blog do escritor yuri vieira e convidados...

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Paris

Quando estivemos em Paris me recusei a sair do hotel. Tomava café e voltava para o quarto, pedia espaguete ou pizza pelo telefone e preferia a televisão à janela. À noite ela chegava, “Estou exausta”, e me narrava em detalhes o tour do dia. Mostrava as fotos que havia tirado, falava dos vestidos lindos “mas caríssimos!” que vira na Galerie des trois quartiers ou na Champs Elysèes. Às vezes me trazia doces exóticos do bairro árabe, ou roçava-me o punho ao nariz, mostrando porque não conseguira se decidir entre os perfumes, “Todos maravilhosos…”

E Paris ficou sendo, para mim, essa mulher que me trazia Paris. Sua inacreditável voz de criança me descrevendo os monumentos da cidade, seu hálito permanentemente doce, seus olhos grandes de libanesa, seu corpo mole de cansaço, que estalava com o meu massagear… E, à noite, quando ela se despia para dormir e seu relatório finalmente terminava, era só então que eu realmente me interessava por Paris — minha exclusiva e deliciosa Paris.

Política, Moralidade e Roberto Romano

Li a entrevista do Roberto Romano na edição impressa da revista Primeira Leitura e, a certa altura, ele comenta sobre a interpretação que o Padre Lima Vaz faz da recepção romana do termo ethos. Gosto imensamente de Lima Vaz. Seu livro Antropologia Filosófica (a primeira disciplina filosófica que ensinei na vida) é um dos meus favoritos. Romano indica justamente sua filiação hegeliana como uma distorção interpretativa do termo ética, obrigando o jesuíta a separá-la do termo moral. O trecho está em vários livros, mas principalmente em Escritos de Filosofia II – Ética e Cultura:

A primeira acepção de ethos (com eta inicial) designa a morada do homem (e do animal em geral). O ethos é a casa do homem. O homem habita sobre a terra acolhendo-se ao recesso seguro do ethos. (…)

(…) É, pois, no espaço do ethos que o logos torna-se compreensão e expressão do ser do homem como exigência radical do dever-ser ou do bem. Assim, na aurora da filosofia grega, Heráclito entendeu o ethos na sua sentença célebre ethos anthrôpo daímôn. O ethos é, na concepção heraclítica, regido pelo logos e é nessa obediência ao logos que se dão os primeiros passos em direção à Ética como saber racional do ethos.

O Paradoxo da Pergunta

Li este texto que vai a seguir há algum tempo e ele sempre me impressionou pela maneira criativa como consegue apresentar um dos paradoxos mais interessantes da lógica. Ei-lo:

The Paradox of the Question
Ned Markosian

Once upon a time, during a large and international conference of the world’s leading philosophers, an angel miraculously appeared and said, “I come to you as a messenger from God. You will be permitted to ask any one question you want – but only one! – and I will answer that question truthfully.

Mulher do padre 2

quase um ano já, cansado de tentar convencer meus amigos a lerem o Olavo de Carvalho – de quem li apenas sete ou oito livros (os dois primeiros emprestados pelo poeta Bruno Tolentino em 1999) -, desabafei aqui: “para mim, quem não lê as colunas semanais do O.de C. é mulher do padre”. O irônico é que, sem que eu soubesse de pronto, foi este o único argumento que de fato levou ao menos dois de meus amigos a iniciar a empreitada, o que talvez signifique duas coisas: 1) sou um péssimo dialético, 2) mas um bom retórico, já que apelei com sucesso aos subterrâneos de suas psiques ao utilizar desafio tão primário, tão infantil. E isto, claro, significa uma terceira coisa: embora lhe sinta o cheiro, ainda estou muitíssimo aquém da filosofia…

Mas sem papo furado, quero apenas – diante do excelente artigo do Olavo desta semana, Se você ainda quer ser um estudante sério…, aliás, finalmente um artigo que mostra extensivamente (e não intensivamente, como é o costume dele) aos que nunca tiveram coragem de se aproximar de ao menos um de seus livros qual é o fundo de onde salta esse grande figura – quero apenas repetir: para mim, qualquer intelectual brasileiro que nunca tenha lido sequer um livro do Olavo é mulherzinha do padre. E só. (Ok, agora vá dar pro padre, se é que lhe assentou a carapuça.)

E viva a Capitu!

