e) a transar com o avatar do(a) seu(sua) melhor amigo(a) – e tudo isso coroado pelo fato de que ela(e) se masturba -, enfim, me diga, continuaria achando o Second Life apenas um joguinho?

O pessoal de Davos não pensa assim (via CNN):

Getting a Second Life in Davos

DAVOS, SWITZERLAND (Fortune) — I’ll reiterate what I said in a feature story I wrote for the current issue of Fortune – Second Life is important not because it resembles a game, or because of how many people are signing up, or the big companies starting to do business inside it. What convinces me it is one of the most significant technology breakthroughs in history is that it is a platform on top of which users can create their own software and content, realize their ideas, and even make money.

One aspect of that user-generated content is the avatar itself, the cartoony digital self-manifestation through which a user navigates and experiences Second Life. It is created by the user and its behavior can be whatever the user would like. Just because you’re a 50-year-old man, for instance, doesn’t mean you can’t have a 20-year-old female avatar (something I briefly tried).


Second Life: It’s not a game

Here in Davos, Switzerland, where I am attending the World Economic Forum, I had the privilege of moderating a dinner discussion with a group of thinkers on what it means that avatars are contributing to a new form of digital online identity.

The discussion was incredibly animated – perhaps more so than any dinner panel I’ve ever moderated. Discussants included Linden Lab board chairman Mitch Kapor along with Sun’s (Charts) optimist and big-picture educator (and chief scientist) John Gage, Skype co-founder Niklas Zennstrom, French blogger Loic Le Meur, Singapore Youth Minister Vivian Balakrishnan, Harvard literature professor Homi Bhabha, brain scientist Baroness Susan Greenfield, Israeli investor and tech leader Yossi Vardi, and former MTV President Michael Wolf.

What surprised me were two things – first that Bhabha and Greenfield had such pertinent observations to make, respectively, about the literary influences already evident in virtual worlds and the potential impact of digital identity on our conception of what constitutes reality and offline identity.

But even more impressive was the very fascination that the room-full of miscellaneous Davos leaders clearly feel about Second Life, regardless of whether they have tried it or not. Those attending the dinner ranged from Vyomesh Joshi, who runs HP’s huge printing business, to Suzanne Seggerman, who heads a New York nonprofit called Games for Change, to Karim Kawar, former Jordanian ambassador to the U.S. Such is the diversity of power and thinking in Davos.

Everyone was riveted by the analyses of Bhabha, Gage, and Greenfield, among others, and by what Kapor said about what Linden Lab is aiming to accomplish.
Fortune Outlook 2007

I spent today asking myself what it is about Second Life that has suddenly engaged the interest of so many different kinds of people, in a way that other technology topics seldom have.

Here’s what I hypothesize: Second Life enables online human communication to resemble offline in-person communication more than, up to now, has any application, including e-mail, instant messaging, chat rooms, and even online games.

A expulsão do Homem Biscoito

homem biscoito

Estávamos em meio a um debate a respeito dos fundamentos filosóficos da moral, quando, inevitavelmente, entrou na roda o velho assunto dos políticos pretensamente bonzinhos que só fazem maldades. O moderador, um professor de filosofia duma obscura faculdade de Nova York (obscura ao menos para mim), até que segurava bem as rédeas das opiniões, argumentos e idéias que iam entrando. (Sim, é óbvio que toquei na questão do Foro de São Paulo, do qual os gringos ali presentes nunca ouviram falar. Aliás, eu era o único representante da América do Sul.) Enfim, alguém, mais que depressa, retirou da manga o amarrotado tema do desrespeito às minorias, desrespeito esse bastante criticado por Verum, representante do Diversity 2007 e proprietária do Verum’s Place – uma área dedicada a este gênero de discussões – quando então, assim do nada, surgiu o gigantesco Homem Biscoito de Gengibre. Caminhando feito uma mistura de zumbi bêbado com Carlitos – e provavelmente comandado pelo dono de algum computador de pouca memória e baixa velocidade – o Homem Biscoito foi se aproximando da nossa roda que, um tanto perplexa, assistiu à aparição silenciosa e um tanto tímida do estranho avatar. Aparentemente cego, chutou dois ou três dos presentes e se dirigiu a uma das almofadas vagas, sentando-se com estrépito. O problema é que o sicrano era tão grande que suas pernas ficaram por cima de outros dois membros do nosso grupo, aqueles que o flanqueavam de imediato. O estudante norueguês de asas negras simplesmente saltou uma almofada e voltou a se sentar a uma distância segura. Já a professora de artes canadense se levantou e resmungou algo um tanto irritada, mantendo-se de pé daí em diante. Assim que o Homem Biscoito de Gengibre finalmente emitiu um “Good morning”, desapareceu deixando uma nuvem de estrelinhas.

