blog do escritor yuri vieira e convidados...

Categoria: Política Page 7 of 83

O delírio, segundo Dawkins

O livro, como um todo, não passa de um grande panfleto. É escrito em linguagem comum e, realmente, não creio que seja sensato esperar de um cientista uma argumentação filosófica erudita e profunda sobre um fenômeno que, claramente, o incomoda apenas em seu aspecto político. Dawkins já resolveu, para si mesmo, a questão; e está discutindo com o cidadão médio que ele acredita ser capaz de cair nas armadilhas retóricas de gente como o tal patriarca da família maluca que o Louis Theroux mostrou no documentário (eu vi e até agora acho difícil acreditar).

Por outro lado isso não invalida o núcleo de sua argumentação. De tudo o que eu li, o argumento que o Dawkins considera mais relevante é contra a inferência do Design, ou seja, a idéia de que podemos derivar da complexidade de um objeto o fato de que ele foi feito por uma consciência racional. O contra-argumento dele envolve uma analogia muito interessante com um 747. Vou citar o Dawkins:

O nome vem da interessante imagem do Boeing 747 e do ferro-velho de Fred Hoyle. (…) Hoyle disse que a probabilidade de a vida ter surgido na Terra não é maior que a chance de um furacão, ao passar por um ferro-velho, ter a sorte de construir um 747.

O cidadão americano

Direto do blog do Hermenauta – e das minhas saudosas aulas de Antropologia no curso de Jornalismo da UFG, em 1991.

O cidadão norte-americano  
Ralph Linton, antropólogo 

“O cidadão norte-americano desperta num leito construído segundo padrão originário do Oriente Próximo, mas modificado na Europa Setentrional, antes de ser transmitido à América. Sai debaixo de cobertas feitas de algodão, cuja planta se tornou doméstica na Índia; ou de linho ou de lã de carneiro, um e outro domesticados no Oriente Próximo; ou de seda, cujo emprego foi descoberto na China. Todos esses materiais foram fiados e tecidos por processos inventados no Oriente Próximo. Ao levantar da cama faz uso dos “mocassins” que foram inventados pelos índios das florestas do Leste dos Estados Unidos e entra no quarto de banho cujos aparelhos são uma mistura de invenções européias e norte-americanas, umas e outras recentes. Tira o pijama, que é vestiário inventado na Índia e lava-se com sabão que foi inventado pelos antigos gauleses, faz a barba que é um rito masoquístico que parece provir dos sumerianos ou do antigo Egito.

Voltando ao quarto, o cidadão toma as roupas que estão sobre uma cadeira do tipo europeu meridional e veste-se. As peças de seu vestuário tem a forma das vestes de pele originais dos nômades das estepes asiáticas; seus sapatos são feitos de peles curtidas por um processo inventado no antigo Egito e cortadas segundo um padrão proveniente das civilizações clássicas do Mediterrâneo; a tira de pano de cores vivas que amarra ao pescoço é sobrevivência dos xales usados aos ombros pelos croatas do séc. XVII. Antes de ir tomar o seu breakfast, ele olha ele olha a rua através da vidraça feita de vidro inventado no Egito; e, se estiver chovendo, calça galochas de borracha descoberta pelos índios da América Central e toma um guarda-chuva inventado no sudoeste da Ásia. Seu chapéu é feito de feltro, material inventado nas estepes asiáticas.

De caminho para o breakfast, pára para comprar um jornal, pagando-o com moedas, invenção da Líbia antiga. No restaurante, toda uma série de elementos tomados de empréstimo o espera. O prato é feito de uma espécie de cerâmica inventada na China. A faca é de aço, liga feita pela primeira vez na Índia do Sul; o garfo é inventado na Itália medieval; a colher vem de um original romano. Começa o seu breakfast, com uma laranja vinda do Mediterrâneo Oriental, melão da Pérsia, ou talvez uma fatia de melancia africana. Toma café, planta abssínia, com nata e açúcar. A domesticação do gado bovino e a idéia de aproveitar o seu leite são originárias do Oriente

Próximo, ao passo que o açúcar foi feito pela primeira vez na Índia. Depois das frutas e do café vêm waffles, os quais são bolinhos fabricados segundo uma técnica escandinava, empregando como matéria prima o trigo, que se tornou planta doméstica na Ásia Menor. Rega-se com xarope de maple inventado pelos índios das florestas do leste dos Estados Unidos. Como prato adicional talvez coma o ovo de alguma espécie de ave domesticada na Indochina ou delgadas fatias de carne de um animal domesticado na Ásia Oriental, salgada e defumada por um processo desenvolvido no norte da Europa.

