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Categoria: especulativas Page 4 of 14

Uma vela para os meus mortos

Vai acabando o dia de finados. Ano passado escrevi uma pequena crônica sobre este dia que ficou enterrada no meu antigo e abandonado blog. Para mim o dia de finados é todo pôr-do-sol, é todo crepúsculo. Eis a crônica:

O dia de finados transcorreu normalmente. Céu nublado, muita gente nos cemitérios, muitas flores, choros e longos suspiros de saudade. Algumas pessoas passeavam com o olhar perdido, um longo olhar. Outros permaneciam parados até, de repente, girar a cabeça num movimento brusco, como se tivessem ouvido ou visto alguma coisa. Depois retornam para dentro de si mesmos, contemplando mudamente as lápides como a um espelho. “Ó espelho meu, o que de mim neste morto morreu?”

Meus mortos aumentaram este ano. Por isso este post. Uma vela para os meus mortos, simbólica, cibernética.

Estou ouvindo uma missa composta por Palestrina. Como são belos os meus mortos, congelados em lembranças alegres ou graves. Acompanho-lhes os movimentos em detalhe, acompanho-lhes a precisão dos gestos. Meus mortos não se perdem, nem fazem o que não deviam. Quando me olham, que doçura!!, estão em paz. Hoje é o dia no qual converso com todos.

“Como vão as coisas?”, “O que o senhor tem feito, meu Tio? Continua fechado em si mesmo? É a morte para o senhor tão solitária quanto foi a vida?”.

“Vó, aprendeu mais algum ponto sofisticado no crochê? Há sapos por aí? Sei que senhora não os suporta. Olha, estou morando na sua casa, seu bisneto foi visitar-lhe o túmulo hoje, viu como está grande?”.

“Tio, How are you? Sentimos sua falta na mesa de pôquer”.

“Jordino, como estás rapaz? Sinto falta dos seus conselhos, do seu humor capenga, da sua silhoueta torta pelos corredores da faculdade.”

O meu olhar não pode mais alcançar sua diáfana existência. Apenas a memória persiste. Nela fico atrás da porta, logo após a curva, para tentar alcançá-los desprevenidos, surpreendê-los com um susto ou num gesto inédito, espontâneo. Mas nunca. Sempre os mesmos movimentos, a mesma doçura e a mesma paz. Sempre no museu de cêra dos meus pensamentos.

Monte sua própria teoria conspiratória

Toda teoria conspiratória é um fetiche da verdade. Ela não é uma mentira pura e simples, não ignora fatos, apenas os interpreta numa chave bastante particular.

Exemplo: Jesus Cristo andou sobre a Terra e era humano, teve filhos com Maria Madalena e a Igreja Católica, numa série de conchavos políticos (os concílios) estabeleceu um cânone cujo interesse não era a verdade, mas a saúde de uma instituição que, ao longo do tempo, especializou-se em cobrar uma taxa regular pela paz de espírito e, claro, por um terreninho no céu. O cristianismo, em toda sua pompa e circunstância, nada mais é do que uma estratégia de marketing bem montada sobre bases filosóficas greco-romanas e alguns devaneios monoteístas de uma religião tribal. Seu objetivo é vender perdão e garantir o poder simbólico do Vaticano. São capazes até de assassinar um Papa, se por acaso ele desenvolver uma consciência.

Fugindo da Responsabilidade

13:10h em Bangkok, 3:10h em Brasilia. Voces estao ai dormindo seu merecido sono dos justos e eu ja vou aqui 10 horas adiantado. Daqui a pouco, despertarao e irao cumprir com seu dever civico do voto, em mais uma maravilhosa festa da democracia brasileira.

Eu me sinto confortavel por nao ter que ir votar. Covardemente, poderei alegar que nao tive responsabilidade alguma nos desdobramentos que qualquer um destes dois brilhantes lideres puser em marcha.

Teorias sobre Cosmopoles

Grandes metropoles dao uma certa preguica, quando se e estrangeiro. Sao quase todas cada vez mais iguais, cheias de bilboards da Nokia, da Loreal e do HSBC, vias expressas, juventude com visual descolado, turistas atrapalhados e um Hard Rock Cafe, que e o suprassumo da pasteurizacao da cultura global, em que a gente acha bom poder sair de casa sem sair. Ca entre nos, why the fuck? alguem vai a um Hard Rock Cafe, toma uma cerveja a precos extorsivos pelos parametros locais e compra um camiseta ridicula, cujo motivo e uma competicao infantil por quem tem aquela com a localizacao mais exotica. Bangkok deve estar no topo desta lista, eu imagino. Uma camiseta do HRC Bangkok vale 10 vezes o preco de uma do HRC Cape Town, que vale 20 vezes o preco de uma HRC Miami, que e a coisa mais mane que alguem pode ter. Acho que funciona mais ou menos assim.

Se as drogas fossem legalizadas

Um documentário que especula sobre quais seriam as consequências da legalização do comércio e do uso de drogas.


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Esboços por Frank Gehry

Do Festival de Cinema do Rio:

Esboços por Frank Gehry — Documentário

Titulo Original: Sketches of Frank Gehry

Tenho certeza de que mais da metade da platéia era de arquitetos. Eu mesmo só ouvi falar de Frank Gehry porque fiz alguns anos da faculdade de arquitetura, antes de passar para letras. Mas o documentário também é interessante para não arquitetos, porque aborda um problema tocante a todos que trabalham ou desejam trabalhar com arte: como sobreviver fazendo uma obra que não corresponde aos anseios do mercado? É claro que Gehry não dá a receita, mas sua vida serve de exemplo. Ele era um arquiteto careta, fazia simplesmente o que o mercado pedia, até que resolveu seguir sua intuição e ser ele mesmo. Daí para frente todo mundo começou a pagar para que ele fosse exatamente ele mesmo; e veio a conseqüência fatal: ele se tornou o arquiteto milionário e famoso que é hoje.

