blog do escritor yuri vieira e convidados...

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A las seis de la mañana (Facundo Cabral)

Quero uma opinião masculina

Existe algo comum a todos esses livros e filmes que metem o pau no islã. Algo que comparece com a inevitabilidade das ressacas e a persistência inconveniente de um chato. É que o autor é sempre mulher. Seja ocidental, oriental, católica ou atéia, é sempre uma mulher que sobe no palanque para falar mal da poligamia, da opressão e dessas coisinhas que também acontecem aqui, só que sem a permissão de alá. É claro que isso era de se esperar, e longe de mim querer impedir que as mulheres façam suas lamentações. Se tirarmos da mulher o direito de reclamar, talvez não lhe sobre nada. Temos que deixar as pobres se lamentarem. Mas o que me incomoda nessa ladainha toda é a sua unilateralidade. Por toda parte, só se vê mulher reclamando. Só a mulher tem voz. Ainda não vi nenhum livro ou filme com a visão masculina da história. Os muçulmanos gostam de ter quatro esposas? Gostam de poder bater nelas? Eles são mais felizes que nós? Eles se reúnem em bares e riem da nossa burrice em ter aceitado Jesus e sua tediosa idéia de monogamia?

Eu, particularmente, não gosto de bater em mulher (tenho esse defeito que decepciona minha noiva), mas eu gostaria de saber, por exemplo, se a universidade fica melhor ou pior sem mulher. Acho que fica melhor.

O polêmico aquecimento global

Rolou, no correr da semana passada, uma discussão interna entre os colaboradores deste blog, via email, a respeito do aquecimento global. Na verdade, participei mais enquanto observador – não tenho acompanhado esse tema com a devida atenção -, mas meus colegas de nome bíblico (Pedro, Paulo e Daniel) andaram medindo os bigodes. Paulo e Pedro já trabalharam nessa área por anos, tendo o Paulo sido superintendente do Parque Ecológico de Goiânia e o Pedro, geógrafo e consultor na área, além de cineasta, com documentários tratando do assunto circulando por aí. Ah, vale dizer que ele também traz os genes do pai, o jornalista Washington Novaes, com anos e anos de dedicação ao debate ambiental. Já o Daniel é mais como o autor deste post, imagino: assim como eu fui um militante da Fundación Natura, no Equador, foi ele membro de um grupo de militância ambiental anos atrás. Enfim, na referida discussão, meu único comentário foi: vcs deviam ter escrito isso tudo no blog. Já que ainda não vejo sinais do debate por aqui, aproveito para dar a deixa ao sugerir a leitura do post do Pedro Sette Câmara, Václav Klaus sobre o aquecimento global, no blog O Indivíduo.

Mais vegeto que vivo?

“Como é que ousaram dizer que eu mais vegeto que vivo? Só porque levo uma vida um pouco retirada das luzes do palco. Logo eu, que vivo a vida no seu elemento puro. Tão em contato estou com o inefável. Respiro profundamente Deus. E vivo muitas vidas. Não quero enumerar quantas vidas dos outros eu vivo. Mas sinto-as todas, todas respirando. E tenho a vida de meus mortos. A eles dedico muita meditação. Estou em pleno coração do mistério.”

Clarice Lispector, em A Descoberta do Mundo

Religião — a parte simples e a parte complexa

“and the historical sense involves a perception, not only of the pastness of the past, but of its presence.” (T. S. Eliot)


A parte simples:

O sexo gera filhos. Se você duvidar dessa afirmativa, não será difícil verificá-la. Pegue uma mulher. Durante dez anos, faça apenas sexo anal com ela, e não deixe que nenhum outro homem a penetre. Deixe que os outros a vejam, toquem-na, beijem-na no rosto, na boca, mas não deixe que ninguém faça sexo com ela, e você mesmo só fará sexo anal com a coitada. Você verá que ela não vai engravidar. Depois volte a fazer sexo normal com ela. Se você e ela forem saudáveis, e ela não tomar anticoncepcionais (não a deixe tomar anticoncepcionais!), você verificará que sexo engravida.

