blog do escritor yuri vieira e convidados...

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Lugares-Memória Memory Places

Lugares não são lugares. Lugares são memórias. Óbvio. É claro que lugares bonitos e paisagens grandiosas têm muita chance de figurar em nossa galeria pessoal de locais favoritos no coração. Mas é evidente que, se passamos por maus momentos nesses lugares ou se os cruzamos em meio a um mau estado de espírito, dificilmente eles constarão dessa lista. Por outro lado, locais aparentemente bestas e desprovidos de maiores atrativos podem se tornar grandiosos na lembrança, conforme o vivido. Um quarto sujo e mofado de hotel na decadente zona portuária de Cádiz pode ter sido o palácio de uma grande paixão; um boteco comum em São José dos Campos, palco de um memorável debate filosófico; os bancos apertados de um ônibus entre a Cidade do México e Guadalajara, a oportunidade de conhecer alguém que se tornaria um grande companheiro de aventuras.

Quero compartilhar alguns dos meus lugares favoritos, começando com o especialíssimo Mirante das Três Gargantas. Seria bacana ouvir de outros seus lugares favoritos também.

O eterno retorno ao Centro

Minhas peregrinações pelo centro de São Paulo começaram em 1985, quando eu ainda ia completar 14 anos de idade. Eu e o Dante estávamos sempre inventando uma missão – comprar uma peça de reposição de autorama (Mabushi, Estrela, etc.), o disco de uma banda punk (Cólera, Inocentes, Garotos Podres, etc.), um relógio com joguinho, um tênis ou qualquer outro badulaque importado da Galeria Pajé, etc., etc. – o que sempre nos levava a perder todo um dia em mil e um becos e cenários decadentes da capital paulistana. Às vezes, sem mais nem menos, pegávamos o trem na Estação da Luz e íamos até Ribeirão Pires ou qualquer outra cidade, apenas porque no trem era possível fazer o que não se pode no metrô: passar de um vagão para o outro durante a viagem. (Na verdade, nossa primeira grande epopéia foi a travessia de boa parte da Zona Sul, a pé, em 1982 ou 1983, apenas para comprar um ioiô Super da Coca-Cola, que aliás foi mais difícil de encontrar que o Graal, já que nos bares e lanchonetes do percurso só havia o modelo Profissional. Eu teria ficado satisfeito – como de fato fiquei, pois adquiri mesmo um Profissional – mas nããããããão, o Dante nãão, claro que não, era o Super que ele tinha de comprar. Por conta disso, eu, que via minha querida rua Mariana Calache como centro do universo, me vi jogado num mundo hostil, alheio e interminável, cheio de “maloqueiros” tentando nos tomar a grana do ioiô e, mais tarde, o próprio ioiô. Mas isso é uma outra história…)

Guia turístico de São Paulo

Meio sem querer querendo acabei virando um dos guias turísticos da cidade de São Paulo no Google Earth. Eu não sabia que a Google iria colocar minhas dicas no banco de dados central do programa. Para vê-las, selecione na guia Layers a opção Keyhole Community BBS. Depois observe as dezenas e dezenas de informações. Claro, não sou o único palpiteiro da cidade, mas caso vc encontre, por exemplo, o Pátio do Colégio (marco da fundação de São Paulo), a Biblioteca Mário de Andrade, a Biblioteca Latino-americana Victor Civita, o Centro Cultural São Paulo, o Parque do Nabuco (onde eu brincava quando criança), o Jardim Botânico, a Praça Benedito Calixto, o Largo São Francisco, o Mosteiro e Colégio São Bento, o Cemitério da Consolação (onde estão os “indícios” de que um certo Monteiro Lobato passou por aqui), etc., saiba que o Yuri Vieira que aparece na dica sou eu mesmo.

Fotos de Brasí­lia

Neste site, há bonitas fotos de Brasília – provavelmente a única capital do mundo dentro de um “condomínio fechado”-, a maioria assinada por Augusto Areal. Finalmente encontrei imagens que me deixam com saudade…