Mas o que eu achei mais interessante é um detalhe que talvez nem tenha interessado aos muitos arquitetos da platéia. Gehry só se tornou Gehry depois que se divorciou. Parece que o freio para a sua ousadia não vinha propriamente das exigências do mercado, mas da caretice da sua mulher. Depois de uma consulta com um analista — que mais tarde se tornaria famoso exatamente por causa disso — Gehry largou a mulher e três filhos, e foi fazer a arquitetura que realmente queria fazer. O mundo ganhou prédios lindos, e Gehry, além de ganhar o privilégio de ser exatamente quem ele queria ser, mais tarde veio a ganhar também um novo amor — esse certamente muito mais verdadeiro que o anterior.

Lutar contra o islamismo é coisa de mulher

Lutar contra o islamismo é coisa de mulher. Eu sou homem. Se eu vivesse num estado islâmico, teria muitas vantagens. Em primeiro lugar, poderia ter quatro mulheres. Talvez eu não quisesse quatro, isso é muita areia para o meu caminhãozinho, mas certamente eu ia querer uma jovem segunda esposa quando minha mulher chegasse aos quarenta. Outra coisa boa é que eu não ia ter de ficar me explicando o tempo todo na minha própria casa. Minha palavra seria lei. Quando eu dissesse que ir à Disney não é bom para as crianças, não precisaria explicar as razões. Minha mulher teria de aceitar e pronto. Quando eu dissesse que minha filha não pode ficar na danceteria até as duas da manhã, também não haveria debate. Filha, esteja em casa às dez! Sim, papai. Isso é o sonho de todo pai de família, e nós o realizaremos graças ao islamismo.

Outra coisa boa dessa religião é não haver mulher na faculdade. Seria uma maravilha. Eu não ouviria professoras idiotas falando bem de Lênin e Che Guevara. Eu não ouviria professoras idiotas dizendo que não existe certo e errado, não existe melhor nem pior, tudo é a mesma coisa, toda moral se equivale. Se toda moral se equivale, então eu apóio os muçulmanos e você vai para casa cozinhar para seu marido. É a lição que elas merecem. Defenderam o relativismo por tanto tempo, agora vão defender a moral cristã em nome de quê? Se todas as morais se equivalem, me dá minhas quatro esposas e vai para o fogão! É disso que elas precisam.

New York Law School

O mais interessante do Second Life não é o que ele é hoje mas o que ele será amanhã. Com o avanço da tecnologia e a aceleração do tráfego de dados, num futuro não muito distante, essa realidade virtual mostrará sua face revolucionária. A internet nunca mais será a mesma. (Voltarei mais vezes a essa questão.)

Muita “gente graúda” já percebeu isso e está criando sua própria região no Scond Life, tal como a New York Law School, que construiu uma réplica da Suprema Corte dos EUA, um anfiteatro/cinema, afora outras coisas.

Quem já assistiu ao filme Guerra nas Estrelas, ou à saga Matrix, sabe que os Jedi e os combatentes de Zion fazem reuniões às quais comparecem virtualmente. (Os Jedi aparecem como hologramas.) É o que ocorre no Second Life. Cada personagem que vemos é o avatar de alguém que realmente existe em algum lugar do mundo. Não é um vídeo-game. Por isso, a New YorK Law School está levando a coisa a sério e planejando para breve palestras e debates em seu anfiteatro, abertas ao público em geral, assim como a apresentação de filmes, que defendam a liberdade e a democracia.

Algumas imagens:

Do ócio locomotivo ou Efeitos do Second Life

Acabo de chegar duma baita caminhada após ter deixado o carro sem combustível numa esquina qualquer dessa cidade. (Nunca ande ao mesmo tempo sem dinheiro e com o marcador escangalhado, um dia sua intuição irá falhar.) A caminhada numa cidade brasileira ordinária traz sempre a mesma paisagem entediante, por mais zen que você seja e por mais que acredite, como Thoreau, que não há lugar deserto o bastante para o poeta. Pouco importa: se você não está numa praia do Rio de Janeiro, no centro antigo de São Paulo, Salvador ou em algum lugar como Ouro Preto, Trancoso ou Parati, desista, entregue-se ao seu ócio locomotico e tente não dormir enquanto caminha, o que, aliás, teria sido excelente hoje. Bocejei tantas vezes que comecei a rir comigo mesmo, imaginando que seria ótimo ter um piloto automático atrás da nuca. Tudo isso porque buscava a terra perdida do Citybank, onde eu deveria – mas não consegui – receber minha grana da publicidade da Google. Não consegui pois, segundo o porteiro do prédio, a atual localização desse banco é um “mistério”. E ele tem razão: até a lista telefônica online traz o endereço e o telefone errados. É nessas horas que a gente fica com vontade de sair divulgando, a plenos pulmões, aquele filme do Mel Brooks: Que droga de vida! Contudo, ainda resta uma esperança. Se o Indiana Jones encontrou a Arca da Aliança, por que eu não poderia encontrar o Citybank? Um dia eu chego lá. Sim, um dia.

Outro pensamento que me assolou durante todo o trajeto foi: qual será a resolução do mundo? Digo, a resolução gráfica, porque é tudo tão bem definido. A gente vê os mínimos detalhes das flores e das árvores, uma coisa fascinante.

A felicidade da mulher moderna

A felicidade da mulher moderna não depende do homem, mas da empregada.

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