Pegue outra mulher. Tranque-a numa cela ou num palácio. Chame-a de “Virgem Divina” se você quiser, (mesmo que ela não seja virgem), mas não deixe que ninguém faça sexo com ela. Durante toda a vida da pobre mulher, faça com que ela permaneça trancada, com acesso apenas a outras mulheres. Você verificará que a pobre nunca vai engravidar. Então ficará provado. A geração de filhos depende do sexo. A mulher que não faz sexo não engravida, a mulher que faz sexo engravida. Depois você vai descobrir que é o sêmen que engravida e não propriamente o sexo, mas isso já é um aperfeiçoamento da experiência; por hora basta o sexo mesmo. O importante é notar que a ciência fala sobre essas coisas: as coisas que podem ser refeitas e verificadas por qualquer ser humano. Podem ser experiências complexas ou simples, mas mesmo quando se especula sobre a velocidade dos quarks ou a expansão permanente do universo, nenhum cientista espera que as experiências que verifiquem suas teorias possam ser feitas apenas por ele mesmo. Muito pelo contrário, em ciência, uma experiência só tem validade se puder ser refeita por outra pessoa e levar aos mesmos resultados que a experiência inicial. A característica da verdade científica é que ela pode e deve ser verificada enquanto estamos vivos. Mesmo que isso exija o manuseio de instrumentos complexos e uma inteligência fora do comum, o fato é que a ciência fala sobre as coisas que todos nós podemos conhecer, e, se conhecermos, conheceremos antes da morte.

Agora, já que falamos em sexo, vamos falar sobre o adultério. O adultério é pecado, quer gere ou não gere filhos. Quando traímos, entristecemos a pessoa amada, e isso é pecar contra a caridade, não apenas no cristianismo, mas também no judaísmo e no islamismo. Maomé disse que podemos ter quatro esposas, mas não que poderíamos trair essas esposas com uma mulher solteira ou com a mulher de outro. O adultério é um pecado relativamente grave (no islamismo é punido com a pena de morte) e, quando reiterado sem arrependimento leva ao inferno. Essa última parte é que é importante para este estudo. O adultério leva ao inferno. O sexo por amor, dentro do casamento, leva ao céu. E onde fica o inferno? Onde fica o céu? Não sabemos nem temos como saber, pois, só os conheceremos depois da morte.

Não sei se vocês estão entendendo onde quero chegar. A diferença radical entre religião e ciência não está no modo como elas dizem as coisas, está no assunto de que elas tratam. A ciência trata de coisas que podemos conhecer enquanto estamos vivos. A religião fala do que vai nos acontecer depois da morte. Não existe religião que não fale no que há depois da morte. Se existe, mostre-ma, por favor.

Então a ciência vai falar coisas como: o sexo gera filhos. A religião fala coisas como: o adultério leva ao inferno. As duas afirmativas falam sobre sexo. Só que a primeira fala sobre algo no sexo que pode ser verificado por qualquer ser humano enquanto ele está vivo. A segunda fala sobre algo no sexo que não pode ser verificado por um ser humano vivo. Não se pode ser adúltero, ir para o inferno, e depois voltar para dizer que os padres tinham razão.

(Atenção: não confunda as coisas. Não venha me dizer: “mas você está partindo do princípio de que o inferno existe, e isso, em si mesmo, não é um princípio verificável”. Não estou partindo do princípio de que o inferno ou o céu existam, estou partindo do princípio de que a morte existe. E isso sim, é verificável. Se você acha que não vai morrer, você é um boboca.)

Sobre ciência e religião II

Tentarei, neste post, responder as provocações feitas pelo Yuri, Paulo, Ronaldo Brito Roque e Frederico ao meu post sobre a relação entre ciência e religião.

Em primeiro lugar, tentarei traduzir o problema em termos argumentativos. Para fazer isso, precisarei inferir argumentos a partir do que foi postado pela galera; o que sempre inclui uma boa dose de subjetividade e risco. Se houver incompreensão da minha parte acerca dos pontos de vista assumidos por vocês, avisem.

