blog do escritor yuri vieira e convidados...

Categoria: Viagens Page 9 of 38

Lei Marcial

A Tailândia é realmente um país engraçado. Difícil para nós ocidentais, com nossa visão cartesiana, onde tudo é preto ou branco, compreendermos o que se passa.

Como se sabe, em 13 de setembro, o país sofreu seu décimo golpe militar exitoso desde 1930 (em 20 tentativas), mas apenas o segundo contra um governo democraticamente eleito. Foi deposto o Primeiro Ministro Takhsin Sinawatra, uma espécie de Silvio Berlusconi do Sudeste asiático, um populista magnata das comunicações, chefe de um governo reconhecidamente ultra-corrupto, eleito no vazio pós-crise econômica de 1997.

Por isso, vive-se aqui há um mês sob Lei Marcial, isto é, todas as garantias constitucionais estão suspensas e a polícia e os militares podem fazer o que bem entenderem. Só que tudo está absolutamente normal. Não se vê polícia nas ruas e o maior jornal de língua inglesa daqui, o “The Nation”, amanheceu hoje descendo a lenha em vários equívocos dos militares, inclusive no fato da Lei Marcial ainda não ter sido suspensa. Tudo como se nada tivesse acontecido. Pelo que se depreende, na verdade, todo o mundo já estava de saco cheio mesmo do cara e apoiou o golpe.

Dê uma olhada aqui, para ver as fotos que estou postando desta viagem no Multiply. Espero manter o álbum atualizado.

Longe e Perto

51 horas depois, cheguei a Chiang Mai, cidade no norte da Tailândia (os colegas farão a fineza de acentuar meus textos depois). Saí de casa na segunda-feira última às 8:00h. Aportei aqui às 20:40h de ontem, quarta-feira, 10:40h aí no Brasil.

A viagem foi muito mais cansativa e longa que as muitas horas de van e monomotor no Xingu, mas, por incrível que pareça, viajei 30 mil km, estou do outro lado do globo, mas muito mais perto de casa que no interior do Mato Grosso.

Ei, Rosa! Estou até perto de você, não? Você até passou por aqui em seu caminho também de excessivas horas quando partiu para a Terra Média, não foi? Pena que não vai ser dessa vez que vou aí conhecer Frodo…

Estou mais perto de casa aqui que no interior do Mato Grosso. Estou até vendo se habilito meu celular. Em 32 dias no Xingu, me senti realmente distante. Aqui, nem tanto.

Em resumo, a Tailândia é o máximo. Tipo Ouro Preto, só que, ao invés de igrejas, santos tristes e mães dolorosas, templos, stupas e budas plácidos e sorridentes em cada esquina.

Mais, em breve.

Igor Falecki, o Mozart da bateria

Esse garoto é um fenômeno. Tem apenas quatro anos de idade, mas parece tocar bateria há pelo menos vinte anos. Espantoso. Ainda não sei de onde ele é, mas imagino que seja russo ou de algum país do leste europeu. Ele tem o completo domínio do instrumento, do ritmo. Toca sem qualquer tensão no rosto, como se meditasse num brinquedo. Tão novo, há de ser totalmente intuitivo, mas toca com a técnica de quem estudou anos a fio. Bom, já estou falando demais. Eis o Mozart da bateria.

E tem mais:

Se as drogas fossem legalizadas

Um documentário que especula sobre quais seriam as consequências da legalização do comércio e do uso de drogas.


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Esboços por Frank Gehry

Do Festival de Cinema do Rio:

Esboços por Frank Gehry — Documentário

Titulo Original: Sketches of Frank Gehry

Tenho certeza de que mais da metade da platéia era de arquitetos. Eu mesmo só ouvi falar de Frank Gehry porque fiz alguns anos da faculdade de arquitetura, antes de passar para letras. Mas o documentário também é interessante para não arquitetos, porque aborda um problema tocante a todos que trabalham ou desejam trabalhar com arte: como sobreviver fazendo uma obra que não corresponde aos anseios do mercado? É claro que Gehry não dá a receita, mas sua vida serve de exemplo. Ele era um arquiteto careta, fazia simplesmente o que o mercado pedia, até que resolveu seguir sua intuição e ser ele mesmo. Daí para frente todo mundo começou a pagar para que ele fosse exatamente ele mesmo; e veio a conseqüência fatal: ele se tornou o arquiteto milionário e famoso que é hoje.

Mas o que eu achei mais interessante é um detalhe que talvez nem tenha interessado aos muitos arquitetos da platéia. Gehry só se tornou Gehry depois que se divorciou. Parece que o freio para a sua ousadia não vinha propriamente das exigências do mercado, mas da caretice da sua mulher. Depois de uma consulta com um analista — que mais tarde se tornaria famoso exatamente por causa disso — Gehry largou a mulher e três filhos, e foi fazer a arquitetura que realmente queria fazer. O mundo ganhou prédios lindos, e Gehry, além de ganhar o privilégio de ser exatamente quem ele queria ser, mais tarde veio a ganhar também um novo amor — esse certamente muito mais verdadeiro que o anterior.

