A tequila, ou o tequila – os dois gêneros são usados em espanhol–, é hoje uma denominação de origem, cuja produção é controlada pelo governo mexicano. Sua fabricação deve seguir certos padrões. Só pode se chamar tequila, mesmo que a receita seja idêntica, a bebida produzida nos estados de Jalisco e Michoacán. Não confundir com o Mezcal, também feito a partir do agave, em outras regiões (é em alguns dos tipos de Mezcal que se pode encontrar o famoso verme – o gusano – no fundo da garrafa).
Autor: pedro novaes Page 30 of 33
Para usar o termo que, há algum tempo, aprendemos com o comparsa Daniel Christino, o título aí em cima indica que “política” é um conceito sem “heurística” – perdeu sua capacidade auto-explicativa, demanda adjetivação. Ou pior, neste caso, talvez tenha mudado mesmo de conotação. Política, de modo geral, quase designa algo negativo…Daí falar na “Política do Bem”.
Na verdade, toda essa introdução só para dizer que a Soninha, ex-MTV, ex-TV Cultura (demitida porque admitiu que fumava maconha), vereadora em São Paulo pelo PT, agora tem um blog no UOL. A Soninha é ar fresco no ambiente poluído e lodoso da política. Sinal de que o PT, e nossa política de modo geral, não são apenas a lama que continua emergindo.
(Da mesma forma que o PT, o PFL não é só Jorge Bornhausen e ACMs – tem também gente boa, como o Uiter, por exemplo, jovem prefeito de Alto Paraíso de Goiás; como o PPS não é só o atavismo de Roberto Freire, mas também a Denise Frossard, como o PSDB não é só FHC, etc., etc.). São poucos, mas nos dão alguma esperança de que algum dia esse país possa ser sério.
Nada como um pouco de memória. O mesmo ministro Nelson Jobim que articula sua candidatura à Presidência da República, adornado pela aura de magistrado sério, conforme noticiam este mesmo blog e todos os jornais do país, foi quem:
Cabo da Boa Esperança, África do Sul
O Cabo, ponto de encontro das águas frias do Atlântico e das águas quentes do Oceano Índico, é um lugar idílico, onde altas paredes de rocha desafiam o mar a derrubá-las, e onde os campos da savana africana se debruçam sobre o mar como se fossem saltar e, de um pulo, cobrir seu azul turquesa com um manto verde. E o vento, soprando incessante, lembra todo o tempo da desesperança que esses cabos encarnam, no meio do caminho entre tempestades.
The Cape, meeting point of cold Atlantic waters and warm ones from the Indic Ocean, is an idyllic place, where tall rock walls challenge the sea to knock them down, and where the fields of the African savannah lean over the ocean as if about to jump out and, with that hop, cover the turquoise sea with a blanket of green. And the wind, forever blowing, reminds one all the time of the despair theses capes incarnate, midway between storms.
Neste final de semana que passou, revi o filme LavourArcaica, de Luiz Fernando Carvalho. Chego à conclusão de que se trata de um dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos.
Em primeiro lugar, importante ressaltar, é um raríssimo exemplo de roteiro adaptado de peça literária em que o filme está à altura do livro que o originou. E de que altura estamos falando! Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar é, sem dúvida, um dos maiores livros brasileiros de todos os tempos. A ousadia de adaptá-lo demonstra a coragem do cineasta. O mestre Hitchcock, por exemplo, que não era bobo nem nada, disse a François Truffaut que era uma loucura tentar trazer para a tela grandes romances. “Essas histórias já encontraram sua melhor forma na literatura. O filme estará sempre abaixo”, diz ele. (Truffaut achava que Alfred deveria filmar Crime e Castigo por considerá-lo uma típica trama hitchockiana).
Em artigo ontem na Folha, Luís Nassif aponta como um dos principais obstáculos a quedas mais consistentes nos juros, o fato de que um grupo restrito de bancos e grandes empresas, com acesso a créditos no exterior, faz cotidianamente fortunas à custa da viúva aqui, tomando dólares e euros a juros de 4% ao ano lá fora e aplicando-os aqui dentro em títulos públicos que rendem 20% ao ano. Segundo ele, de 45% a 50% (!!!) de nossa dívida pública lastrea hoje operações deste tipo. Num exemplo fictício, Nassif calcula que um investidor que, em 2003, tenha tomado US$ 10 milhões no exterior e os reaplicado no Brasil, três anos depois paga sua dívida lá fora com os juros devidos, sobrando-lhe um lucro de US$ 14 milhões!