Infidelidade virtual ou comunicação real?

Deixa eu fazer aqui, a você leitor(a), a mesma pergunta que fiz a um colega de blog este final de semana, quando então fomos juntos ao cinema: se você chegasse em casa mais cedo, pisando leve, com a pretensão de surpreender sua esposa (ou esposo), e a(o) visse ali, ao computador, de costas para você, extremamente entretida(o), alheia(o) ao mundo circundante, e você então fosse se aproximando ainda mais, silenciosamente, até poder observar a tela por sobre seu ombro e, nesta, você não vislumbrasse senão o avatar dela(e) a transar com o avatar do(a) seu(sua) melhor amigo(a) – e tudo isso coroado pelo fato de que ela(e) se masturba -, enfim, me diga, continuaria achando o Second Life apenas um joguinho?

O pessoal de Davos não pensa assim (via CNN):

Getting a Second Life in Davos

DAVOS, SWITZERLAND (Fortune) — I’ll reiterate what I said in a feature story I wrote for the current issue of Fortune – Second Life is important not because it resembles a game, or because of how many people are signing up, or the big companies starting to do business inside it. What convinces me it is one of the most significant technology breakthroughs in history is that it is a platform on top of which users can create their own software and content, realize their ideas, and even make money.

One aspect of that user-generated content is the avatar itself, the cartoony digital self-manifestation through which a user navigates and experiences Second Life. It is created by the user and its behavior can be whatever the user would like. Just because you’re a 50-year-old man, for instance, doesn’t mean you can’t have a 20-year-old female avatar (something I briefly tried).


Second Life: It’s not a game

Here in Davos, Switzerland, where I am attending the World Economic Forum, I had the privilege of moderating a dinner discussion with a group of thinkers on what it means that avatars are contributing to a new form of digital online identity.

The discussion was incredibly animated – perhaps more so than any dinner panel I’ve ever moderated. Discussants included Linden Lab board chairman Mitch Kapor along with Sun’s (Charts) optimist and big-picture educator (and chief scientist) John Gage, Skype co-founder Niklas Zennstrom, French blogger Loic Le Meur, Singapore Youth Minister Vivian Balakrishnan, Harvard literature professor Homi Bhabha, brain scientist Baroness Susan Greenfield, Israeli investor and tech leader Yossi Vardi, and former MTV President Michael Wolf.

What surprised me were two things – first that Bhabha and Greenfield had such pertinent observations to make, respectively, about the literary influences already evident in virtual worlds and the potential impact of digital identity on our conception of what constitutes reality and offline identity.

But even more impressive was the very fascination that the room-full of miscellaneous Davos leaders clearly feel about Second Life, regardless of whether they have tried it or not. Those attending the dinner ranged from Vyomesh Joshi, who runs HP’s huge printing business, to Suzanne Seggerman, who heads a New York nonprofit called Games for Change, to Karim Kawar, former Jordanian ambassador to the U.S. Such is the diversity of power and thinking in Davos.

Everyone was riveted by the analyses of Bhabha, Gage, and Greenfield, among others, and by what Kapor said about what Linden Lab is aiming to accomplish.
Fortune Outlook 2007

I spent today asking myself what it is about Second Life that has suddenly engaged the interest of so many different kinds of people, in a way that other technology topics seldom have.

Here’s what I hypothesize: Second Life enables online human communication to resemble offline in-person communication more than, up to now, has any application, including e-mail, instant messaging, chat rooms, and even online games.

Kiwi

Este vídeo é para a Rosa Maria Lima, nossa correspondente na Nova Zelândia:

Aliás, eis um bom exemplo de roteiro de curta-metragem. O final deve ser impactante…