Acabando de comer, nosso amigo se recosta para fumar, hábito implantado pelos índios americanos e que consome uma planta originária do Brasil; fuma cachimbo, que procede dos índios da Virgínia, ou cigarro, proveniente do México. Se for fumante valente, pode ser que fume mesmo um charuto, transmitido à América do Norte pelas Antilhas, por intermédio da Espanha. Enquanto fuma, lê notícias do dia, impressas em caracteres inventados pelos antigos semitas, em material inventado na China e por um processo inventado na Alemanha. Ao inteirar-se das narrativas dos problemas estrangeiros, se for bom cidadão conservador, agradecerá a uma divindade hebraica, numa língua indo-européia, o fato de ser cem por cento americano.”

LINTON, Ralph. O homem: Uma introdução à antropologia. 3ed., São Paulo, Livraria Martins Editora, 1959. Citado em LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 16ed., Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2003, p.106-108]

Fé no Ministério

Marina

Será que vale o barulho? E se o pastor trabalha de verdade? Cabem cultos religiosos no interior de prédios públicos? Se pode culto evangélico, pode fazer despacho também? O Eco noticia o cargo e as atividades de um pastor da igreja da ministra Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente.

MINISTÉRIO DA FÉ

Aldem Bourscheit

19.01.2008

Um pastor da Assembléia de Deus, mesma igreja freqüentada pela ministra Marina Silva, integra os quadros do Ministério do Meio Ambiente (MMA) desde Agosto de 2005. Ele já usou a estrutura do órgão público para auxiliar na organização de ao menos um evento religioso, em 2007. E, segundo fontes ouvidas no ministério, não foi a única vez. Ele também dirige cultos evangélicos nas salas destinadas ao serviço público federal, freqüentados por servidores de todos os escalões.

A série de palestras, vídeos e debates Os Cristãos e a Criação – Responsabilidade Socioambiental, que começou em 25 de junho e se estendeu até 30 de julho de 2007, lançou a chamada Rede Jubileu da Terra no Distrito Federal. Um panfleto distribuído na ocasião, no Congresso e outros pontos de Brasília, traz o nome do pastor Roberto Vieira e dois números de telefone, um fixo e outro celular. O número fixo é do Ministério do Meio Ambiente, o mesmo divulgado como contato ao pé da página principal da 2º Conferência Nacional do Meio Ambiente – 2ª CNMA, onde Vieira trabalha. O impresso traz um retoque manual, já que os prefixos do MMA foram alterados na mesma época.

O pastor é o carioca Roberto Firmo Vieira, contratado como consultor pelo MMA com dinheiro do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) para ajudar a organizar da Conferência Nacional do Meio Ambiente, evento bienal que reúne ONGs, setor privado e governos estaduais . Aos 50 anos, ele já trabalhou na Empresa de Correios e Telégrafos (1982-1984), no Ministério dos Transportes (2002-2003), na Câmara dos Deputados (2001-2002) e no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (1985-1986), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Sua experiência na organização de eventos inclui experiências como o encontro Com Jesus são Outros 500, na Esplanada dos Ministérios (2000) e ainda a Marcha para Jesus e o Dia dos Evangélicos (2001).

Enquanto a caravana passa…

Francisco Guides, um visitante deste blog, num post sobre o “desabafo de Alexandre Garcia” contra a corrupção geral dos nossos políticos, a falta de segurança, a Constituição Cidadã idiota, os impostos e assim por diante, escreveu: “Enquanto os cachorros latem, a caravana passa”. Isto é, o Alexandre Garcia — e por conseguinte nós, deste blog — somos os cães a latir enquanto a caravana petista comandada por Lula passa. Repliquei: “A caravana dos porcos, faltou dizer. [Vide A Revolução dos Bichos (O Triunfo dos Porcos), de George Orwell, e conheça a radiografia dos lulistas, petistas e esquerdopatas de plantão.]” Mas a verdade é que os esquerdopatas daqui logo logo irão aprender com o amigo do Lula, Evo Morales, a fazer o mesmo que a caravana boliviana de ponchos rojos, literalmente a tribo dele, anda fazendo com os cachorros de lá…

Ah, a gente faz o mesmo com vacas e galinhas, né mesmo? Eu sei, se viva estivesse, a Hilda Hilst cairia morta ao ver uma cena dessas, mas, no fundo, tudo não passa de um mero choquezinho cultural… (Não! O problema, senhoras e senhores, é que eles estão apenas demonstrando o que pretendem fazer com seus oponentes políticos caso seus interesses sejam contrariados.)