Todo mundo que já foi forasteiro em algum lugar sabe do melindre – às vezes constante, às vezes raro, mas sempre sentido – nas relações com os locais. O famoso “choque cultural” nunca escolhe suas vítimas e, por mais que nos queiramos “descolados”, sempre experimentamos os seus conhecidos estágios: a surpresa inicial, a negação e, por último, a tentativa de adaptação.

Noutro dia, a mãe do senhorio veio expressar seu descontentamento com o estado do nosso jardim. Falava sério, com um tom de voz acima do normal para uma octogenária e com o habitual olhar sorrateiro.

Comentando o episódio com o Marc, lembrei da minha desconfiança nos olhares de soslaio(“…oblíquos e dissimulados”). Só então descobri que isso não é característica pessoal da desagradável “tia da Thatcher”, mas que é o usual por estas bandas. Que coisa! O feio aqui é encarar!!

Frenologia

É o estudo da personalidade humana revelada pelos contornos do crânio. Encontrei esta curiosa informação num dos meus inúmeros blocos de anotações (não sei de onde tirei):

Walt Whitman pagou três dólares para que Lorenzo Fowler apalpasse as protuberâncias de sua cabeça. Resultado: “um bom domínio da linguagem” e “escolheria lutar com a boca e a caneta”. Whitman publicou o resultado várias vezes e teve a primeira edição de “Folhas da Relva” (1855) distribuída pela Fowler & Wells.

Uma coisa que não falta é escritor acreditando em teorias estranhas. Pirar é humano. E literário.

Ms. Dalloway e o ACM

Amanheceu bonito e frio na Terra Média. Solzinho bom com neblina! Não houve vontade nenhuma de levantar da cama…E o artigo pros “Gargantas de Fogo”? Descobri um escândalo antigo envolvendo o governo kiwi e as empresas de imagens de satélite, podia escrever sobre isso!

E depois, tem a campanha chauvinista do eDitador e seus comparsas (Pô, Monica Bellucci, Paulo? Pegou pesado, heim?!)! Caramba, que pressão! E eu só quero ficar no jardim, lagarteando e tomando chá, de pijaminha e sem compromisso, esperando o Marc vir almoçar e me atualizar sobre o mundo lá fora…

E a imagem da Ms. Dalloway me vem à cabeça como uma premonição, uma praga rogada há muitos anos pela doida da Wolf e destinada a gente como eu! Tá bom, fui vaidosa e arrogante agora! Desculpem-me! Não sei fazer arranjos florais como ela e nem eram assim tão brilhantes meus apartes nos cafés com os meninos…

Lugares-Memória IX

Campo Santo de Yungay, Peru
A trágica notícia do deslizamento de terra nas Filipinas, que matou cerca de 1800 pessoas, me fez lembrar de um dos lugares mais estranhos que já conheci.

Em meio à paisagem grandiosa dos Andes peruanos, no sopé do Nevado Huascarán (6.768 m), montanha mais alta do Peru e quinta das Américas, se esconde a simpática e colorida vila de Yungay, uma das principais cidades do Callejón de Huaylas, o vale agrícola cortado pelo Rio Santa, que percorre todo o lado oeste da Cordillera Blanca.

Google Watch


Para quem curte uma paranóia, nada como uma passada pelo site da Google Watch, um site cheio de textos e argumentos assustadores para quem, assim como eu, é usuário de diversos serviços da Google. Por exemplo: você sabia que ao deletar para sempre um email do Gmail ele só desaparece do seu webmail virtualmente? Ou seja, segundo esses caras tudo o que você deleta continua disponível para o staff da Google, do qual, aliás, fazem parte ex-funcionários da CIA e da famigerada National Security Agency. Que meda, hem.

No podemos tener amigos!

O Paulo Paiva, que esteve em Cuba com nossa amiga comum Andréa Leão, é que deveria contar essa história. Mas já que ele está enrolando – e tem mil outras cubanidades para narrar – vou contar ao menos essa, que muito me marcou. Ambos estavam em Havana, hospedados no apartamento de Alexey, um amigo cubano – que conheceram aqui mesmo no Brasil – e se preparavam para ir passar alguns dias com outros amigos do outro lado da cidade. Como Alexey (o amigo) tinha carro, imaginavam que ganhariam uma carona até lá. As malas feitas, a bagagem pronta, ouvem do anfitrião:

“Desculpe, não poderei levá-los, mas vocês vão conseguir um taxi fácil-fácil aí na rua”.

Andréa e Paulo acharam normal, tudo bem, disseram, não queriam incomodar o cara que certamente teria mais o que fazer. Mas Alexey permanecia constrangido, uma expressão de consciência pesada estampada no rosto.

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