A expulsão do Homem Biscoito

homem biscoito

Estávamos em meio a um debate a respeito dos fundamentos filosóficos da moral, quando, inevitavelmente, entrou na roda o velho assunto dos políticos pretensamente bonzinhos que só fazem maldades. O moderador, um professor de filosofia duma obscura faculdade de Nova York (obscura ao menos para mim), até que segurava bem as rédeas das opiniões, argumentos e idéias que iam entrando. (Sim, é óbvio que toquei na questão do Foro de São Paulo, do qual os gringos ali presentes nunca ouviram falar. Aliás, eu era o único representante da América do Sul.) Enfim, alguém, mais que depressa, retirou da manga o amarrotado tema do desrespeito às minorias, desrespeito esse bastante criticado por Verum, representante do Diversity 2007 e proprietária do Verum’s Place – uma área dedicada a este gênero de discussões – quando então, assim do nada, surgiu o gigantesco Homem Biscoito de Gengibre. Caminhando feito uma mistura de zumbi bêbado com Carlitos – e provavelmente comandado pelo dono de algum computador de pouca memória e baixa velocidade – o Homem Biscoito foi se aproximando da nossa roda que, um tanto perplexa, assistiu à aparição silenciosa e um tanto tímida do estranho avatar. Aparentemente cego, chutou dois ou três dos presentes e se dirigiu a uma das almofadas vagas, sentando-se com estrépito. O problema é que o sicrano era tão grande que suas pernas ficaram por cima de outros dois membros do nosso grupo, aqueles que o flanqueavam de imediato. O estudante norueguês de asas negras simplesmente saltou uma almofada e voltou a se sentar a uma distância segura. Já a professora de artes canadense se levantou e resmungou algo um tanto irritada, mantendo-se de pé daí em diante. Assim que o Homem Biscoito de Gengibre finalmente emitiu um “Good morning”, desapareceu deixando uma nuvem de estrelinhas.

“Ih, o cara caiu”, disse o moderador.

Verum se manifestou: “Não, eu o expulsei. Ele estava atrapalhando a reunião”.

Surgiram risadas e observações ácidas de todos os lados. O moderador comentou:

“Ora, ora… E não é que nossa anfitriã defensora das minorias acabou de excluir o único Homem Biscoito da nossa reunião?”

E teve início, pois, uma série de argumentos e contra-argumentos a respeito do significado ético do ocorrido. Alguém comparou o caso à hipotética expulsão de um passageiro com obesidade mórbida de um avião. Outro atacou o Homem Biscoito afirmando que era certamente alguém com complexo de inferioridade e sem nenhuma outra razão de ser senão a de aparecer. O Homem Raposa, sentado ao meu lado (eu sou o punk de crista da foto) disse que o Homem Biscoito tinha todo o direito de se manifestar como um Homem Biscoito, pouco importando seu tamanho e seu sabor. Se ele podia comparecer em forma de raposa, por que o outro não poderia em forma de biscoito? (“Yeah, you have a good point!”) E, claro, não se chegou a qualquer conclusão.

Sinceramente, não sei se o Homem Biscoito ficou triste e solitário diante de seu computador ou se sua intenção era ser de fato expulso, ficando então entregue às suas próprias risadas de ator de pegadinha. Sei apenas que certas situações são muito rápidas em sua implícita volúpia de nos fazer pagar a língua. Quase fiquei com pena da Verum. Segundo-vivendo e aprendendo…

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P.S.: Enquanto alguns bobos ficam a ladrar “joguinho! joguinho!”, a caravana do Second Life vai passando, sem deixar de levar, em seu bojo, pessoas que, de todos os cantos do mundo, querem se conhecer e trocar idéias…

O “tube” da Cicarelli

Demorei um pouco para me posicionar sobre o imbróglio Cicarelli. Antes de qualquer coisa achei que fosse mais uma jogada de marketing da minha xará, e não me senti muito disposto a auxiliar no “boost” de imagem da moça. Mas o tiro saiu tão pela culatra que se for mesmo uma estratégia de marketing é a mais furada da história, e deveria tornar-se estudo de caso obrigatório na GV. Por isso acho que não é. É difícil imaginar que alguém se colocaria, deliberadamente, na posição de censor, principalmente tendo como público alvo a faixa mais pluggada da população. Mas, e aí vem o “catch”, eu acho que ela e o namorado estão certos ao processar os paparazzi, o YouTube e o escambau, mesmo que isso signifique “fechar a praça” para nós.

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