Dois docs políticos

A amiga Carolina Paraguassu, diretora e produtora, finaliza seu doc Resistência.doc, sobre a trajetória política do governador goiano Mauro Borges. O trailer pode ser conferido aí acima e o material promete.

Além dele, o polêmico Guerrilha do Araguaia – As Faces Ocultas da História, dirigido pelo Eduardo Castro, terá sua versão televisiva exibida no próximo dia 27, às 21 horas, na TV Cultura, para todo o país. Veja também o trailer na tela acima.

O Paquistão e a iminência das guerras quentes

Artigo de Newton Carlos na Folha de hoje traça quadro sombrio da segurança internacional, tendo como nó central o Paquistão pós-assassinato de Bhuto.

A segurança internacional em ruínas

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os jogos de guerra sobre “riscos paquistaneses” reuniram em Washington um pequeno grupo de especialistas militares e de inteligência, integrantes de uma nova modalidade, a dos atentos à proliferação dos engenhos de destruição maciça e de possíveis descontroles.
Entre os cenários e opções traçados figurou inclusive uma operação de alto risco, a de isolamento dos “bunkers” onde estão as armas nucleares do Paquistão. As áreas em volta seriam seladas de modo inviolável, com “dezenas de milhares” de minas jogadas de aviões e municiadas contra tanques e pessoas.
Um dos luminares dessa nova comunidade, o professor Scott Sagan, da Universidade de Stanford, acha que a melhor maneira de garantir a segurança do arsenal nuclear paquistanês é comportar-se de modo cooperativo com as Forças Armadas do país da Ásia Central, colado ao Afeganistão.
Mas existe o perigo de quebra tanto das instituições políticas quanto militares e não passou despercebido o fato de que a ajuda bilionária dada pelos EUA ao Paquistão se voltou sobretudo para o conflito com a Índia em torno da posse da Caxemira. A Índia, de seu lado, já testa mísseis de interceptação de mísseis, se inscrevendo num clube até agora restrito a EUA, Rússia, Israel e China, O que acontece ultrapassa as fronteiras do Paquistão.
Estamos diante da ruína da arquitetura de segurança mundial, que deveria, pelo contrário, firmar-se com o fim da Guerra Fria. O Paquistão deu curso à proliferação e se tornou segmento de alto risco dessa ruína pelo fato de que podem desintegrar-se as elites política e militar que até agora controlaram um pais que é ninho de islâmicos radicais.
A rachadura inicial aconteceu em 2002, quando os EUA se retiraram do tratado sobre mísseis antimísseis, pedra angular de amplo sistema de segurança e cláusula capaz de conter o “first strike”, a sedução de ser o primeiro a atirar.
Sistemas antimísseis podem absorver ataques e possibilitar contra-ataques e com isso desencorajar “first strikes”. O governo Bush não só eliminou esse elemento de dissuasão como lançou a doutrina dos ataques preventivos e decidiu botar antimísseis na Europa central.
A 12 de dezembro, entrou em vigor a retirada da Rússia do Tratado de Forças Convencionais na Europa, que limita a quantidade de armas pesadas num raio que vai do Atlântico às montanhas Urais. É peça central da arquitetura internacional de desarmamento. A saída da Rússia pode resultar numa corrida às armas na Europa.
O Paquistão nuclear, com riscos de descontrole, se insere num contexto maior de insegurança.

O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais

Também quero ser quilombola!