É para isso que serve o superávit fiscal conseguido à custa dos impostos noruegueses que o senhor ou a senhora paga e dos serviços públicos africanos que recebe. E depois os juros não caem por conta da inflação e da inadimplência. Acredita quem quer.
Um pouco atrasada, mas essencial. Mais um bonito exemplo de cópula entre capital e comunismo.
Depois do Yahoo entregar o nome de um jornalista dissidente ao governo de Beijing e da Microsoft tirar do ar um blog a pedido dos mesmos camaradas, agora é a vez do Google concordar com a censura chinesa para lançar o endereço google.cn e aumentar seu acesso ao que, em breve, deve se tornar o maior mercado da Internet. A CNN noticia (assista ao vídeo disponível e veja a diferença entre os resultados de busca no google.com e no google.cn).
Enquanto vocês ralavam durante essa semana, eu caminhava pelas espetaculares paisagens do sertão mais profundo de Goiás, na Terra Kalunga, rincão da Chapada dos Veadeiros. Na verdade, foi também a maior ralação. Quatro dias, cerca de 85 km de trilhas percorridas, mochila aí pelos 20 kg, 38 graus sob o sol do meio-dia no Vão do Moleque.
Mas tudo isso no cenário mais espetacular do Cerrado brasileiro, contemplando um cânion que rivaliza com os Aparados da Serra, tomando banhos em águas cristalinas e aliviando os ombros cansados sob maravilhosas cachoeiras nos finais de dia. E na companhia de dois grandes amigos, guiado, acompanhado e recebido pela hospitalidade e sabedoria do povo Kalunga.
Os Kalunga são o maior remanescente de quilombo do país, cerca de cinco mil descendentes de escravos fugidos das minas e engenhos locais, da Bahia e de Minas Gerais. Eles se esconderam nas serras e nos vãos distantes do norte de Goiás e do sul do Estado do Tocantins, próximos ao Rio Paranã.
Aguardem relato completo e fotos para breve.
Hospedaria da Estação, Puente del Inca, Argentina
Descer do sofrimento de uma grande montanha como o Aconcágua imprime enorme valor às pequenas coisas que cruzam nosso caminho. Em Puente del Inca, primeiro resquício de civilização após a descida do campo-base da maior montanha das Américas, a antiga estação ferroviária transformou-se em um refúgio de montanhistas desesperados por comida de verdade, banho, uma cama limpa e ouvidos dispostos a acolher suas angústias, alegrias e sofrimentos. A pequena família que nos recebe ali sabe fazer isso melhor do que ninguém, após tantos anos acompanhando subidas e descidas, sucessos e fracassos, tragédias. Gente do mundo inteiro se reúne ali sob o espírito comum de camaradagem, curiosidade mútua, avidez pelo diferente e pelo novo.
O que me encanta nas mulheres é sua dupla capacidade para a mais profunda razão e o amor mais generoso. As mulheres sabem ser, ao mesmo tempo, pragmáticas e altruístas. São pragmáticas, sem serem frias, e generosas sem ilusão. Ser pragmático é saber que pouco pode ser muito e que tudo na vida depende de escolhas e, por isso, tem um preço. Ser generoso é doar-se incondicionalmente. Elas, curiosamente, se é que entendi alguma coisa, constróem essa generosidade e esse amor desmedido precisamente sobre esse pragmatismo. E isso é o mais curioso e paradoxal. Sabem que não se pode ter tudo e, ainda assim, ou justamente por isso, se entregam e embalam o mundo em seus braços. Nós homens, ao contrário, não nos entregamos a esse paradoxo. Nossa razão, de outro tipo, dificulta essa generosidade e a tranqüilidade das escolhas. Exatamente porque não se pode ter tudo, não vale à pena querer pouco. Estamos condenados. Mas, felizmente, condenados ao lado de mulheres.