“Ih, o cara caiu”, disse o moderador.

Verum se manifestou: “Não, eu o expulsei. Ele estava atrapalhando a reunião”.

Surgiram risadas e observações ácidas de todos os lados. O moderador comentou:

“Ora, ora… E não é que nossa anfitriã defensora das minorias acabou de excluir o único Homem Biscoito da nossa reunião?”

E teve início, pois, uma série de argumentos e contra-argumentos a respeito do significado ético do ocorrido. Alguém comparou o caso à hipotética expulsão de um passageiro com obesidade mórbida de um avião. Outro atacou o Homem Biscoito afirmando que era certamente alguém com complexo de inferioridade e sem nenhuma outra razão de ser senão a de aparecer. O Homem Raposa, sentado ao meu lado (eu sou o punk de crista da foto) disse que o Homem Biscoito tinha todo o direito de se manifestar como um Homem Biscoito, pouco importando seu tamanho e seu sabor. Se ele podia comparecer em forma de raposa, por que o outro não poderia em forma de biscoito? (“Yeah, you have a good point!”) E, claro, não se chegou a qualquer conclusão.

Sinceramente, não sei se o Homem Biscoito ficou triste e solitário diante de seu computador ou se sua intenção era ser de fato expulso, ficando então entregue às suas próprias risadas de ator de pegadinha. Sei apenas que certas situações são muito rápidas em sua implícita volúpia de nos fazer pagar a língua. Quase fiquei com pena da Verum. Segundo-vivendo e aprendendo…

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P.S.: Enquanto alguns bobos ficam a ladrar “joguinho! joguinho!”, a caravana do Second Life vai passando, sem deixar de levar, em seu bojo, pessoas que, de todos os cantos do mundo, querem se conhecer e trocar idéias…

O “tube” da Cicarelli

Demorei um pouco para me posicionar sobre o imbróglio Cicarelli. Antes de qualquer coisa achei que fosse mais uma jogada de marketing da minha xará, e não me senti muito disposto a auxiliar no “boost” de imagem da moça. Mas o tiro saiu tão pela culatra que se for mesmo uma estratégia de marketing é a mais furada da história, e deveria tornar-se estudo de caso obrigatório na GV. Por isso acho que não é. É difícil imaginar que alguém se colocaria, deliberadamente, na posição de censor, principalmente tendo como público alvo a faixa mais pluggada da população. Mas, e aí vem o “catch”, eu acho que ela e o namorado estão certos ao processar os paparazzi, o YouTube e o escambau, mesmo que isso signifique “fechar a praça” para nós.

A labuta acadêmica

Um dos efeitos colaterais de se dar aulas nas Universidades Federais são as conferências. Na Europa e nos EUA, conferências são oportunidades para o debate de idéias elaboradas pelos próprios conferencistas, o que proporciona momentos ímpares de disputa intelectual. No Brasil conferências são parecidas com aquelas convenções de fãs (do tipo Star Trek). “Lá vai o grupo que é fã do Weber”. “Olha lá o grupo fã do Marx, eles não constumam ter muito senso de humor”. Hegelianos para lá, heideggerianos para cá; e as tão esperadas e seminais discussões acabam se tornando debates maçantes sobre picuínhas hermenêuticas. Mas pode ficar pior.