Junto com votos de um feliz 2008 a todos os leitores e amigos, sugiro fortemente a leitura do artigo “Nossos Bantustões”, escrito por Fábio Olmos, em O Eco, de longe o melhor sítio de notícias sobre meio ambiente na Internet.
O texto desce merecidamente o cacete na reforma agrária clandestina que o governo Lula vem promovendo desde a mudança na regulamentação dos procedimentos de reconhecimento de remanescentes de quilombos no país. Como muitos devem saber, agora basta que uma comunidade se autodeclare “quilombola” para ter direito a território próprio. Não precisa ser gênio para imaginar os prejuízos e desrespeitos que vêm ocorrendo a áreas de proteção ambiental e aos direitos de proprietários.
Em tempo, eu não necessariamente concordo com os pontos de vista dele especificamente sobre o tema da relação entre populações locais e conservação da natureza. Meu documentário “Quando a Ecologia Chegou” trata do tema. Mas isso é outra discussão.
Esta história dos quilombos, como coloca o Fábio, seria mais uma enorme piada na comédia nacional, não fosse trágica de dois pontos de vista: o da conservação da natureza e o do acirramento do racismo e do etnicismo, promovido pelas políticas deste tal ministério da igualdade racial que acredita que racismo de negro com branco vale.
Sobre Reforma Agrária e meio ambiente, sugiro ainda a leitura do meu post “O Dia em que a democracia derrotou o MST”, contando os absurdos cometidos pelo MST no Litoral Norte do Paraná.
Para quem gostar do texto do Fábio, o Paulo já publicou aqui um outro artigo dele sobre as polêmicas e recém-leiloadas hidrelétricas do Rio Madeira.

Mercado ou regulação

PET

E aí, seus liberais? O Governo de SP apresentou projeto de lei à Assembléia Legislativa propondo a proibição do uso de garrafas PET no comércio de bebidas. A justificativa é a poluição gerada. Vale a medida regulatória, neste caso, ou seria melhor esperar que a mão invisível desentupisse os rios? Abaixo a matéria da Folha de hoje.

Projeto proíbe uso e venda de bebida em garrafas PET em SP

Projeto deve ser enviado para a Assembléia no início de 2008; prazo para empresas se ajustarem à lei é de seis anos

Justificativa é preocupação com ambiente; para o presidente da associação que representa fabricantes, a lei acabará com o setor

AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

Projeto de lei do governo de São Paulo obriga as empresas que produzem e comercializam água mineral, refrigerantes e outras bebidas a abolir o uso das garrafas plásticas, conhecidas como PET, num prazo de seis anos. Fabricantes de cerveja que passarem utilizar o plástico antes de a medida entrar em vigor terão um ano para se adequarem à lei.
O polêmico documento deve ser enviado à Assembléia no início de 2008, segundo o secretário do Meio Ambiente, Xico Graziano. “A poluição por resinas plásticas é responsável por inúmeros prejuízos ao ambiente, à saúde e à segurança da população. Praticamente todas as áreas urbanas do país convivem com inundações, provocadas pelo assoreamento de valas, rios e canais e pelo entupimento de galerias pluviais, em muito relacionadas diretamente ao descarte irresponsável de lixo plástico”, diz o texto.
Dados da Abir (associação das indústrias de refrigerantes) mostram que o PET domina o mercado, com 79,9% das embalagens (em dezembro de 2006). O vidro tem 12,3% e a lata, 7,8%.
O consumo de plástico para embalar bebidas tem crescido ano a ano. Passou de 80 mil toneladas, em 1994, para 374 mil, em 2005 -367,5% a mais-, segundo a Abipet (Associação Brasileira da Indústria do PET). A reciclagem desse material foi de 18,8%, em 1994, para 51,3%, em 2006 (veja quadro).
Para o presidente da Abipet, Alfredo Sette, a lei acabará com a indústria de PET. Ele diz que o problema não é o plástico em si, que pode ser totalmente reciclado, mas a falta de educação ambiental e a coleta de lixo ineficiente. “A tendência de crescimento da reciclagem não está interrompida. Há pontos ociosos porque não se coletam garrafas suficientes.”
Segundo ele, enquanto, no Brasil, o consumo de embalagens PET é de 2,9 kg/habitante, na Bélgica, chega a 8,8.
Para o ambientalista Fábio Feldman, o uso do plástico precisa ser desestimulado. Mas ele afirma que o governo deveria instituir metas de reciclagem e usar instrumentos econômicos para priorizar os produtos que poluem menos, em vez de simplesmente proibir o uso.
“Não conheço lugar no mundo em que haja proibição tão drástica. Deveria ser feita uma análise do ciclo de vida dos produtos. Quem tiver menor impacto ambiental deveria ser beneficiado com redução de tributos, por exemplo”, diz.
Segundo o governo, a fabricação das resinas plásticas provoca grande quantidade de gases que agravam o efeito estufa. Além disso, o PET demora centenas de anos para se degradar.
Um argumento a favor do plástico é sua leveza. Para transportar um material mais pesado, como vidro, são necessários mais caminhões -e estes também poluem o ambiente.
Para o presidente da Abinam (Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais), o geólogo Carlos Alberto Lancia, a lei vai beneficiar “três ou quatro grandes empresas” e vai concentrar o mercado nas mãos de poucos. “Vamos voltar ao que era na década de 60. Uma fábrica para produzir embalagens de vidro custa milhões. E é preciso muito mais estrutura para coletar garrafas retornáveis.”