Big brother do avesso

Participar como mero observador dessa reunião no Ministério do Meio Ambiente – eu entrara de gaiato ao decidir acompanhar o Pedro Novaes – me fez pensar que seria bastante interessante um Big Brother ao contrário: colocar câmeras que mostrassem em tempo-real, na Internet, todas as reuniões das repartições e órgãos públicos. (Os demais ambientes de trabalho não seriam monitorados.) Claro, um projeto para os próximos vinte anos. Esteja certo que seria mais interessante que o BBB. A reunião a que assisti – cheia de engenheiros e técnicos – transcorreu civilizadamente e chegou mesmo a decidir coisas. Sim, coisas que estendem os tentáculos estatais, mas coisas. Só que eu queria mesmo é assistir a uma reunião no prédio ao lado, no estapafúrdio Ministério da Promoção da Igualdade Racial. (Sim, isso existe.) Acho que não conseguiria evitar algumas sugestões: que se pintasse de azul todos os brasileiros, assim ficaríamos mais iguais; que se definisse uma aparência autóctone ideal e que todos os que nela não se encaixassem fossem submetidos a cirurgias plásticas; que todos os descendentes de japoneses, chineses, coreanos, alemães, sírios, etc. fossem obrigados a jogar capoeira e comer acarajé; que os índios recebessem injeções de hormônios para deixarem de ser tão glabros, e assim por diante. As reuniões desse Ministério devem ser surreais, cheias de bate-bocas e conversa fiada travestida de academicismo. Segundo já ouvi, 90% do tempo dessas reuniões são perdidos em pura definição de conceitos. Essa gente das ciências humanas nunca fala a mesma língua…

Província

Continuo procurando loucamente uma cópia da carta “From New York to Paulo Francis”, escrita pelo Glauber Rocha, aliás engraçadíssima, na qual ele explica porque Nova York é, como toda grande cidade, um mero agrupamento de cidades do interior, de tribos e pequenas províncias. Depois ele fala de grandes criadores que nunca botaram o pé fora de seus países e da roda-viva dispersante que tais viagens podem efetivamente ser. Se alguém tiver uma cópia dessa carta, por favor, me envie porque há anos não consigo encontrar a que eu tinha. Sempre achei o Glauber melhor escritor que cineasta.

Interiorrrrr

Estou pensando em me mudar para o interior. Depois de São Paulo, Brasília e Goiânia – sem falar das minhas curtas viagens ao exterior – pude perceber que o planeta INTEIRO é uma grande província, não importando que seja Hong Kong, Rio ou New York. Se não sou conhecedor direto, por exemplo, de países de “primeiro mundo”, ao menos conheço muitos de seus representantes. E a conclusão é: terráqueo é sinônimo de caipira. Parisiense? Caipira. Nova-iorquino? Redneck. É foda ser de outro planeta – para não dizer do mundo da lua – e, ao mesmo tempo, apaixonado pela Terra. Acredite: estamos no Capão Redondo do Cosmos, na Quixeramobim do Universo, todos nós, brancos, amarelos, roxos ou negros.
Quanto à mudança, estou pensando em Alto Paraíso de Goiás – ao norte de Brasília, na Chapada dos Veadeiros – ou em algum lugar no litoral. Sugestões? Tudo o que quero é paz para escrever, amor para viver, e dor natural para suportar. Chega de abismos abstratos. Claro, se surgir uma diplomata para me levar mundo afora, aceito. Não seria ruim bancar o Clariço Lispector de má qualidade…

Equador

No site ECUADOR online há uma quantidade razoável de informações acerca desse país do qual tão boas lembranças tenho. (Morei lá entre Julho de 1989 e Julho de 1990.) Chamo sua atenção para as províncias de Cotopaxi e Pichincha, onde passei a maior parte do tempo.

O adolescente

Eu compreendo profundamente o Presidente Mula. Quando fiz intercâmbio estudantil no Equador, eu também adorava os jantares do Rotary Club, as homenagens, as festas, as viagens e toda a atenção que recebia. Achava ótimo ser convidado a dar palestras e a falar do Brasil em escolas ou eventos do programa de intercâmbio. Nós escorpianos (eu e o Mula), quando vencemos a timidez, somos ótimos para entreter platéias. Só que, passada toda essa roda viva, fica apenas a sensação de que se sonhou e de que toda aquela gente risonha e simpática se desfez em pedaços de bocejo. Graças a Deus há o amadurecimento. Aliás, quanto será que ainda irá durar a adolescência do nosso Presidente?

Putaria tour

Meu cunhado viajou a negócios para Natal. Foi conhecer a praia de Ponta Negra e descobriu que a dita cuja se tornou um bordel ao ar livre. Não havia sequer um minuto sem que um local aparecesse para vender não água-de-coco ou picolé, mas mulheres. Uma média de R$150 por “cabeça”. Meu cunhado, que tem cara de gringo, não teve sossego. Sentado num bar, ouviu esse diálogo entre um espanhol, da mesa ao lado, e um “agenciador”: “No quiero, vete de aquí! No me gustan las putas”. E o brasileiro: “Então volta pro seu país. Aqui só tem puta.” E o problema, claro, não é desconhecido dos natalenses

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