Eu gosto muito de “Perto do Coração Selvagem”, não apenas o maravilhoso romance de estréia de Clarice Lispector, mas o blog de mesmo nome do Lamenha, cujo estilo, a um só tempo leve e angustiado, lembra muito o dela. Vez em quando, eles conversam.
Autor: pedro novaes Page 32 of 33
Nem acho que a imprensa é santa, nem que a arapongagem generalizada deva seguir impune, mas é difícil acreditar nas boas intenções da turma da estrelinha neste campo. O projeto de lei do Governo regulamentando escutas telefônicas abre brecha para a punição de jornalistas pela divulgação, nos meios de comunicação, de gravações feitas através de grampos, sejam eles autorizados pela justiça ou não. Do Josias de Souza.
Acabo de ler Os Cus de Judas, obra que escolhi para me introduzir no universo denso de António Lobo Antunes. Para quem ainda não o conhece, trata-se de premiadíssimo autor português de mais de 15 romances. Nascido em 1942, psiquiatra de formação, Lobo Antunes foi muito fortemente marcado por sua experiência como médico do exército português durante a Guerra Colonial em Angola, relatada de maneira visceral nesta obra de 1979 que o tornou internacionalmente conhecido.
Para mim, o paralelo estilístico mais próximo na literatura brasileira é o de Raduan Nassar, cujos Lavoura Arcaica e Um Copo de Cólera me parecem igualmente livros tão escritos com o estômago quanto este, impressionante na dureza de suas metáforas e imagens improváveis e inesperadas. No sentimento, lembra Julio Cortázar, sua mistura de angústia, cinismo e revolta contra a contenção e mansidão humanas, diante do infinito e da surda corrente, sempre prestes a explodir, subjacente a cada sorriso conformado.
As ruas densamente arborizadas, os cafés nas calçadas, a sombra dos Andes a poucos passos e sua personalidade latina fazem de Mendoza uma das cinco cidades mais legais deste continente.
The shaded streets, sidewalk cafés, the shadow of the Andes, just a few steps around, and its Latin personality inscribe Mendoza among the five coolest cities of Latin America.
Ontem, aqui em casa, demos uma contribuição sem precedentes para o avanço da Ciência Etílica. Convidamos alguns amigos para um teste cego de cervejas. A metodologia adotada e os resultados são apresentados abaixo.
Foram utilizadas 12 marcas: as mais tradicionais Bohemia, Brahma, Antarctica e Skol, as criticadas Nova Schin, Kaiser, Bavária Premium, Primus e Colônia, além das obscuras Krill, Glacial e Santa Cerva. O único membro não-alcoólatra do grupo foi chamado a servir de facilitador.
O teste aconteceu em duas rodadas, com seis marcas cada, mesclando marcas mais conhecidas e obscuras aleatoriamente. O resultado é que, ou ninguém entende patavina de cerveja ou a cerveja nacional é um lixo só, ou os dois, o que é mais provável.
Assisti ontem a Casa Vazia, filme do diretor sul-coreano Kim-ki Duk, premiado com o Leão de Prata de Melhor Direção no Festival de Veneza de 2004. O filme é muito bom, mas não me emocionou tanto quanto o maravilhoso “Primavera, Verão, Outono, Inverno e Primavera”, do mesmo diretor.
Em Casa Vazia, Sun-Hwa é um jovem que passa seus dias invadindo residências cujos ocupantes estão fora. Enquanto passa seu tempo, ele lava as roupas dos moradores e conserta eletrodomésticos quebrados. Numa dessas casas, encontra Tae-Suk, abusada por um marido violento, e os dois iniciam uma silenciosa história de amor.
Olha só que bonito. Está no blog do Josias de Souza. O Supremo Tribunal Federal deve cancelar até março, quando transitar uma decisão para a qual falta apenas o voto do ministro Joaquim Barbosa (já vencido, caso ele vote contra), mais de 10 mil ações de improbidade administrativa. A partir de um relatório do homem que confessou ter enfiado alguns artigos não votados na Constituição e pré-candidato à presidência Nelson Jobim, o STF entende, e doravante será jurisprudência portanto, que agentes políticos, como presidentes, ministros e governadores, não são abrangidos pela Lei de Improbidade Administrativa – só podem ser julgados por crime de responsabilidade, evidentemente com foro privilegiado. Isso extingue, entre outras, ações em que Paulo Maluf e Celso Pitta são réus. Tudo começou com a famosa viagem de férias em jatinho da FAB do hoje Embaixador brasileiro na ONU, ex-ministro da era FHC, Ronaldo Sardenberg. E viva o Brasil!
Vamos voltar ao tema suscitado pelo Paulo ali embaixo com seu amigo David D. Friedman. Eu li alguns dos textos do cara e até achei legais, mas todos, sem exceção, são uma elocubração teórica só. Coisa típica de economista, embora ele não seja um.
E, não se enganem comigo, eu adoro Economia. No meu trabalho acadêmico e sobre políticas públicas, grande parte das minhas referências vem de economistas que eu admiro muito, como, do lado da Economia das Instituições, o Prêmio Nobel Douglass North, e, nos estudos do desenvolvimento, outro Nobel, o indiano Amartya Sen (aliás, motivo de grande revolta contra o Microsoft Word, que insiste em sempre corrigir automaticamente o nome dele para “Sem”).
Meu propósito é tentar chegar exatamente ao que nos une e desune aqui nesse blog em relação à sociedade ideal. Acho que isso é importante porque esses pontos de discordância estão exatamente ao redor de alguns dos grandes nós da modernidade.
Quero compartilhar alguns dos meus lugares favoritos, começando com o especialíssimo Mirante das Três Gargantas. Seria bacana ouvir de outros seus lugares favoritos também.
Visão de 270 graus: as ilhas, um vão – através do qual o imenso Atlântico se revela para além de um farol – a longa restinga, a vasta Serra do Mar em sucessivas camadas de montanhas – do preto ao cinza embaçado. Contra esse céu largo, o vôo de um biguá solitário, o mar, o mar, o mar e a luz amarela densa desse fim de dia deixando mais existentes as madeiras desse barco que singra as águas dessa baía, cortando esse ar frio e intenso. E essa mulher de sombrancelhas grossas do outro lado do convés me instilando sentimentos e fantasias de me largar no mundo, sem tempo, nem dia.