Casa de Ferreiro…

MS

Sou Geógrafo. Desta forma, evidentemente deveria ter lido Milton Santos durante a graduação. Para quem não o conhece, Milton Santos é o nome mais importante da Geografia no Brasil e um pensador respeitado nos meios acadêmicos do mundo todo. Santos foi o único não anglo-saxão a receber o Prêmio Vautrin Lud, uma espécie de Nobel da Geografia.

Confesso que, em meus anos de faculdade, não tinha muito saco para seus livros. Dada minha preferência pela mesa de sinuca do DCE às aulas de Metodologia e de Geografia Urbana, não posso opinar sobre a validade e importância da contribuição do Doutor Milton Santos à Ciência do espaço, mas creio poder afirmar que suas reflexões políticas não são lá grande coisa, sobretudo após assistir ao documentário “Encontro com Milton Santos ou o Mundo Global visto do lado de cá”, dirigido por Silvio Tendler.

Silvio é comunista de carteirinha. Apesar disso, fez pelo menos um documentário muito bom, claro que sobre um tema menos político: o obrigatório “Glauber – Labirinto do Brasil”. (Aliás, dessas coisas risíveis, pois à época de sua morte Glauber apanhava tremendamente da esquerda por sua aproximação com a ditadura, coisas como “Golbery é gênio da raça”, etc. Davam-lhe pau que só. Foi o cara morrer e estavam todos lá no enterro dele, como aí estão até hoje a incensá-lo. Hipócritas).

Sobre Milton Santos, cabe contar uma hilária anedota verídica: meu pai, certa vez, compôs a banca de entrevistadores do programa Roda Viva, cujo centro era o professor Milton Santos. Findo o programa, hora de ir embora, calhou terminarem os dois, meu pai e Milton, no mesmo carro da TV Cultura, pois iam para a mesma direção.

Meu pai deu ao motorista a indicação de seu hotel e o geógrafo informou que morava em uma travessa da Rua São Gualter, nas proximidades da Praça Panamericana.

Passa o carro a referida Praça e começa a subir a São Gualter. Chegam ao final, e nada do professor indicar sua casa.

“Professor”, o motorista o chama olhando pelo retrovisor, “já chegamos ao final da São Gualter. O senhor não disse que sua casa era por aqui?”

O Dr. Santos parecia confuso olhando à volta o bairro de Pinheiros. Pediu que retornassem em direção à Praça, onde chegaram sem que o geógrafo localizasse sua rua. Pediu então, para espanto de meu pai e do motorista, que parassem, e desceu do carro. Durante alguns minutos, ficou olhando ao redor, tentando se localizar.

Meu pai por fim perguntou: “O senhor mora aqui há pouco tempo?”.

“Há 20 anos”, respondeu ele, e completou: “É que é minha mulher quem dirige”.

Finalmente, depois de alguns minutos, pareceu se encontrar e conseguiu, não sem mais algumas voltas, chegar à sua residência.

O grande teórico da ciência do espaço não sabia onde ficava sua casa… Casa de ferreiro, espeto de pau.

Feito o parêntese, o filme de Sílvio Tendler tem encontrado boa acolhida em festivais aqui e fora. Ganhou o Prêmio do Juri Popular, no Festival de Brasília. É o de se esperar, diante do pensamento anencéfalo de esquerda reinante.

Para não me alongar, cito a frase de um amigo à saída do cinema: “Entre um delírio e outro fico com ‘Estamira’“, refererindo-se ao ótimo documentário de Marcos Prado sobre a psicótica habitante do lixão de Gramacho, na Baixada Fluminense, todo construído em cima do discurso esquizofrênico da mulher. O filme de Silvio Tendler é um panfleto delirante. Não perca seu tempo. Só o Yuri aguentou até o fim a enfiada interminável de imagens de protestos na Bolívia, em Davos, em Seattle, e as inserções do finado Dr. Milton desfiando seu catecismo sobre a perversidade da globalização.

Ou há algo muito errado com a Geografia, ou o homem era esquizofrênico: brilhante pra falar do espaço, delirante pra falar de política. Que Deus o tenha.

A logomarca das Olimpíadas de Beijing

Recebi esta imagem do Diogo Chiuso:

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