blog do escritor yuri vieira e convidados...

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Mais Política do Bem

No post sobre o Islamismo, mencionei o Ottón Solís, candidato derrotado à presidência da Costa Rica em 2002, que conheci num seminário em Salzburg, Áustria. Descubro agora, com alegria e surpresa, ao pesquisar para este post, que Ottón é novamente candidato nas eleições agora em curso naquele país. O primeiro turno aconteceu anteontem e trata-se do pleito mais concorrido nos cem anos daquela democracia. A contagem segue voto a voto e o resultado só deve sair dentro de 15 dias, conforme noticiam os jornais locais. Seu adversário é o ex-presidente e Nobel da Paz, Oscar Arias Sanchéz. É bastante possível que meu ensandecido e querido amigo se torne, de forma inesperada, presidente de seu país – as pesquisas indicavam vitória de Arias.

Lugares-Memória VII ou O Meu Islã

Nada me soa mais estranho do que o fundamentalismo islâmico. Todo o meu contato com o mundo muçulmano sempre me mostrou o oposto do que esses loucos professam e fazem. É verdade que, por outro lado, nunca estive em um país de maioria islâmica, e portanto minha experiência tem algo de limitada. Mas conheci muitos muçulmanos de diversas nacionalidades – paquistaneses, indianos, nigerianos, palestinos, indonésios, egípcios, sudaneses, iranianos, sauditas, marroquinos, tunisianos, entre outros – e tenho uma imagem dessa gente como afetuosa, humana, alegre e tolerante.

O Sertão Profundo de Goiás

Era final de tarde e o sol se punha lento e sanguíneo na borda da árida planície. Sua luz, difundida pela densa carga de poeira no ar – era setembro e não chovia há meses –, tingia de vermelho o remanso preguiçoso do Velho Chico.

Domingos, acocorado atrás de um grande cupinzeiro, com o trapo amarelado de blusa que cobria seu tronco empapado de suor, fumava e esperava ansioso que Josina aparecesse. Pelos rasgos do tecido, entreviam-se as quelóides de anos de sovas no pelourinho. O feitor era homem de intuição forte, trabalhara nas Minas Gerais, comandando manadas de escravos que se contavam aos milhares, e conhecia melhor que ninguém um negro rebelde. Sabia que Domingos tentaria fugir, mais hora menos hora, e não se cansava de amarrá-lo ao tronco e chicoteá-lo por qualquer motivo.

Suco de Cacto

100% de gaveA tequila, ou o tequila – os dois gêneros são usados em espanhol–, é hoje uma denominação de origem, cuja produção é controlada pelo governo mexicano. Sua fabricação deve seguir certos padrões. Só pode se chamar tequila, mesmo que a receita seja idêntica, a bebida produzida nos estados de Jalisco e Michoacán. Não confundir com o Mezcal, também feito a partir do agave, em outras regiões (é em alguns dos tipos de Mezcal que se pode encontrar o famoso verme – o gusano – no fundo da garrafa).

Lugares-Memória VI

Cabo da Boa Esperança, África do Sul

O Cabo, ponto de encontro das águas frias do Atlântico e das águas quentes do Oceano Índico, é um lugar idílico, onde altas paredes de rocha desafiam o mar a derrubá-las, e onde os campos da savana africana se debruçam sobre o mar como se fossem saltar e, de um pulo, cobrir seu azul turquesa com um manto verde. E o vento, soprando incessante, lembra todo o tempo da desesperança que esses cabos encarnam, no meio do caminho entre tempestades.


Cape of Good Hope, South Africa

The Cape, meeting point of cold Atlantic waters and warm ones from the Indic Ocean, is an idyllic place, where tall rock walls challenge the sea to knock them down, and where the fields of the African savannah lean over the ocean as if about to jump out and, with that hop, cover the turquoise sea with a blanket of green. And the wind, forever blowing, reminds one all the time of the despair theses capes incarnate, midway between storms.

No Sertão de Goiás

Enquanto vocês ralavam durante essa semana, eu caminhava pelas espetaculares paisagens do sertão mais profundo de Goiás, na Terra Kalunga, rincão da Chapada dos Veadeiros. Na verdade, foi também a maior ralação. Quatro dias, cerca de 85 km de trilhas percorridas, mochila aí pelos 20 kg, 38 graus sob o sol do meio-dia no Vão do Moleque.

Mas tudo isso no cenário mais espetacular do Cerrado brasileiro, contemplando um cânion que rivaliza com os Aparados da Serra, tomando banhos em águas cristalinas e aliviando os ombros cansados sob maravilhosas cachoeiras nos finais de dia. E na companhia de dois grandes amigos, guiado, acompanhado e recebido pela hospitalidade e sabedoria do povo Kalunga.

