Morreu o escritor Stanislaw Lem, autor de Solaris, adaptado para o cinema primeiro por Andrei Tarkovski e mais tarde por Steven Soderbergh. (Passei a bola pro Paulo, que leu Solaris, mas como ele não escreveu nada…)
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A respeito da escrita automática de Jack Kerouac, descascou Truman Capote:
“That’s not writing, that’s typewriting”
(Isto não é escrever, é datilografar.)
(Do meu site de biografias de escritores predileto, o Author’s Calendar. Aliás, vá lá e descubra que autor nasceu no dia do seu aniversário. Conforme já escrevi noutra ocasião, curiosamente o único escritor nascido no mesmo dia que eu também se chamava Yuri, mas na forma finlandesa: Yrjö Aukusti Wallin, escritor e orientalista, que esteve em Meca em 1845, anos antes de Sir Richard Francis Burton.)
Do livro Sobre o Ofício do Escritor, de Arthur Schopenhauer, que ganhei ontem do Bibliotecário de Alexandria, isto é, do meu pai:
“Quem escreve sem esmero confessa, antes de mais nada, que nem ele mesmo atribui grande valor a seus pensamentos. Pois apenas da convicção sobre a verdade e da importância de nossos pensamentos nasce o entusiasmo que é exigido para estarmos sempre atentos, com perseverança infatigável, à sua expressão mais clara, bela e vigorosa – do mesmo modo como apenas para coisas sagradas ou obras de arte inestimáveis, usam-se recipientes de prata ou de ouro. Eis porque os antigos, cujos pensamentos continuam a viver em suas palavras há milênios e, em virtude disso, portam o título honorífico de clássicos, escreveram sempre com grande zelo.” (Pág.114)
Coluna do Alexandre Soares Silva publicada na Revista Semana 3, em julho de 2005 (todas as colunas dele nesta revista estão disponíveis aqui).
Esquerda? Direita? Muito pelo contrário!
Quando vejo alguém dizer que não é de esquerda nem de direita, tenho a mesma reação de quando encontro um carioca: olho para os pés dele em pânico, com medo que comece a sambar.
Nesse final de semana, conversei por um bom tempo com a Andréa Leão e o Paulo Paiva sobre Auster, DeLillo, Pynchon e seus romances noiados. Depois, em casa, reli o ótimo ensaio do Martim Vasques da Cunha, O Triunfo da paranóia. Foi a cereja daquela conversa. Em meio à sua análise sobre Pynchon, ele cita este trecho duma palestra de Eric Voegelin:
“A alienação e a paranóia não são apenas problemas individuais, mas eles dominam a cena contemporânea na forma de várias ideologias, que sempre tentam perseguir alguém, ou sentem-se perseguidas por alguém, ou ambos os casos. E foi nesta ocasião que eu me deparei com o problema da paranóia no sentido teorético, o que não havia ficado claro para mim antes, porque a paranóia é geralmente tratada pelos psicopatologistas. Mas isto não é um problema, uma vez que se você tem várias pessoas em um estado paranóico (em termos práticos), isto é mais do que o caso de um paciente com uma psicopatalogista. Há alguma estrutura fundamental da consciência envolvida nesta situação.
O que mais perturba o ofício de escrever é a vaidade. O maldito desejo de ter nossas palavras aceitas, não tanto em seu conteúdo, mas sobretudo na forma. A pretensão de se igualar à prosa de um Guimarães Rosa, de uma Hilda Hilst, um Lobo Antunes, um Garcia Marquéz ou à poesia de um Fernando Pessoa, de um Manoel de Barros.
Literatura tem que ser cagada ou vomitada, sem qualquer preconceito com esses dois vitais processos fisiológicos. Escrever de verdade se escreve com os intestinos e com o estômago. Nunca com o cérebro ou o ego.
Desenterrei em casa um k7 genial — isso, uma fita cassete, lembra dela? Eu a ganhei de presente de uma amiga na faculdade, em 1989 ou 1990. E foi gravada de um LP — é, a bolacha. Dá até para ouvir o barulho da agulha ao fim da última música.
Bem, voltando ao k7 em si, é uma cópia de A Música em Pessoa, lançado em 1985, quando se lembrava os 50 anos da morte do poeta português.
Depois de dois anos de produção, saiu o CD “Ode descontínua e remota para flauta e oboé — De Ariana para Dionísio” com poemas de Hilda Hilst musicados por Zeca Baleiro (Saravá Discos). São dez poemas extraídos do livro “Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão” – escrito pela Hilda quando estava apaixonada platonicamente pelo Júlio de Mesquita Neto (vide as iniciais) – e interpretados por Rita Ribeiro, Verônica Sabino, Maria Bethânia, Jussara Silveira, Ângela Ro Ro, Ná Ozzetti, Zélia Duncan, Olívia Byington, Mônica Salmaso e Ângela Maria. Ainda não o ouvi, “apenas” li os poemas. (Detalhe: li em voz alta para a própria Hilda, que não parava de repetir: “Nossa, como eu era deslumbrante!”)
Sigo lendo O Valor do Amanhã, do economista Eduardo Giannetti. Subintitulado “Ensaio sobre a Natureza dos Juros”, o livro está longe de ser uma obra meramente econômica. É filosofia. Como mostra ele, os juros financeiros são apenas uma faceta menor de um fenômeno inscrito na natureza darwiniana da vida e em nosso código genético: as trocas intertemporais – desfrutar agora custa, esperar rende.
Acabo de assistir a Capote e concordo integralmente com o Fiume. É um grande filme. Absurdamente melhor que Crash e que Brokeback Mountain. Não há dúvida de que todo o seu mérito, além da atuação felizmente premiada com o Oscar de Philip Seymour Hoffman, reside na sutileza com que trata a figura de Truman Capote e a pesada história real de sua obra-prima “A Sangue Frio”. Coisa rara em filme americano: sugerir as coisas, ao invés de explicá-las didadicamente. Meritório também o filme não cair presa da personalidade de Capote – o homossexualismo, o alcolismo, a megavaidade, etc. -, mas exatamente sugerir tudo isso enfatizando suas relações com outras pessoas no processo de se envolver com a história de brutais assassinatos, que resultaria num dos grandes livros norte-americanos.
Mais impressionante ainda por se tratar do primeiro longa de ficção do diretor Benett Miller. Imperdível.