Napoleão era muçulmano?

Segundo este post do Eurabian News, ele era.

Olavo de Carvalho fala sobre Religião/B

Neste sexto podcast, “lado B“, Olavo discorre sobre os seguintes tópicos: pensamento epidérmico e pensamento profundo; diferença entre Deus e Alá; fraternidade; a conversão acentuadamente “civil” islâmica e a conversão estritamente espiritual cristã; o Verbo Divino; Fé e confiança; a conversão não é instantânea; a Salvação; o pensamento de Jacques Derrida como testemunho da perdição da alma; a Imortalidade; o Livro de Urântia (Urantia Book); a Bíblia e a literatura; a Bíblia como chave para interpretação da vida pessoal; alma fechada e alma aberta; a diferença entre o poeta e o louco; “Deus não é objeto para o pensamento”; “o desconstrucionismo, o marxismo e a psicanálise defendem-se da crítica tal como o faz o homossexualismo”; unidade planetária e globalização; abismos culturais; George Soros; “os quatro graus de credibilidade”; maturidade intelectual; uma dica de filme; o lançamento de sua rádio online.

    [audio:http://www.archive.org/download/Bate_papo_com_Olavo_de_Carvalho/olavo6ladoB_64kb.mp3]
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Olavo de Carvalho fala sobre Religião e Sociedades Secretas

Neste sexto bate-papo (“lado A”), o filósofo Olavo de Carvalho discorre sobre os seguintes temas: Islã, Frithjof Schuon, religião comparada, judaísmo/hinduísmo/budismo, conceito de religião, revelação e doutrina, Cristianismo, o indivíduo, fé e crença, a filosofia perene, Martin Heidegger, religião evolutiva?, Islã e terrorismo, queda do Império Romano, os feudos, a Igreja Católica, racionalismo e moral cristã, Emmanuel Swedenborg, a Bíblia, ateus, sociedades secretas, Maçonaria, os Illuminati, René Guénon, o caos e a unidade do Islã, califado mundial, etc.

    [audio:http://www.archive.org/download/Bate_papo_com_Olavo_de_Carvalho/olavo6ladoA_64kb.mp3]
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O provincianismo neo-ateu

A revista Época voltou a publicar mais uma matéria baseada nas “teses” desses cientistas bobos e pretensiosos que acreditam poder refutar a existência de Deus: “Não vejo, logo Ele não existe”. (Nunca vi esses cientistas, talvez eles também não existam.) Bem, a questão é que, no meio dessa matéria tão pegajosa e melequenta quanto uma ostra, veio junto uma pérola escrita por Marcelo Cavallari, que tomo a liberdade de reproduzir logo abaixo.

O provincianismo neo-ateu

por Marcelo Cavallari

Richard Dawkins, Daniel Dennett e os demais autores que se dedicam ao recente ateísmo militante parecem figuras saídas do século XIX. Naquele tempo, o método científico que havia conseguido tanto sucesso na teoria física ensaiava se expandir com igual sucesso para todas as áreas do conhecimento e prometia tornar a religião, e de quebra a filosofia, a literatura, a arte e todas as outras formas de conhecimento, obsoleta.

Foi precisamente desse espírito ultracientificista que nasceu o século XX, o mais cruel da história da humanidade. Nunca se matou tanta gente. Nunca antes tantas atrocidades foram cometidas. Nazismo e comunismo, engendrados como sistemas de engenharia social destinados a reorganizar a sociedade segundo critérios científicos, foram os responsáveis pelos maiores massacres de que se tem notícia. Não era religião – antes a perseguição a ela – que movia Stálin, Mao Tsé-tung, Pol Pot. Os últimos baseavam-se na tese do socialismo científico de Karl Marx, que supostamente havia descoberto as leis de funcionamento da história. O primeiro, na eugenia racista, que foi ciência respeitada durante boa parte do século XIX até resultar no nazismo.

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