Os Kalunga são o maior remanescente de quilombo do país, cerca de cinco mil descendentes de escravos fugidos das minas e engenhos locais, da Bahia e de Minas Gerais. Eles se esconderam nas serras e nos vãos distantes do norte de Goiás e do sul do Estado do Tocantins, próximos ao Rio Paranã.

Aguardem relato completo e fotos para breve.

Lugares-Memória IV

Hotel Jacuzzi, Monte Roraima, Venezuela

Minhas mãos abraçam a caneca de café quente e é como se meu corpo todo a envolvesse. Da porta da barraca, agora seco e agasalhado, contemplo a paisagem surreal que se desdobra: a dança da névoa e das nuvens num amplo anfiteatro de rocha cinzenta, cujas formas lembram os delírios góticos de Gaudi, e depois um gigantesco paredão de mais de 500 metros que mergulha na indevassada selva da Guiana. Desse monolito de rocha, despencam, lado a lado, nada menos que oito cachoeiras descomunais.

Os abrigos de pedra onde os aventureiros acampam no topo do Monte Roraima, um dos lugares mais espetaculares em que já estive, são conhecidos como “hotéis”. Eu tive a sorte de me hospedar num dos melhores, o Jacuzzi, assim batizado pela piscina natural que se forma nas proximidades. De suas confortáveis instalações, descortina-se a “Ventana de la Guyana”, o espetacular mirante que contempla a densa floresta deste desconhecido país vizinho.

Leia meu relato completo dessa viagem no Nomad.

Lugares-Memória III Memory Places III

Rio Encantado, Goiás, Brasil

Esse é meu grande esconderijo. Paraíso de mil aventuras na infância, onde eu buscava traços das estranhas terras descritas por Tolkien. É o lugar onde desenvolvi os sentimentos que me unem a isso que chamamos de “natureza” – um misto de embevecimento e saudade de algo que não posso precisar; algumas vezes paz profunda, outras, um forte medo de algo que parece prestes a me engolir.

O Encantado é água verde sobre rocha num imenso jardim japonês de Cerrado. Um canto escondido perto de onde o Araguaia ruge furioso em seu cânion.

Encantado River, Goiás, Brazil

This is my hideout. A paradise of a thousand childhood adventures, where I sought hints of the strange lands described by Tolkien. The place where I developed the feeling that bonds me to what we call “nature” – a mixture of astonishment and of missing something I cannot precise; sometimes a deep inner peace, others, a strong fear for something that seems about to swallow me.
Encantado River is green water over rock inside a huge Japanese garden in the Brazilian savannah. A hidden corner near where the Araguaia River furiously roars through its canyons.

Lugares-Memória II Memory Places II

Já é madrugada, mas vários casais passeiam com bebês nesta praça. A fonte borrifa sua água sobre nós, e eu fecho os olhos, desfrutando o contraste de sensações depois do dia de escorchante calor neste oásis no deserto. Longas conversas depois de duas garrafas de vinho à mesa de um café sob as árvores da calçada. Amanhã, partimos para a montanha mais alta das Américas.

As ruas densamente arborizadas, os cafés nas calçadas, a sombra dos Andes a poucos passos e sua personalidade latina fazem de Mendoza uma das cinco cidades mais legais deste continente.

It is late in the evening, but several couples stroll around carrying their babies. The fountain sprinkles its cold water on us. I shut my eyes, enjoying the contrast between this sensation and the scorching heat during the day at this oasis in the desert. Long talks after two bottles of wine at a sidewalk café under the trees. Tomorrow, we depart to the highest mountain on the American continent.

The shaded streets, sidewalk cafés, the shadow of the Andes, just a few steps around, and its Latin personality inscribe Mendoza among the five coolest cities of Latin America.

Pão em coreano

Assisti ao filme coreano citado pelo Pedro NovaesCasa Vazia, de Kim-ki Duk – ainda em São Paulo. Também gostei apesar da forçação de barra do final. (Nossa, sensação mais esquisita, acho que nunca havia escrito forçação na minha vida, imagine, uma palavra com dois c-cedilhas!) Na mesma semana em que o assisti, fui a uma festa com o Sunami Chun, diretor-presidente da Monkey Lan House. Lá, o Chun me apresentou “Marcelo”, assim entre aspas porque, na verdade, “Marcelo” era da Coréia do Sul e, depois de quase dois anos no Brasil, decidiu adotar um nome que, além de ser “sexy para as mulheres”, não fosse impronunciável por seus amigos brasileiros. Misturando português com um tanto de inglês (de Tarzã), conversamos longo tempo sobre seu país, seu cinema atual, sua história, a língua, a influência chinesa, japonesa, portuguesa e assim por diante. Porém, como neste exato momento estou com meu módulo baiano ativado, e por isso estou com uma preguiça de rachar o chão, me limitarei a descrever apenas alguns pontos desse papo. (Atenção, baianos, não estou sendo preconceituoso: realmente herdei alguns legítimos genes baianos dos meus avós paternos e, tanto como o Caymmi, sei do que falo.)

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