Lutar contra o islamismo é coisa de mulher

Lutar contra o islamismo é coisa de mulher. Eu sou homem. Se eu vivesse num estado islâmico, teria muitas vantagens. Em primeiro lugar, poderia ter quatro mulheres. Talvez eu não quisesse quatro, isso é muita areia para o meu caminhãozinho, mas certamente eu ia querer uma jovem segunda esposa quando minha mulher chegasse aos quarenta. Outra coisa boa é que eu não ia ter de ficar me explicando o tempo todo na minha própria casa. Minha palavra seria lei. Quando eu dissesse que ir à Disney não é bom para as crianças, não precisaria explicar as razões. Minha mulher teria de aceitar e pronto. Quando eu dissesse que minha filha não pode ficar na danceteria até as duas da manhã, também não haveria debate. Filha, esteja em casa às dez! Sim, papai. Isso é o sonho de todo pai de família, e nós o realizaremos graças ao islamismo.

Outra coisa boa dessa religião é não haver mulher na faculdade. Seria uma maravilha. Eu não ouviria professoras idiotas falando bem de Lênin e Che Guevara. Eu não ouviria professoras idiotas dizendo que não existe certo e errado, não existe melhor nem pior, tudo é a mesma coisa, toda moral se equivale. Se toda moral se equivale, então eu apóio os muçulmanos e você vai para casa cozinhar para seu marido. É a lição que elas merecem. Defenderam o relativismo por tanto tempo, agora vão defender a moral cristã em nome de quê? Se todas as morais se equivalem, me dá minhas quatro esposas e vai para o fogão! É disso que elas precisam.

New York Law School

O mais interessante do Second Life não é o que ele é hoje mas o que ele será amanhã. Com o avanço da tecnologia e a aceleração do tráfego de dados, num futuro não muito distante, essa realidade virtual mostrará sua face revolucionária. A internet nunca mais será a mesma. (Voltarei mais vezes a essa questão.)

Muita “gente graúda” já percebeu isso e está criando sua própria região no Scond Life, tal como a New York Law School, que construiu uma réplica da Suprema Corte dos EUA, um anfiteatro/cinema, afora outras coisas.

Quem já assistiu ao filme Guerra nas Estrelas, ou à saga Matrix, sabe que os Jedi e os combatentes de Zion fazem reuniões às quais comparecem virtualmente. (Os Jedi aparecem como hologramas.) É o que ocorre no Second Life. Cada personagem que vemos é o avatar de alguém que realmente existe em algum lugar do mundo. Não é um vídeo-game. Por isso, a New YorK Law School está levando a coisa a sério e planejando para breve palestras e debates em seu anfiteatro, abertas ao público em geral, assim como a apresentação de filmes, que defendam a liberdade e a democracia.

Algumas imagens:

Do ócio locomotivo ou Efeitos do Second Life

Acabo de chegar duma baita caminhada após ter deixado o carro sem combustível numa esquina qualquer dessa cidade. (Nunca ande ao mesmo tempo sem dinheiro e com o marcador escangalhado, um dia sua intuição irá falhar.) A caminhada numa cidade brasileira ordinária traz sempre a mesma paisagem entediante, por mais zen que você seja e por mais que acredite, como Thoreau, que não há lugar deserto o bastante para o poeta. Pouco importa: se você não está numa praia do Rio de Janeiro, no centro antigo de São Paulo, Salvador ou em algum lugar como Ouro Preto, Trancoso ou Parati, desista, entregue-se ao seu ócio locomotico e tente não dormir enquanto caminha, o que, aliás, teria sido excelente hoje. Bocejei tantas vezes que comecei a rir comigo mesmo, imaginando que seria ótimo ter um piloto automático atrás da nuca. Tudo isso porque buscava a terra perdida do Citybank, onde eu deveria – mas não consegui – receber minha grana da publicidade da Google. Não consegui pois, segundo o porteiro do prédio, a atual localização desse banco é um “mistério”. E ele tem razão: até a lista telefônica online traz o endereço e o telefone errados. É nessas horas que a gente fica com vontade de sair divulgando, a plenos pulmões, aquele filme do Mel Brooks: Que droga de vida! Contudo, ainda resta uma esperança. Se o Indiana Jones encontrou a Arca da Aliança, por que eu não poderia encontrar o Citybank? Um dia eu chego lá. Sim, um dia.

Outro pensamento que me assolou durante todo o trajeto foi: qual será a resolução do mundo? Digo, a resolução gráfica, porque é tudo tão bem definido. A gente vê os mínimos detalhes das flores e das árvores, uma coisa fascinante.

Memória Carnal

Descobri hoje um bicho de pé que trouxe lá do Xingu.

Borges e a UnB

Talvez eu já tenha escrito sobre isso e, se o fiz, farei de novo. Porque merece. Para mim, o maior exemplo da jequice acadêmica nacional – e sua corrida interna por títulos, salários, regalias, puxa-saquismos, etc. – foi o fato de a UnB não ter aceito o escritor argentino Jorge Luis Borges como professor apenas porque ele não tinha curso superior… Pode uma coisa destas? E o cara já tinha aceito o convite, salvo engano, do Darcy Ribeiro. Bom, não preciso falar mais nada…

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